26 Novembro 20
Simpósio
da Indústria Têxtil

António Moreira Gonçalves

O céu é azul e otimista, apesar de nuvens de incerteza

Um céu azul, mas com nuvens, ou um caminho de rosas, que incluem espinhos. Foram muitas as metáforas utilizadas pelos intervenientes na mesa-redonda do Simpósio da Indústria Têxtil para representar o atual momento, de contornos inéditos, que a ITV vive. Com maior ou menor otimismo, há dois consensos generalizados: no futuro, a crise vai representar um salto tecnológico e de competitividade, mas até lá, serão muitas os desafios à produção têxtil.

Com o futuro no centro de todas os olhares, a mesa-redonda do Simpósio da Indústria Têxtil partiu da intervenção do Key Speaker Augusto Mateus para debater as principais macrotendências que se afirmam de forma crescente. Ana Tavares (Smartex), Nuno Gonçalves (IAPMEI), Ricardo Gomes (El Corte Inglés), Vitor Abreu (Endutex) e Patrícia Ferreira (Valérius) passaram em análise alguns dos temas dominantes que hoje fazem os empresários pensar quando a pergunta é sobre o dia de amanhã.

Num debate multifacetado – com pontos de vista da indústria, do retalho, da tecnologia e dos apoios públicos – todos concordam em vários pontos centrais: o momento atual é de crise e de mudanças aceleradas, que exigem de todos uma enorme capacidade de adaptação. “O futuro chegou mais cedo”, resume Ricardo Gomes, lembrando que muitas das previsões para os próximos 10 anos se afirmaram em poucos meses: os consumidores são agora mais digitais, mais exigentes, mais atentos à informação que as empresas emitem e mais conscientes do impacto ambiental e social de cada compra.

Com alguns exemplos concretos – Patrícia Ferreira lembrou como na Valérius já se mede o impacto ambiental de cada peça e já se fazem produções tão customizadas que saem da fábrica com o nome dos clientes que as encomendam online – nenhum dos intervenientes mostrou dúvidas que há novos hábitos de consumo e que a aposta em inovação e tecnologia é um ponto incontornável na agenda do sector.

“As entidades do sistema científico e tecnológico, de que o CITEVE e o CeNTI são exemplo, têm feito um trabalho determinante, e a aposta em tecnologia afirma-se hoje como uma das prioridades”, comentou Nuno Gonçalves, do IAPMEI. “A inovação tecnológica vai existir, e é importante que as empresas continuem a investir, a procurar soluções que tragam retorno, mesmo que a longo-prazo”, acrescentou Ana Tavares.

No entanto, o futuro próximo não permite ondas de otimismo ou positivismo. “A incerteza leva as empresas a parar e algumas vão ficar pelo caminho. O próximo ano vai ser difícil, mas é importante resistir ao medo”, lembrou a responsável pela comunicação e parcerias da tecnológica Smartex. “Temos de acreditar que o têxtil tem futuro, sou um otimista por natureza, mas é frustrante quando vemos planos como a descarbonização, e as empresas portuguesas são levadas a competir com outros mercados que não têm a mesma prioridade”, salientou Vitor Abreu.

Com as tecnologias no centro da conversa – e também a permitir a transmissão via streaming para os mais de 500 inscritos – a mesa-redonda foi tocando nos temas que hoje em dia se tornaram incontornáveis, principalmente no que toca na relação com o consumidor: economia circular, digitalização e responsabilidade ambiental e social.

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