04 novembro 25
Sustentabilidade

Bebiana Rocha

APED quer juntar toda a cadeia de valor, envolvendo o consumidor e o retalho

A Agência para o Clima e a APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição iniciaram em setembro um projeto-piloto dedicado à devolução e reciclagem de produtos têxteis, com duração prevista de um ano. Nesta fase inicial, o projeto encontra-se em processo de identificação dos stakeholders e associados interessados em testar soluções holísticas que respondam ao desafio da economia circular no setor têxtil.

“O que se pretende é juntar toda a cadeia de valor, envolvendo o consumidor e o retalho”, afirma Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, em declarações ao T Jornal. “Sabemos que há bastante trabalho a ser feito, quer do ponto de vista da indústria, quer do ponto de vista das soluções tecnológicas”, acrescenta.

A ambição do projeto passa por definir caminhos para soluções integradas de gestão dos resíduos têxteis, assegurando custos controlados e reforçando a responsabilidade alargada do produtor, de modo a complementar o ciclo de vida dos produtos.

Embora ainda não estejam definidas as empresas que irão participar ativamente no piloto, a APED revela que vários retalhistas do comércio têxtil já manifestaram interesse e integram atualmente a fase de cocriação e análise de operacionalização do projeto.

A associação é responsável pela conceção e implementação do piloto nas regiões do Grande Porto e da Grande Lisboa, onde será testada a circularidade dos resíduos têxteis e o seu encaminhamento para reutilização e reciclagem.

Cabe também à APED assegurar a interação com os diferentes stakeholders e com toda a cadeia de valor, em especial no contacto direto com o consumidor. Está ainda prevista uma campanha de sensibilização e informação pública, que recorrerá às redes sociais, a um website dedicado e à sinalização nas lojas participantes.

Do ponto de vista dos consumidores, a interação nas lojas de retalho identificadas deverá arrancar em março de 2026, permitindo testar na prática os mecanismos de devolução e recolha de produtos têxteis e avaliar a recetividade do público às novas soluções circulares.

Entre os principais desafios identificados, Gonçalo Lobo Xavier destaca a escassez de soluções económica e socialmente viáveis em determinados pontos da cadeia de valor, bem como a ausência de tecnologias operacionais em larga escala.

Por sua vez, a Agência para o Clima assume as funções de monitorização, acompanhamento, financiamento e fiscalização do projeto.

Num plano de maior ambição, está também a ser explorado um cenário ibérico, com o objetivo de avaliar os recursos disponíveis em Portugal e identificar boas práticas em Espanha, de forma a contribuir para a escalabilidade futura da iniciativa.

Questionado sobre o papel da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, o diretor-geral da APED considera que “a ATP é um parceiro fundamental para a partilha de informação e dados e será necessariamente essencial neste processo”. Sublinha ainda que “não será o único parceiro do universo da indústria têxtil, já que também serão envolvidas entidades associativas, de inovação, conhecimento e transferência tecnológica”.

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