Jorge Silva
Tiajo: 30 anos de grande trabalho diário
T73 - Junho 2022

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Sociedade familiar detida por marido e mulher e com o nome dos filhos filhos, Tiago e Jorge, inscritos na designação social, a Tiajo está agora a precisar de acrescentar o SA. Um acrescento que é sugerido em tom de brincadeira, não por necessidade de qualquer mudança organizacional ou alteração do estatuto, mas apenas porque entretanto nasceu a Sara, 17 anos, a única da família que não tem o nome associado à empresa.

É fácil, acrescenta-se o SA”, brinca o patriarca dando conta da fortaleza dos laços que ligam a família à empresa. Tanta que mesmo tratando-se de um universo ainda jovem, também a transição se mostra já plenamente assegurada. E até de uma forma completa. Tanta, que o filho é também Jorge Silva e é hoje pilar fundamental da modernização, crescimento e funcionamento da Tiajo. Partiu dele o grande impulso para a construção e organização das novas instalações, concebidas com um funcional centro logístico que acolhe em permanência quatro a cinco milhões de metros de tecidos, nos quais assenta o crescimento que levou até aos 16 milhões de euros que atinge hoje a facturação da empresa.

O que é a Tiajo e como se enquadra na cadeia da têxtil? 

Antes de mais é a junção dos nomes dos meus filhos Tiago e Jorge. Trabalhamos com tecidos especializados para workwear, tudo tem a ver com fardamentos de trabalho, essa é a área específica da Tiajo. Mas se quisermos ir à origem e recuarmos uns 30 anos vemos um grande trabalho diário, muito esforço que resultou em algo incrível, uma coisa que nem em sonhos julgava então ser possível, uma empresa ao nível que hoje está e que é consequência da conjugação de muitos ingredientes.

Quem são, então, dos vossos fornecedores e os vossos clientes? 

Basicamente aqueles que desenvolvem as nossas colecções e os nossos parceiros confeccionadores. Concebemos e desenvolvemos as nossas colecções e contratamos para a execução desses tecidos e telas, que depois fornecemos aos confeccionadores, também a alguns armazéns de revenda, mas maioritariamente às confecções.

Sempre tecidos, não estamos a falar de produto acabado?

Só tecidos, só vendemos tecido. Diria que no fundo somos os parceiros dos confeccionadores de vestuário de trabalho.

Isso pressupõe o desenvolvimento e criação de novos produtos. É por vossa iniciativa ou são desafios que são colocados pelos clientes?

Basicamente temos de estar muito atentos ao mercado e procurar oferecer produtos que vão de encontro às suas necessidades.

Tiajo: Especialistas em workwear
Inovação sempre em vista
Há naturalmente os mais convencionais, que têm dezenas de anos e acabam por ser os de maior consumo, mas procuramos sempre em função dos desafios que vamos tendo identificar as necessidades dos clientes e oferece-lhes produtos que a elas possam responder. Depois é só esperar que tenham sucesso comercial.

Os desafios podem ser de natureza diversa, características ignífugas, antiestáticas, antinódoas, mas também produtos com maior resistência à luz à lavagem, etc. Procuramos ir de encontro às necessidades dos clientes, mas há também muitos casos em que desenvolvemos produtos específicos para o cliente.

Algum caso emblemático que queira explicar? 

Há muitos, não será boa ideia individualizar, mas veja-se, por exemplo, o caso das petrolíferas que necessitam sempre de tecidos muito específicos. É claro que nestes casos estamos a falar de produtos muito complexos e há também a questão dos preços. O importante acaba por ser o ajustamento entre preço e as necessidades do cliente.

Bons negócios, portanto? 

Todos os negócios são bons desde que o produto corresponda às necessidades do cliente e seja vendável. Este acaba por ser desafio de todas as empresas, perceber o que o mercado pede e oferecê-lo a um preço justo. As empresas vivem de objectividade e não de fantasias ou da poesia que muitas vezes acaba por entrar no mercado. Temos de perceber se o produto é efetivamente uma necessidade ou apenas uma moda. A poesia pode muitas vezes até funcionar em termos de markting, mas no meu modesto entender não será esse o caminho para as empresas.

E no caminho de crescimento da Tiajo há algum produto em particular que o tenha surpreendido? 

A surpresa tem sido uma constante, diria que ao longo destes trinta anos todos os dias têm sido uma boa surpresa. A Tiajo nasceu no dia um de setembro de 1988 e tem sido uma descoberta constante, a cada passo que temos dado as coisas têm corrido bem.

