No Traça, sem naftalina
T19 Abril 2017
Cantinas do Serrão

Manuel Serrão

O Traça pertence a esta nova geração de restaurantes cool, numa "onda" mais artístico-cultural do que fashion...

O Restaurante Traça, em pleno centro histórico do Porto, tem o melhor carpaccio de veado da cidade e arredores. Mesmo fora do período normal de caça ao bicho!

Sempre que em minha casa se falava em traça, a minha mãe por graça, pedia logo para lhe trazerem duas bolas de naftalina. Da geração seguinte, para mim, traça nunca tem graça e pede coisas que se comam e não bolas que desinfectem.

Este Traça que a Baixa do Porto acolhe também tem muita graça, até porque junta os dois conceitos, dando bem cabo deles como se impõe.

Em vez da naftalina que tentava salvar fatos abandonados durante meses em armários ou baús, o Traça tem logo à entrada uma poderosa mesa alta, muito procurada por comensais temporariamente sós. Nos novos tempos que atravessamos é uma espécie de Facebook em versão restaurativa, onde se podem ver e comer muitos e bons petiscos, sentir e ver os sabores e os saberes. Saindo de lá consolado e com muito melhor companhia do que a traça que se trazia.

Franqueado o cortinado da porta e passada a mesa do convívio, podemos subir ou descer para o Traça que mais me tem animado. É nessas mesas que ao fim de semana, com a noite já adiantada, podemos provar sem pressas (e sem gente que nos namora a mesa) o carpaccio de veado, a sertã de morcela com maçã, as lâminas de foie gras, as gambas crocantes ou a muito requisitada sertã de bacalhau.

Traça
O Restaurante Traça, em pleno centro histórico do Porto, tem o melhor carpaccio de veado da cidade e arredores.

Para muitos neófitos a seguir é só o café e a continha, mas para quem sabe (ou para quem pode…) a aposta no cavalo certo é no costeletão charolês ou na paletilla de cordeiro, que é das melhores que comi fora de terras de Espanha.

O Traça pertence a esta nova geração de restaurantes cool, numa “onda” mais artístico-cultural do que fashion, isto para quem consegue destrinçar estes estilos, que eu ainda estou a aprender. Tem por isso o acento tónico no ambiente e no convívio, no que se vê e com quem se vai, mas dentro do género, devo dizer que é dos poucos onde também vale a pena ir para comer.

Acham que estou a brincar? Que sou um exagerado? Não me digam que não conhecem também muita gente, que vai sempre primeiro jantar e bem, antes de ir passear-se para estes novos templos, onde se come muito mais com os olhos, do que com a boca.

Para quem andar por perto e quiser almoçar, tem o Traça versão “troika”, com menus do dia a oito euros. Iva incluído. Mas graça da noite excluída.

RESTAURANTE
Traça

Largo de S. Domingos 88
4050-253 Porto

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