Quase centenária, a Manuel Sousa Lopes é uma das mais antigas empresas da Europa que se mantém na produção de botões, mas sempre de olhos postos no futuro.
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A Manuel Sousa Lopes, uma empresa quase centenária, é hoje uma das mais antigas da Europa que se mantém na produção de botões, e nesta longa bagagem são os três netos do fundador, Diogo, Tiago e Dinis (todos Sousa Lopes) quem assume a responsabilidade de dar continuidade ao legado da família. Uma visão de gestão necessariamente mais atual, mas onde se mantém a vontade de ser cada vez mais eficaz.
Desde sempre ligada ao têxtil, na altura produzindo botões em madeira, fivelas em madeira, osso de baleia, madrepérola, galalith, correias, e mais recente as resinas e o poliéster, a Manuel Sousa Lopes não ficou parada nem no tempo nem nos anais da sua própria história. Exemplo disso está num investimento de 250 mil euros em painéis fotovoltaicos, que irão gerar 30% do consumo e a possibilidade de alimentar com vantagem competitiva as novas máquinas de injeção. É também, reforça a equipa gestora, o resultado de uma forte apetência pela sustentabilidade e inovação.
O primeiro passo na ecologia da Manuel Sousa Lopes, remete-nos para há quase 30 anos atrás, altura em que a empresa foi pioneira ao mandar instalar uma ETAR, sistema de tratamento de águas residuais que permitiu que a água seja controlada diariamente antes de ir parar ao rio. “Nós trabalhamos com 13 afluentes diferentes, com linhas de metais pesados, linhas galvânicas, e por isso vimos na altura a necessidade de termos uma ETAR sofisticada. “O nosso início na ecologia foi antes de vir a Greta [Thunberg], antes dela já tínhamos pensado na ecologia”, afirmou Tiago Sousa Lopes, diretor de produção da empresa.
Atualmente, já está também instalada a preocupação constante no uso de matérias-primas sustentáveis, tanto a nível de resinas, como de polímeros. No entanto, a sustentabilidade tem um valor, e o mercado tem de estar apto a pagar por isso. Para Tiago, “o mercado com valor acrescentado quer continuar a comprar o botão ecológico ao preço de quem compra um botão normal” e isso é matematicamente impossível. O primo Diogo acrescenta que há vários pontos que marcam a sustentabilidade, e um dos mais importantes é a proximidade: “produzirmos o mais próximo possível e não compramos tudo fora da Europa. Não irmos pela solução mais fácil”, apontou o diretor comercial, é um dos segredos da empresa.
Numa indústria onde não faltam desafios, os gestores da Manuel Sousa Lopes destacam a motivação de todas as horas: a sua relação com os fornecedores e clientes. “Se houver um entendimento, lealdade, amizade, proximidade, o desafio torna-se mais simples”, explicou Dinis Sousa Lopes, diretor financeiro da empresa E deu como exemplo a pandemia “todos nós temos períodos difíceis, e vimos que os nossos bons clientes, quando tiveram dificuldades mantiveram-se connosco”. Esta relação “de seriedade e fidelidade” para com os clientes é um dos maiores trunfos da empresa, reconhecido há décadas – ou não se desse o facto de “mantermos ainda relações com clientes e fornecedores de há 60 anos atrás”, contou Dinis.
Com um posicionamento no mercado de um nível elevado e um volume de negócios de quatro milhões de euros, o pacote de serviços na Manuel Sousa Lopes é muito completo – sendo esse também um dos seus trunfos. Não são somente fabricados botões, mas também acessórios têxteis. “O cliente chega aqui e nós arranjamos tudo para a peça menos o tecido”, comentou o diretor de produção. Até porque “além da nossa marca própria, a Sepol, também representamos várias marcas de renome internacional”.
Outro negócio de elevado potencial para a Manuel Sousa Lopes, surgido há cerca de 30 anos (vindo da Alemanha), é o das revistas de tendências, que “são um must da indústria têxtil”, afirmou Dinis.
Este outro fator não é um negócio, mas é uma mais valia: a autonomia da empresa nas ferramentas: “nós fabricamos os moldes para as nossas máquinas, somos completamente auto-suficientes em ferramentas, não mandamos fazer nenhuma das que necessitamos, conseguimos prescindir dos ourives”, explicou o diretor comercial.
Com um ano de 2022 extremamente positivo até outubro, a empresa já não mantém o mesmo otimismo em relação a 2023: as incertezas e a instabilidade tocaram a todos e a Manuel Sousa Lopes não é exceção. “Tem sido uma luta diária, muita incerteza quanto ao futuro, não só da nossa empresa, mas de toda a indústria portuguesa”, assumiu o diretor de produção. Face às adversidades a Manuel Sousa Lopes traçou uma nova direção: “estamos a procurar novos mercados, novos clientes, e novas indústrias. Temos outras indústrias cá em Portugal que podem utilizar os nossos produtos”, concluiu Tiago Sousa Lopes.
Manuel Sousa Lopes SA
R. Ernesto A. Carvalho 46
4760-553, Louro, Vila Nova de Famalicão
O que faz? Produção e comercialização de botões e acessórios têxteis Área de produção: 8 000 m2 Colaboradores: 65 Início de atividade: 1927 Faturação: quatro milhões de euros Exportação direta: 30% Exportação indireta: 99%