Bebiana Rocha
Imagem: Egídio Santos
A diretora-geral da ATP, Ana Dinis, abriu o 27.º Fórum da Indústria Têxtil, na passada sexta-feira, com um exercício de memória para celebrar os 60 anos de percurso associativo. Relembrou o nascimento da APIM – Associação Portuguesa das Indústrias de Malha e Confecção, em 1965, a criação da APT – Associação Portuguesa dos Têxteis e Vestuário, no ano seguinte, e a sua fusão, em 2003, que deu origem à ATP, e que em 2005 integrou também os grossistas (ANET). Uma história, segundo a própria, marcada por cooperação, compromisso, adaptação e crescimento coletivo. “O setor soube articular-se”, afirmou, enfatizando a resiliência da fileira num mundo em constante transformação.
“Portugal é hoje um país mais aberto, mais competitivo e com um setor empresarial mais sofisticado do que há seis décadas”, continuou enaltecendo o contributo da indústria enquanto ecossistema exportador e flexível. “De um setor predominantemente virado para o mercado interno, protegido por tarifas e quotas, passou a um ecossistema exportador, especializado, flexível e inovador. Sobreviveu a momentos difíceis e respondeu com investimento em qualidade, diferenciação, sustentabilidade, inovação, rapidez de resposta, serviço e parcerias com marcas globais. Continua a ser o principal cluster industrial da região Norte e é hoje um ativo estratégico para a economia nacional e europeia”, disse Ana Dinis.
O discurso prosseguiu com a lembrança de que tempos difíceis, como os que atravessamos atualmente, reforçam o papel vital das associações: “Num contexto de incerteza permanente, de transições múltiplas, nenhuma empresa, por mais forte que seja, consegue enfrentar sozinha os desafios estruturais que o setor atravessa.”
A diretora sublinhou ainda que nem todo o trabalho da ATP é visível, mas é necessário. Há uma componente técnica, um acompanhamento constante, uma capacidade de influência que nem sempre se vê, mas que, ao longo dos anos, produziu resultados. “O que fazemos não se vê apenas nos fóruns públicos ou nas declarações à imprensa. Está no trabalho técnico, muitas vezes invisível, mas vital: no acompanhamento da legislação europeia e nacional, na defesa de políticas públicas que favoreçam a competitividade e a sustentabilidade, no apoio direto às empresas – seja em temas laborais, fiscais, ambientais, energéticos ou outros –, na promoção internacional do setor, na presença em feiras, nas missões comerciais e na captação de investimento e encomendas, nos projetos de capacitação, inovação e cooperação”, exemplificou, deixando um agradecimento à equipa e aos associados, “que participam, contribuem, desafiam e mobilizam”.
Esta edição assinalou também o Dia do Profissional Têxtil, instituído pela ATP em 2018. Ana Dinis agradeceu o contributo de todos os trabalhadores que fazem o setor acontecer, deixando, contudo, o seguinte comentário: “Gostava sinceramente de ver mais profissionais aqui hoje. Celebramos esta data apenas uma vez por ano – e este ano fizemos um três-em-um para facilitar a vida a todos”.
A sessão de abertura serviu ainda para apresentar os números-chave que ajudam a perceber a dimensão do setor, os resultados das exportações e os dados do mais recente inquérito de atividade da ATP, que confirmam um cenário de elevada incerteza e prudência. “60% das empresas indicaram que registaram uma quebra na produção e no volume de negócios no primeiro semestre, e as expectativas para o segundo semestre não são muito diferentes. Cerca de 20% das empresas estão a considerar recorrer ao regime de lay-off”, resumiu.
As dificuldades com mais impacto nas empresas são: a quebra de encomendas, o aumento dos custos laborais, o preço elevado da energia, a redução das margens de lucro e as dificuldades de tesouraria.
Apesar disso, Ana Dinis confirma que “há ainda talento, visão e energia” e que é possível reimaginar o caminho: “O futuro da nossa indústria não está escrito. Vai ser moldado pelas escolhas que fizermos – nas empresas, nas escolas, nas associações e nas instituições públicas. Esta é uma responsabilidade coletiva. Precisamos de partilhar mais, de mobilizar mais, de discutir mais”, apelou, incentivando todos a participarem mais na vida associativa.