Mas há pelo menos, como se diz no futebol, alguma espécie de jogada de antecipação… 

Eu até poderia ir por aí, mas lá está, é a tal poesia… Pr

"Todos os negócios são bons desde que o produto corresponda às necessidades do cliente e seja vendável"
efiro falar da presença e apoio dos amigos, que têm uma influência enorme nas nossas histórias de vida. E a Tiajo especializada no workwear é fruto precisamente do conselho, uma conversa de amigos. Quando iniciei, tinha 22 anos, o negócio não era exactamente este. Comprava lotes, as napas, nas várias empresas aqui à volta, como Sampaio & Ferreira, Somelos ou TMG. Tecidos de segunda qualidade ou peças mais pequenas que em alguns casos revistava manualmente e depois colocava nos estofadores e vendia para feirantes. Foi nessa conversa, no início dos anos 90, que o meu amigo me disse: está tudo muito bem, tens um bom negócio, mas isto não pode ser o teu futuro. Devias pensar numa especialização, ter o teu produto, para que em vez de andares por ai a vender sejam as pessoas que te ligam a pedir aquilo que sabem que tu tens. Seres uma referência.

E porquê os tecidos para fardamento de trabalho? 

Pois, essa era a questão do milhão de dólares. Éramos dois jovens, ele ainda com menos dois anos que eu, e foi ele que sugeriu, porque achava que havia esse necessidade, que o mercado não estava a trabalhar bem a área dos tecidos para o vestuário de trabalho. Se há mérito é todo dele, do José Martins, cuja amizade ainda hoje tenho o privilégio de manter.

E ambos tinham já experiência na têxtil? 

Eu comecei a trabalhar com 17anos, numa área muito idêntica, que era um armazém de tecidos da Têxtil Manuel Gonçalves, uma espécie depósito de tecidos de segunda qualidade e restos de colecções. Foi esse o meu primeiro contacto com o setor, e onde percebi que podia ser a minha vida. Curiosamente comecei no dia um de setembro de 1981 e foi no dia um de setembro de 1988, sete anos depois, que constitui a minha empresa.

Mas a Tiajo só nasce em 1994, o quer dizer que o início do negócio já é consigo?

Exatamente, com o meu nome. Uma empresa em nome individual cujo número de contribuinte ainda trago na cabeça… que depois passou a sociedade. Mais uma vez com influência do meu amigo, que era – e é – confeccionador de fardamentos. No fundo, identificou uma necessidade que ele próprio sentia e foi esse o caminho por onde enveredei.

Tem ideia de quanto faturou a Tiajo nesse primeiro ano? 

Andaria, se não erro, pelos 800 mil euros.

E hoje?

Ronda os 16 milhões.

Um salto com base apenas nessa reorientação do negócio?

Há vários factores ao longo do caminho. Desde a vinda do meu irmão, que nos deu uma maior abrangência, e também a grande revolução na empresa com a entrada do Jorge, o meu filho mais velho, que trouxe uma visão muito mais agressiva e alargada do negócio. É com ele que acontece a internacionalização. Antes tínhamos praticamente só Espanha, hoje estamos em variadíssimos países, com três vendedoras em Espanha, outro em França, outro na Polónia e ainda uma estrutura específica para visitas e contactos com clientes de vários países.

Sobretudo da Europa?

Sim, vendemos para a generalidade dos países da Europa, mas também para os do norte de África e também os países de expressão portuguesa. E temos também ainda alguns clientes na América Latina. Temos uma relação de grande afinidade com os nossos clientes, muitos deles, tanto em Portugal como na exportação, começaram connosco e são hoje grandes referências na área do fardamento de trabalho.

Quanto representam hoje as exportações no volume de negócios da Tiajo?

Neste momento já andam na ordem dos 50%.

E há 10 anos atrás? 

Seriam 5%.

Qual é a ambição em termos de abrangência de mercado? 

A nossa ambição é a cada dia fazer melhor. E se queremos fazer melhor não podemos nunca conformar-nos com aquilo que temos. Não pegamos no mapa no sentido de dizemos queremos estar aqui, ali e acolá, mas estamos atentos e se sentirmos que num dado lugar há uma determinada necessidade, então nós vamos lá. Não temos fronteiras definidas mas estamos constantemente à procura de novos mercados.

Isso exige ter sempre produto diferenciado, quem são os vossos principais parceiros? 

São os nossos fornecedores, aqueles a quem recorremos para que os artigos com a marca Tiajo sejam sempre observados como um produto de qualidade, independentemente de se tratar do artigo mais básico ou o mais diferenciado. Mas também temos de ter o preço para que o nosso cliente seja competitivo.

Dando a volta à questão, onde estão os vossos fornecedores, em Portugal? 

Maioritariamente não. Estão na Índia, Paquistão, Indonésia, Tailândia, Taiwan…

Por uma questão de preço ou também outras circunstâncias? 

Não, não! Já não tem que ver com preços mas sobretudo com capacidade de resposta e quantidades que não temos como encontrar noutra origem. É claro que o preço conta, mas hoje o que claramente conta é a capacidade de resposta e as quantidades que hoje é impensável cá encontrar.

