26 Maio 20
Empresas

António Moreira Gonçalves

“Portugal e a UE têm de apoiar a sua indústria”

Desde o início da pandemia, a Inarbel já terá produzido cerca de 400 mil batas, mais de 90% para exportação. Uma alternativa que a empresa seguiu quando se confrontou com a redução de encomendas no seu core business, o vestuário infantil. José Armindo Ferraz, CEO do grupo, vê agora a área da saúde como um negócio de futuro e prevê já para junho a autonomização de uma unidade interna, com nova maquinaria. Um esforço que faz acompanhar de um alerta: “Portugal e a União Europeia têm de apoiar a sua indústria para diminuir a dependência em relação à Ásia”.

O empresário de Vila Boa de Quires, Marco de Canaveses, ainda lembra os primeiros impactos da pandemia com alguma amargura: “Quando comecei a perceber que as encomendas estavam a diminuir e que alguns clientes estavam até a deixar de comprar, passei algumas noites sem dormir, sempre a pensar em alternativas”, conta, referindo-se ainda ao mês de março, quando começou a fazer telefonemas à procura de soluções. Contactou alguns parceiros internacionais – conhecidos em algumas das principais feiras têxteis europeias – e começou a construir uma operação industrial orientada para a grande nessidade do momento: os equipamentos de protecção individual, sobretudo para os profissionais de saúde.

Arranjou o tecido e certificou-o, depois confeccionou as batas e também as certificou, tendo neste momento dois modelos na lista de equipamentos certificados pelo CITEVE. “Desde aí comecei a fabricar em série, a tecelagem continua a produzir malha para o nosso mercado tradicional, mas a confecção dedicou-se totalmente a esta área”, explica o responsável pelo grupo que atualmente emprega cerca de 240 trabalhadores.

Nos últimos meses a empresa já produziu cerca de 400 mil batas hospitalares reutilizáveis, a um ritmo de 60 a 70 mil por semana. Mais de 90% dessa produção foi exportada para Espanha e França, mas José Armindo Ferraz gostava de poder vender mais dentro de portas: “Em Portugal há muita burocracia e privilegiam-se as batas de uso único, que por vezes saem mais caras. As nossas podem ser utilizadas por 40 ou 50 lavagens, cada utilização acaba por sair mais barata e não cria tanto desperdício, mas as pessoas não estão habituadas a pensar assim”, comenta.

Para a Inarbel esta é uma nova área de negócio que veio para ficar. A empresa está agora a fazer um esforço para que a produção de batas seja articulável com o negócio tradicional: a produção de vestuário infantil para as marcas próprias (Dr. Kid e A&J) e em regime private label.

Para isso fez um investimento em nova maquinaria e candidatou-se a uma das linhas de apoio Covid-19. “O nosso projecto já está aprovado e neste momento estamos a trabalhar nas especificações”, explica. A ideia será em junho ter uma nova unidade interna de produção, orientada exclusivamente para o sector da saúde, alocando cerca de 40 colaboradores na Inarbel. “Vejo isto como um negócio de futuro, temos conhecimento, temos qualidade, temos certificação, poderemos continuar neste mercado. Esperemos que a Europa privilegie a sua indústria e se torne menos dependente da Ásia”, projeta o CEO da Inarbel.

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