T9 Maio 2016
Empresa

Filha de um bancário irrequieto

A Vilartex deu os primeiros passos com dois teares e hoje tem mais de uma centena, modernas instalações, em Corvite, com área coberta superior a 10 mil metros quadrados, e fabrica diariamente 15 toneladas de malhas.

Texto de Jorge Fiel

Líder no fabrico de malhas circulares, a Vilartex existe e prospera por causa da irrequietude de Carlos Pinto, 75 anos, que não se acomodou ao emprego de luxo como bancário na agência de Guimarães do Banco Borges & Irmão que arranjou em 1967, mal foi desmobilizado, após quatro anos na tropa, boa parte deles sofridos em zona de combate, como Nambuangongo.

Entrava às dez da manhã, recebia subsidio de férias e 13º mês (regalias pouco comuns à época), e estava numa posição privilegiada para subscrever ações, o que lhe permitiu acumular uma pé de meia jogando na bolsa antes do 25 Abril. Mas sabia-lhe a pouco. E em 1978, em sociedade com um colega do banco (a que compraria a posição em 1996), arriscou fundar a Vilartex.

A fábrica, que deve o nome ao lugar da primeira sede (Vilarinho), deu os primeiros passos com dois teares. Agora tem 101 teares circulares (japoneses Monarch ou alemães Mayer) e jogos variados (do 12 ao 36)  e está instalada em modernas instalações, em Corvite, com uma área coberta de 10.600 m2, onde fabrica diariamente 15 toneladas de malhas.

O caminho teve os seus altos (“Dantes ganhava-se quanto se queria, sem saber ler nem escrever”) e baixos (“Quando foi da abertura da OMC aos asiáticos, chamaram-me maluco por continuar a investir, pois a têxtil era para acabar”). Mas a Vilartex manteve sempre a cabeça fora de água e agora que o mau tempo passou, Carlos não resiste a recordar que o BPI foi o primeiro banco a fugir da têxtil e logo a seguir se espetou a comprar divida grega.

“Não trabalhamos para stock. Mas como as encomendas estão sempre a chegar e são sempre para ontem, não temos outro remédio senão trabalhar a três turnos e aos sábados e domingos” , explica Carlos Pinto.

Para fazer face às encomendas e garantir um lugar ao sol no futuro, a Vilartex não pára de investir. Em 2015, foram 1,1 milhões de euros, no aumento e modernização do armazém de cargas e descargas e em painéis solares, que baixaram a fatura mensal da energia de 24 mil euros para 19 mil. Este ano vai fazer uma tecelagem nova com 15 teares, para estar menos dependente da subcontratação (o ano passado deram mais de 900 toneladas de malha a fazer fora).

Irrequieta como o seu fundador, a Vilartex está apostada em aumentar para 15%  da faturação as exportações diretas para lá dos Pirinéus  e em subir na escala de valor –  desenvolveu uma malha técnica em 3D, seleccionada para finalista do Inovtextil 2016, que tanto pode ser usado em vestuário como em calçado ou na indústria automóvel.

“Fazemos malhas da melhor qualidade. Não temos nada a aprender com ninguém, nem mesmo com os italianos. O problema é a hipersensibilidade das grandes marcas ao fator preço”, concluiu Carlos, o ex-bancário que continua irrequieto.

A Empresa

Vilartex
Rua da Beira Alta 94,4085-224 Guimarães

Atividade Produção e comercialização de malhas para vestuário interior e exterior Faturação 27 milhões de euros Trabalhadores 125  Clientes Massimo Dutti, Diesel, Benetton, Burberry, entre outros

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