T44 - Junho 19

Que impacto têm os prémios de inovação nos negócios das empresas?

Os múltiplos prémios que as empresas e a investigação nacionais têm acumulado induzem negócio e alavancam a reputação de toda a fileira. Mas o recado dos empresários é claro: é necessário que a comunicação seja suficientemente eficaz para que o cliente final, nomeadamente o estrangeiro, interiorize a perceção de que o têxtil e o vestuário portugueses são em larga escala a vanguarda do que de melhor se faz no mundo.

António Freitas de Sousa

A acumulação de prémios que destacam a inovação que as empresas nacionais da fileira têxtil e da moda apresentam como uma das caraterísticas mais marcantes do seu ADN – e que as transformou num caso de sucesso dentro e fora de portas –  é ao mesmo tempo causa e consequência da reputação e da credibilidade da indústria.

Sintoma claro do matrimónio virtuoso entre as empresas, universidades e centros de investigação avançada, os prémios são também capazes, mesmo que não para todas as empresas, de contribuir diretamente para o aumento das margens de negócio, acabando por fechar o círculo de desenvolvimento que é, em última análise, a sua razão de ser.

“Os prémios não são todos iguais, aqueles que são focados nas empresas são os que trazem os resultados mais imediatos. Quando por exemplo num concurso associado a uma feira no estrangeiro uma empresa é premiada e os seus produtos são expostos, isso tem impacto no mercado internacional”, refere Braz Costa, director geral do CITEVE, um dos centros de investigação de topo na Europa. “E há outro tipo de prémios, talvez mais tecnológicos, que não têm influência direta no negócio da empresa, mas têm consequências de médio e longo prazo” em termos reputacionais. “Posicionam o cluster português do têxtil num lugar de enorme destaque e Portugal entre os países inovadores, o que pode não ter um efeito imediato nas encomendas mas tem um efeito extremamente positivo”, sublinha Braz Costa.

Ora, para alimentar esse efeito, o CeNTI, instituto que investiga nas áreas de nanotecnologia e materiais inteligentes (associado ao CITEVE), de que Braz Costa é também responsável, “é a entidade em Portugal que tem um maior número de pedidos de patentes: 110 desde 2010 e 16 concedidas e 40 numa fase avançada, o que é assinalável porque o processo é muito moroso” e extremamente minucioso.

Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), não tem dúvidas sobre a eficácia dos prémios de inovação em termos da produção de uma imagem geral do setor sem paralelo internacional e com a concorrência a ficar cada vez mais a uma grande distância.

Inovação é negócio
“As margens são controladas mas um produto mais inovador permite ter uma melhor margem”, revela Agostinho Afonso
“São um estímulo reputacional muito grande – desde logo sob um ponto de vista da comunicação, que as empresas podem aproveitar individualmente – e é muito bom sob o ponto de vista coletivo para a imagem do setor”. Sendo estes prémios de algum modo um ‘drive’ de diferenciação, eles implicam uma aposta continuada – não nos prémios, mas naquilo que os prémios indicam que é a aposta das empresas.

O impacto nas receitas e mesmo nas margens do negócio, “se não for imediato, certamente que se fará sentir a prazo. Não pode ser puro orgulho, têm em vista um objetivo económico”, disse ainda Paulo Vaz, ressalvando que “os prémios que as empresas vêm ganhando não fazem parte daquela ‘indústria de prémios’” que houve noutros tempos e noutros setores.

Quando à possibilidade de as empresas fazerem um alinhamento direto entre os prémios de inovação e as margens do negócio, cada empresa é um caso. Vejam-se dois em sentidos opostos.

Para Agostinho Afonso, administrador da Têxteis Penedo, “os prémios de inovação dão uma visibilidade muito mediática à empresa, o que permite que ela aceda a determinados nichos de negócio que de outra forma não estariam ao seu alcance. As margens são sempre controladas mas um produto mais inovador permite à empresa ter uma melhor margem”. Quanto à reputação, não há dúvida: “é extremamente importante para o setor e para os têxteis portugueses, principalmente a nível internacional”.

Já Rui Castelar, responsável da SIT, afirmou que “os prémios são uma mais-valia, sem dúvida nenhuma, mas não me parece que seja possível fazer uma indexação direta entre prémios e margens”.

Uma ideia partilhada por Miguel Pacheco, da Heliotêxtil: “se um prémio de inovação não for artificial, acho que motiva as empresas com o reconhecimento que lhes é dado e uma imaterialidade que permite alavancar outros negócios, mas se se traduz em termos de negócios, em muitos casos sim, noutros é um colateral”. De qualquer modo, a importância mantém-se, até porque “são uma forma de consolidar a imagem do setor nos mercados internacionais, pela visibilidade que têm”.

Premios há muitos
“Os prémios não são todos iguais. Os focados nas empresas trazem resultados mais imediatos”, diz Braz Costa

Mas Miguel Pacheco acha que o setor está exposto àquilo que se pode chamar a ‘indústria dos prémios’ e chama a atenção para a necessidade da destrinça “entre os que valem mesmo e os valem aquilo que valem”.

Paulo Augusto de Oliveira entende, por seu turno, que “em termos de visibilidade, os prémios são sempre positivos, mas a prática do negócio pode não ter uma correspondência, até porque há prémios ganhos por produtos que não têm interesse comercial, mas acaba sempre por gerar sinergias que ajudam a vender outras coisas. Não vejo que haja uma relação direta entre prémios e vendas, mas a imagem de reputação que se espalha a todas as empresas é um aspeto muito positivo”, destaca o administrador da Paulo de oliveira.

Mário Jorge Silva, da Tintex, chama a atenção para um assunto a que os seus pares deram pouca visibilidade: “a dificuldade de as empresas darem a conhecer os prémios” e, por essa via, tendo dificuldade em deles retirar aquilo que de mais importante eles encerram. “A Tintex, ao mesmo tempo que ganha prémios, tem uma campanha de marketing e comunicação muito bem estruturada, o que nos permite fazer perceber aos clientes a nossa valia, e vêm culminar o nosso esforço de desenvolvimento. Por esse facto é que os nossos preços médios de venda têm subido. A comunicação é fundamental: temos que fazer com que o cliente percecione o nosso real valor. Não compreendo nem aceito que, se temos um produto melhor, ele seja vendido a menor custo que os dos outros países”. “A inovação tem de ser transformada em resultados, tem de ser um investimento e não um custo”, remata Mário Jorge Silva.

A frase do empresário, para além da validade da opinião, é de algum modo um statement para toda a indústria: fechar o círculo virtuoso da inovação só é possível quando o investimento processado estiver devidamente vertido no crescimento das receitas, mas também no aumento das margens e dos lucros.

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