Raposo Antunes
Foto: Rui Apolinário
A Têxteis Lar S. José faz jus ao seu nome. Logo à entrada da sala de clientes desta empresa de Amarante há uma espécie de altar improvisado com um figura de S. José em cerâmica, uma outra de Nossa Senhora e uma vela permanentemente acesa.
Susana Leite da Cunha, 73 anos, proprietária desta unidade industrial juntamente com as suas três filhas (Celeste, Alzira e Sandra), colocou neste espaço privilegiado de negócios, além do pequeno altar, muitos outros ícones religiosos. Mais: a própria proprietária não só diz como tem escrito num pequeno quadro também colocado naquela sala de visitas da fábrica que “os corações de Jesus e Maria são os donos desta empresa”.
A fé de Susana Leite da Cunha marca o próprio ritmo de trabalho desta empresa (com cerca de quatro dezenas de funcionários) que faz roupa de cama, cozinha e banho (com a marca própria Têxteis Lar S. José) e que deverá fechar as contas de 2016 com um volume de vendas acima de 1,5 milhões de euros, valor atingido em 2015.
A primeira coisa que a dona desta empresa têxtil, sediada em Figueiró (Amarante), faz quando chega à fábrica na manhã de cada segunda-feira é rezar o terço com as suas funcionárias, algumas das quais trabalham com ela desde a fundação da empresa em 1986. A maioria das restantes trabalhadoras são filhas destas ou de outras antigas funcionárias que entretanto deixaram de trabalhar com o passar dos anos.
A afável Susana não o verbaliza desta forma, mas a sua história de vida é a prova de que “a fé move montanhas” e, no caso, também têxteis. Casou com 18 anos e pouco tempo depois o marido foi para a tropa. Estávamos em 1961, no início da guerra colonial, à qual este escapou. Sozinha, “e muitas vezes descalça”, começou a vender toalhas com bordados da Lixa, calcorreando diversas localidades serranas do concelho de Amarante.
A fé, diz a própria, e a sua força de vontade, dizemos nós, levaram-na a mudar o rumo da sua vida. Em 1986, num salão da sua casa em Figueiró instalou-se e criou a empresa. A esse salão juntou mais um noutra casa, que entretanto construíra, e de quatro funcionárias passou para 15. O passo seguinte foi adquirir uns terrenos contíguos às duas casas e edificar os pavilhões onde funciona hoje a unidade industrial Têxteis Lar S. José, na qual trabalham os 41 funcionários, a maior parte dos quais são mulheres.
Hoje as filhas Celeste e Alzira trabalham por conta própria, abastecendo-se de produtos na fábrica gerida pela mãe e da qual são também proprietárias. A filha mais nova (Sandra) e o marido trabalham na Têxteis Lar S. José, que vende cerca de 65% do que produz para o mercado interno. O resto é exportado sobretudo para Espanha. Mas a aposta da empresa é aumentar as exportações. Daí a presença em diversas feiras internacionais como a Heimtextil (Frankfurt), a Maison & Object (Paris). Em todas elas, Susana deixa a sua marca nas conversas com os clientes: um sorriso bondoso e uma sonora gargalhada.