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Entre as 200 melhores invenções do ano selecionadas pela revista Time, no seu habitual “The Best Inventions of…”, há duas inovações têxteis: o Literally Cotton e o Cycora, que em comum têm a capacidade de transformar a indústria da moda e torná-la mais sustentável, além de contarem com o apoio financeiro do grupo Inditex.
Segundo a Ellen MacArthur Foundation, o equivalente a um camião do lixo cheio de têxteis é enviado para aterro ou queimado a cada segundo, todos os dias do ano. Deste modo, o poliéster convencional – a fibra mais produzida a nível mundial, representando 57% da produção total de fibras – presente nesses têxteis, que não é biodegradável, infiltra-se nos solos e nas águas subterrâneas, contribuindo para a contaminação, nomeadamente por microplásticos. O processo Cycora aborda este problema ao separar e liquefazer os resíduos têxteis ricos em poliéster da roupa descartada, reciclando-os. Os fios e tecidos resultantes têm “a mesma qualidade de um material virgem”, garante Nava Esmailizadeh, diretora de marca na Ambercycle – a empresa por detrás do Cycora –, citada pela Time. A Inditex assinou um contrato de mais de 70 milhões de euros para adquirir Cycora da nova unidade de produção, que deverá entrar em funcionamento em 2025. Entretanto, a marca dinamarquesa de moda feminina Ganni utilizou esta nova matéria-prima na sua coleção primavera/verão 2025, apresentada na Semana da Moda de Paris em setembro.
Como o próprio nome indica, o Literally Cotton é, a nível celular, idêntico ao algodão cultivado tradicionalmente há milénios. Contudo, não é produzido de forma convencional, um processo que pode contribuir para a desflorestação e requerer grandes quantidades de água e produtos químicos. A versão da Galy é algodão cultivado em laboratório, começando como uma amostra celular de uma planta cultivada em campos agrícolas. Essas células multiplicam-se em vasos de fermentação sucessivamente maiores, num processo análogo à produção de cerveja.
“A agricultura celular oferece a melhor forma de enfrentar os desafios ambientais em grande escala, produzindo um material com as mesmas características do algodão convencional,” afirma Luciano Bueno, fundador da Galy, também citado pela Time. “Com todo o respeito pela agricultura, acreditamos que conseguimos produzir o mesmo numa instalação laboratorial, mas melhor”, sublinha.
Embora ainda não esteja disponível comercialmente, o interesse já se faz notar. A Inditex adquiriu, em julho, uma participação na Galy e, em setembro, a start-up norte-americana conseguiu angariar 33 milhões de dólares numa ronda de financiamento.
Moda consumida com sustentabilidade
A moda de 2024 está a ser marcada por inovações sustentáveis que prometem transformar a forma como produzimos, consumimos e interagimos com o vestuário. A lista da Time para as melhores invenções do ano apresenta três inovações, num total de quatro, que se destacam pela capacidade de reduzir o impacto ambiental sem comprometer a funcionalidade ou a estética.
A TomTex propõe uma alternativa biológica e biodegradável ao couro convencional, utilizando quitina extraída de cogumelos e cascas de camarão descartadas. Este material, esteticamente versátil e funcional, pretende reduzir os danos ambientais causados pela indústria de couro animal, estimada em cerca de 500 mil milhões de dólares e associada às emissões de gases de efeito estufa e à desflorestação. Marcas como BMW e Comme des Garçons já estabeleceram parcerias com a TomTex.
O Carbonfact oferece, às marcas, uma forma simples de monitorizar o impacto ambiental dos seus produtos. Este painel digital, desenvolvido com base em investigações rigorosas, integra-se nos sistemas internos das empresas para calcular, em horas ou até em minutos, as emissões de carbono associadas à produção e transporte de cada peça. O que antes demorava semanas ou meses agora é feito com agilidade, permitindo que mais de 150 marcas, como Columbia e New Balance, utilizem esta ferramenta para alinhar as suas práticas empresariais com os objetivos de sustentabilidade.
A ThredUp, por sua vez, usou a inteligência artificial para criar a ferramenta Easier Secondhand Shopping, que facilita a compra de roupa em segunda-mão. Os utilizadores podem encontrar peças específicas usando palavras-chave ou imagens, o que torna a experiência mais eficiente e atrativa. Desde o seu lançamento em agosto, a plataforma registou um aumento de 38% nas pesquisas por sessão face ao ano anterior.
200 invenções em 29 categorias
A lista anual da Time sobre as melhores invenções é um tributo à imaginação e ao engenho humano, destacando soluções que moldam o presente e apontam para o futuro. Este ano, as 200 inovações selecionadas abrangem 29 categorias: eletrónica de consumo, beleza, aplicações e software, entretenimento e jogos de computador, saúde doméstica, design, bem-estar social, alimentação e bebidas, casa e jardim, projetos experimentais, acessibilidade, inteligência artificial, cuidados médicos, fitness, atividades ao ar livre, parentalidade, robótica, conectividade e comunicações, educação, sustentabilidade, energia verde, brinquedos e jogos, automóvel, privacidade e segurança, produção e materiais, aeroespacial, moda, agricultura e menções especiais.
Estas soluções refletem o compromisso global em enfrentar os desafios contemporâneos com criatividade e responsabilidade, promovendo um futuro mais sustentável, conectado e acessível para todos. Seja com materiais revolucionários, como o Literally Cotton e o Cycora, ou através de ferramentas digitais que promovem a transparência e o consumo consciente, como o Carbonfact e a Easier Secondhand Shopping, a seleção deste ano reafirma o poder transformador da tecnologia e coloca a sustentabilidade no centro da inovação.