Que quantidades tem em stock a Tiajo? 

Normalmente temos em armazém quatro a cinco milhões de metros. A nossa característica é que o cliente pede hoje e tem amanhã em o artigo dentro de portas, em qualquer ponto do país.

E a disrupção nos transportes não vos tem colocado entraves no abastecimento? 

Muitos, muitos! E para lá dos aumentos de custos de 800%, há o problemas das entregas das encomendas, que costumavam chegar em quatro meses e já vai em mais de seis, o que nos está a obrigar a maiores stocks.

O que tem custos. Estão a conseguir refleti-los nos clientes? 

Somos obrigados. Mas apenas os custos, não o investimento. E tem sido um aumento constante, quer o resultante das matérias-primas, quer da energia, quer com a relação euro-dólar. E não há como não imputar esses custos aos clientes.

Mudando a agulha, como vê hoje o têxtil português no seio da Europa?

Portugal tem claramente uma palavra a dizer, tem condições para se distinguir na Europa como produtor têxtil, fundamentalmente na produção de vestuário e têxteis-lar. Temos uma longa tradição e conhecimento e somos efetivamente dos melhores do mundo, são áreas que se vão claramente reforçar e que vão continuar a crescer. Mas é importante que todos percebam que é preciso estarmos juntos, trabalhar em conjunto para potenciar o negócio de todos.

E como produtor e criador de têxteis técnicos? 

Creio que há ainda um longo caminho a fazer. Desenvolvemos algumas soluções de acabamentos realmente diferenciadoras, mas na construção de tecidos o que temos é ainda muito pouco em termos de mercado. Creio, do meu ponto de vista, que há condições para o fazer, mas é um caminho que não está ainda a ser feito. Mas dada a nossa dimensão sempre na lógica da especialização, de aposta em produtos muito específicos.

Voltando à Tiajo, quantas pessoas trabalham na empresa? 

Somos uma equipa com 22 e duas pessoas.

Estão num edifício com forte impacto arquitectónico, como se organizam?

Ora aí está a necessidade de digitalização. Estávamos num espaço onde a organização logística era caótica. De início tinha tudo na minha cabeça, cores, quantidades, referências… mas isso tornou-se impossível. Se quiséssemos afirmar-nos e diferenciar-nos não podíamos continuar assim. Foi o meu filho que identificou os problemas e avançou com o processo, se queríamos crescer tínhamos que nos organizar. A grande preocupação foi criar uma área de armazém que fosse funcional, assente na logística. A arquitetura foi em função da logística.

Estamos a falar de que áreas, quando foi inaugurado?

São seis mil metros quadrados com 12 de pé direito. Ainda não houve inauguração, foi uma ocupação (risos)! Mudamos a partir do dia 30 de março de 2021, porque o pessoal quis brindar-me por ser o dia do meu aniversário.

Perfil

Aos 58 anos, o presidente da Tiajo sente-se plenamente realizado. Começou ao 17 anos como empregado de um armazém de tecidos da TMG, aos 20 criou o próprio negócio, que pouco depois evoluía para uma empresa especializada no fornecimento de tecidos para fardamentos de trabalho. É hoje uma referência internacional, a tendo atingido um estatuto – e facturação – que nem nos sonhos mais fantasiosos teria imaginado.

 

As perguntas de
José Martins
Sócio-gerente da Tacafar, Ldª

Sendo uma das principais referências na área, quais os produtos que a Tiajo pretende acrescentar ao seu catálogo no curto/médio prazo? 

Onde temos claramente que investir e encontrar os parceiros adequados é nos artigos mais técnicos, com fibras técnicas. Já utilizamos muito os acabamentos técnicos, mas é preciso avançar para as fibras técnicas e essa é uma aposta que teremos que fazer.

 

Tendo em conta a situação mundial, com a pandemia e a guerra na Ucrânia, como perspetiva o futuro da indústria da têxtil/confeção? 

Não vejo grandes alterações, desde logo porque é um setor fundamental. Se há guerra temos que vestir os soldados, fazer mais fardas, também a pandemia obriga a equipamentos de proteção. Ou seja, com todos este problemas o consumo tenderá ainda a ser maior.

Albino Martins
Administrador da Lerdeira & Martins, Lda.

Que perspectiva tem sobre uma possível estabilização de preços para o ano corrente?

Eu creio que a partir deste momento estamos no caminho da estabilização dos preços. É claro que temos sempre a variável cambial, estou convencidos que ainda haverá alguns aumento, mas que a partir de outubro, após férias, as coisas vão estabilizar.

 

É possível pensar numa normalização no curto prazo para o setor dos transportes? 

Essa é uma questão muito complexa. E também preocupante, já que pode vir complicar-se ainda mais. A questão dos transportes é claramente nesta altura uma grande  incógnita.

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