Como eu comentava no número anterior, tentar adivinhar o futuro é uma tarefa estéril. Na altura, eu julgava possível ter em janeiro algum sumo para ilustrar a troca de picardias entre os candidatos às eleições legislativas de 10 março. Pois bem, enganei-me, este cenário continua sereno, como se faltassem 5 meses de gestação, todos parecem ainda discutir: o nome, a cor do papel de parede, o tamanho da alcofa… essas coisas fofas que fazemos com calma antes do bebé nascer.

Agora!… o Ministério Público, esse sim diverte-se a brava, organizando excursões às ilhas e àquela aldeia do Norte onde o mítico dragão ainda cospe fogo.

Ao que parece as excursões foram bem planificadas, todos os participantes recebem um itinerário com as distintas visitas de estudo disponíveis no programa – mais de uma centena de interessantes espaços e residências de pessoas importantes ou que julgavam ser deveras importantes.  Algumas destas visitas foram mais ordeiras do que outras e alguns espaços acabaram por sofrer uma redecoração forçada. Mas remexer nas coisas alheias, acabou por ser compensatório para a PJ, pois, mais uma vez foram encontradas umas notinhas de dinheiro vivo, escondidas aqui e acolá. Na verdade, nos dias que correm esta deve ser uma prática corrente e não exclusiva dos ditos bandidos, tendo em conta os insignificantes juros que o banco oferece, se torna bem mais rentável e confortável guardar o dinheiro no sofá lá de casa.

Mas na Madeira os esconderijos parecem render bem mais do que no Continente. Lá na ilha o bolo fermentou mais um bocadinho, chegando ao meio milhão de euros e mais uns trocos de milhares por aí espalhados, 20 por um lado 10 pelo outro… ao que podemos somar umas transferenciazinhas avultadas, mais um diamantezito e uma pequena coleção de relógios, mas não daqueles suíços coloridos que colecionávamos na adolescência…

Sobre toda esta situação o Presidente da Câmara do Funchal Pedro Calado, um dos arguidos da operação Zarco mantém-se calado, e tendo em conta que as investigações ainda estão a decorrer, nada sabemos, apesar de muito saber… Isto porque, a imprensa, também ela, se diverte engordando as fugas de informação, umas mais certeiras do que outras. Há quem diga que a excursão no avião da força aérea levava 300 tripulantes, entre inspetores, juízes e magistrados, mas a Polícia Judiciária diz que foram apenas 150. Por outro lado, ouviu-se falar que os jornalistas do continente já estavam na ilha preparados para a ação, mas isso, a PJ também desmente. Depois há quem diga que o diamante de Calado foi avaliado em 50 mil euros pela Casa da Moeda, mas o INCM diz nada ter avaliado … Nesta era da contrainformação nada é certo, mas também nada é completamente errado.

Devo confessar que me senti tentada em oferecer-vos a imagem dum novo super-herói vestido de PJ, pois parece que o estabelecimento prisional da polícia judiciaria nestes últimos tempos se transformou no Asilo de Arkham (universo Batman), cheio de loucos prevaricadores. Mas o facto do nosso pequeno país ter ficado literalmente “desgovernado” foi mais tentador. Isto porque o Persistente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque também está a ser investigado e embora inicialmente fosse categórico na sua decisão de não se demitir, lá teve de dar o braço a torcer e apresentar a sua demissão. Portanto, estamos com uma meia decisão nos Açores, em pré-eleições no Continente e com a Madeira sem cacique.  Pensando nesta desgovernação desavergonhada, não resisti em tomar como inspiração a perspicácia dos criativos do Ikea Portugal, que engenhosamente se aproveitaram destes assuntos sérios para divertir as nossas monótonas vidas. Assim, tento mais uma vez prever o futuro adivinhando uma nova ação de marketing, que parece ser a única forma de realmente mexer com o ambiente pré-eleitoral!