Um futuro “step by step”

Fátima Carvalho, fundadora da Trivialtex, traz consigo na m emória uma ligação com o têxtil desde tenra idade, tendo-se revelado mais tarde, como um caminho a seguir, na Fitor Companhia Portuguesa de Têxteis onde concluiu o seu estágio curricular. “A minha família sempre esteve ligada ao têxtil. A minha mãe era operária têxtil, o meu pai e avô eram afinadores têxtil. Eu gostava muito de ir com o meu avô à empresa algodoeira, o cheiro dos fardos ficaram-me na memória e isso revelou-se mais tarde”.

Foi em 2015 que começou uma nova era para Fátima Carvalho, que presenciou o encerramento da Fitor em 2013, na sequência da crise das dívidas soberanas, e que passado dois anos abriu novamente as portas de um lugar que lhe é familiar, mas desta vez como Trivialtex e com a própria no comando do novo projeto. Mas não foi só ela que “regressou a casa” com uma bagagem cheia de conhecimentos: trouxe também quem hoje dá a cara e tem contacto com os clientes da Trivialtex. “Somos só mulheres, todas com um passado e um know how da Fitor. Somos bastante unidas e competitivas. Todas em conjunto conseguimos trazer a empresa até onde ela está hoje”, partilhou a engenheira formada no ramo têxtil.

Atualmente com 80 funcionários, o crescimento está presente nas metas anuais da empresa, que neste momento tem um volume de negócios de 5,2 milhões de euros. Quanto aos clientes, o grosso é o mercado do desporto, com uma distribuição concentrada em vários mercados, mais concretamente em 23 países, principalmente europeus, e no mercado nacional.”Isto ajuda-nos numa situação de crise, pois temos sempre como nos socorrer. E além disso, devido à concorrência próxima, não queríamos ficar muito dependentes do mercado nacional. O facto de estarmos mais distribuídos ajuda-nos a estarmos menos expostos a um mercado só”, explicou Fátima Carvalho. Desta forma, o objetivo da Trivialtex é cada vez mais a internacionalização, tendo na mira alguns mercados como Finlândia, Dinamarca e Alemanha, com que têm vindo a fortalecer relações. “Temos tido alguma facilidade na nossa afirmação internacional, os nossos clientes que estão satisfeitos e recomendam-nos. Já somos bastantes considerados lá fora e conhecidos pela concorrência externa”, contou.

Essa facilidade, reconhecimento e distinção deve-se à aposta que a Trivialtex priorizou em especializar-se na área do serviço ao cliente, isto é, fornecer ao cliente soluções costumizadas ao invés de, simplesmente, vender o fio. “Se os nossos clientes necessitam de um fio diferente, nós vamos à procura e fazemos. Nós somos parceiros dos nossos clientes e o cliente é nosso parceiro. Há uma ligação bastante íntima”, acrescentou a CEO da empresa.

Mas não é só aí que a empresa está focada: certificar todos os produtos, reduzir os custos, melhorar os processos, reciclar, ser eficiente, qualidade e eficiência energética. “Para nós o lixo tem valor, aproveitamos tudo. Estamos a estudar a utilização de matérias-primas verdadeiramente ecológicas, pois para nós uma transformação mecânica das fibras é muito mais ecológica que a química. Investimos todos os anos obrigatoriamente em máquinas, para continuarmos a fornecer um bom produto aos clientes. Temos painéis fotovoltaicos instalados em todo o complexo industrial, e portanto toda a energia que utilizamos advém daí”, exemplificou.

Mas, como em tudo, há sempre percalços. Foi o caso da pandemia e da atual situação atual económica. No caso da Trivialtex, a crise pandémica resultou num sentimento agridoce: começou mal, mas depois a situação reverteu-se e as metas foram superadas. Já em relação à atual instabilidade económica, o impacto foi brutal: “tivemos um aumento do custo energético superior a 130%. Tivemos obrigatoriamente de passar esse custo aos nossos clientes”, afirmou a CEO. Quanto ao futuro, “vamos step by step”, concluiu.