Bebiana Rocha
No âmbito das jornadas ‘Têxtil do Futuro: Desafios para o crescimento sustentável’, a APLOG dinamizou ontem na feira Empack e Logistics, na Exponor, um debate em torno do futuro dos resíduos têxteis. Ana Dinis, da ATP, Marta Résio, da GS1 Portugal, Hugo Martins, da Salsa Jeans, e Manuel Teixeira da ANIVEC, integraram o painel moderado por António Braz Costa, do CITEVE.
A diretora-geral da ATP apelou à adoção de um modelo justo em matéria de sustentabilidade por parte da Comissão Europeia, que privilegie os esforços da ITV portuguesa e europeia. “Temos muitos travões para dar os grandes passos que a União Europeia quer dar, sobretudo a nível tecnológico. Um produto tem de ser sustentável em todas as dimensões, tem de manter as capacidades técnicas, a durabilidade e ter um preço competitivo”, alertou, mostrando-se especialmente preocupada com a eco modelação.
“Temos de fazer parte desta transformação uma vez que somos os utilizadores das fibras e estamos nos processos de cocriação com as marcas. Temos de estar no meio da discussão”, continuou. Já sobre o Passaporte Digital de Produto, Ana Dinis considera que os operadores têm de estar todos mobilizados para reportar os dados com a máxima veracidade.
Marta Résio deu continuidade à temática do DPP: “é o momento de agregarmos todos os dados num Passaporte, precisamos deste instrumento. Vemos com otimismo a implementação do DPP, é a chegada a um denominador comum, um ponto de consenso”. Reconhece ainda que “a UE tem sido pioneira a evidenciar aquilo que alega”.
A diretora de sustentabilidade e comunicação da GS1 identifica, no entanto, que existe uma falta de preparação maior ao nível institucional do que dos próprios operadores e que continua a haver uma carência de apoio tecnológico trans sectorial para a sua implementação – “não é justo colocar o peso do lado dos operadores”. No futuro Marta Résio espera que os decisores e as autoridades deem um apoio efetivo aos operadores para que a implementação do DPP ocorra de forma ágil.
Hugo Martins foi convidado a falar sobre a temática do monomaterial e da possibilidade de se chegar a uns jeans sem elastano. O CEO começou por dizer que as percentagens de elastano nos jeans da Salsa são baixos, o que não constitui um entrave à reciclabilidade. Falou também que é preciso formar as equipas para este tema do monomaterial, porque até agora estiveram formatadas para balancear percentagens de diferentes matérias-primas de acordo com as características que queriam conferir ao produto. “Estamos a destruir décadas de conhecimento”, acrescentou.
E convergiu de seguida para a temática anterior: “o DPP devia ser um primeiro passo para o consumidor tem o mínimo de informação comum”, mas não basta implementá-lo, é preciso uma visão estratégica, definir para que serve. Deixou também claro que o passaporte não vai substituir as certificações, que são mais exigentes, quanto muito “poderá ser uma certificação de nível zero”.
Novas certificações vão continuar a surgir, segundo o próprio, e vão extrapolar para os campos mais diversos. “Hoje em dia haver uma certificação universal é utópico”, terminou. O último assunto abordado por Hugo Martins foi o facto dos grandes operadores europeus serem de valor baixo. O que coloca em desvantagem os operadores nacionais, sobretudo marcas como a Salsa “que são de matriz industrial”.
O coordenador da Estratégia ModaPortugal, Manuel Teixeira, diz que no final a regulação é que vai contar, o consumidor vai ter de se preparar para comprar menos e pagar mais. Falou no efeito Trump e nas grandes plataformas de e-commerce que não pagam IVA. “Estamos como nunca imaginamos”, disse apontando também para o problema da falta de verdade na têxtil.