Mais uma vez implacável, Katty Xiomara atropela a presidente do Banco Central Europeu com o veneno das suas próprias palavras – aquelas que falsamente nos dizem que o nosso grande pecado é vivermos mais uma vez acima das nossas possibilidades. Um dia, o nosso pecado será vivermos.
Há já algum tempo que as almas de muitos portugueses celebram o obscuro ambiente de Halloween, consequência dos repetidos anúncios de subidas… subidas… e mais subidas das taxas de juros.
Tendo estas lastimáveis subidas como prato principal, parece-nos deliciosa a ideia de vos apresentar a doce consolação de visualizar a presidente do Banco Central Europeu como a grande sugadora de almas. Permitimo-nos assim a ousadia de roubar a ideia dos Dementors ao universo Harry Potter e ainda criar uma simbiose, aliás óbvia, com a personagem de Grim Reaper, mais conhecida como Lord of Death.
Este prato principal, que nos é repetidamente servido, não é, de facto, nada fácil de engolir, particularmente quando colocamos na balança aquelas questões morais e de transparência. Isto porque o prato nos é servido por aquela que é considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo, com um currículo impactante, preenchido de suculentos salários livres de impostos e decorado com uma série de linhas censuradas de casos e casinhos com Tapies e companhia. Não é fácil de engolir que exista moral no tom gélido da sua voz quando anuncia mais uma subida, palavras fáceis para quem acumula cargos e sobe na escada do poder.
Na sua missão para estabilizar os preços, estrangula as famílias enquanto condena os governos que disponibilizam ajudas. No seu tom condescendente, diz estar consciente do sofrimento que causa, mas afirma não existir alternativa, sendo este um mal necessário. O que ela realmente nos diz sem dizer é que não quer saber – a sua missão não é atenuar a dor de ninguém, a sua missão é descer os níveis de inflação castigando os ambiciosos espécimes que sonham ser mais do que realmente foram destinados a ser. Os seus ouvidos apenas são estimulados pelas baladas sussurrantes da estabilidade; as consequências, essas, não têm qualquer melodia de interesse para a senhora Lagarde, que empunha confiante a sua foice, ouvidos moucos aos agudos sons destas almas em pena, enquanto ensaia os seus feitiços – Avada Kedavra, Obliviate, Leviosa – coordenando-os com a coreografia de movimentos ondulantes da sua baguette magique.
Esta figura da morte é a nossa cruel proposta para as sombrias festividades do mês de outubro, nas quais Christine Lagarde encaixa como uma luva.