Quando se apercebeu da tragédia dos incêndios de 2017, Ricardo Roque percebeu que tinha de deixar o seu contributo para que a situação não se viesse a repetir. Engenheiro de formação, começou a estudar novas soluções, até chegar ao Faraday, um kit de protecção pessoal, cuja principal estrela é uma manta capaz de reflectir cerca de 95% do calor radiante e proteger qualquer pessoa mesmo na situação mais crítica.
António Moreira Gonçalves
Todos os anos o cenário é idêntico. Com os dias mais quentes surgem centenas de incêndios por todo o país, com hectares de floresta a serem consumidos pelas chamas e populações inteiras a temerem pelas suas casas e expostas ao fogo. Foi a pensar nesta tragédia constantemente repetida que Ricardo Roque criou uma manta de protecção pessoal, que ao reflectir 95% do calor radiado pelas chamas é capaz de salvar vidas mesmo nos momentos mais críticos.
“O primeiro impulso para fazer algo nesta área surgiu com os incêndios de 2017. Como sou de Leiria, fiquei especialmente chocado com o que aconteceu na região e percebi que tinha de fazer alguma coisa”, lembra o engenheiro, formado em engenharia mecânica e de processos pela Swiss Federal Institute of Technology, de Zurique. Ricardo Roque nunca tinha trabalhado em nada relacionado com incêndios, mas quando as chamas em Pedrogão Grande roubaram a vida a mais de 70 pessoas, decidiu que tinha de dar o seu contributo “para que a tragédia não se voltasse a repetir”.
“Comecei a estudar a literatura, a analisar as técnicas que são utilizadas no combate às chamas e na protecção das populações e a ver que equipamentos existiam no mercado”, conta. Rapidamente se apercebeu que não existiam grandes soluções para o cidadão comum. A maior parte das tecnologias eram pensadas para as forças de combate e não para as populações. Precisava de produzir algo eficaz, mas também leve e fácil de usar.
A ideia de uma manta protectora surgiu a partir do conceito de gaiola de Faraday, que veio a dar o nome a todo o projecto. “Ao ter uma superfície metalizada, a manta tem elementos condutores, e pelas suas características é capaz de isolar completamente a pessoa que a usa. Como reflecte 95% do calor, podem estar até cerca de 500ºC, que o corpo apenas sentirá 40º”, explica o engenheiro.
O engenheiro recorreu ao CITEVE para efectuar os testes de reflexão térmica, para depois certificar e patentear o produto. A manta encontra-se já no mercado, integrada num kit de protecção pessoal, composto também por um par de luvas em aramida e uma máscara para fumos tóxicos.
O produto tem criado o interesse não só do público, mas também de profissionais. Atualmente está à venda online, através de uma plataforma própria da Faraday, mas a empresa comercializa-o também em grandes quantidades para organizações de bombeiros, municípios e entidades intermunicipais. “A maior parte do investimento dos bombeiros vai para o material de combate, o que faz com que os operacionais tenham uma grande falta de equipamento de fuga como este”, afirma Ricardo Roque.
Em termos de mercado, a entrada na grande distribuição era um objetivo, mas “como a ideia passa também por democratizar esta tecnologia, acabo por trabalhar com margens muito curtas, o que não me permite entrar para já nas grandes cadeias”, explica o criador da Faraday.
Por enquanto, para além de se focar nas vendas online e no contacto com as corporações, a Faraday está já a desenvolver novos Kits. A versão mais completa inclui já um mini extintor, e no futuro Ricardo Roque espera apresentar uma versão familiar, com a mesma manta num tamanho maior, acompanhada por dois pares de luvas e duas máscaras de respiração.
Desenvolvida por Faraday Go
O que é? Uma manta capaz de reflectir cerca de 95% do calor radiante Para que serve? Para protecção individual em caso de incêndio Estado do Projeto? Já no mercado, integrada no Faradaykit de protecção pessoal