Dar outra vida à vida

Abrir uma loja de roupa em segunda mão, em pleno 2019 e com a retórica da sustentabilidade por todo o lado, pode não parecer nada de especial. Mas foi. Principalmente quando estamos a falar de uma loja em segunda mão não em Barcelona, Londres ou Paris, onde povoam como cogumelos, nem tampouco em Lisboa ou Porto, que, mais modestamente já vão tendo a sua quota-parte, mas sim em Famalicão, onde em 2015 não existia nenhuma loja do género

Um desafio (ou uma oportunidade?) que não assustou Juliana Brito que, em conjunto com o marido e sócio Nuno Gomes, decidiu dar outra vida à sua vida e abrir a Another Life, que, tal como o nome indica, pretende resgatar artigos de vestuário que descartados por uns têm ainda muito para dar a outros.

“Tanto eu como o Nuno trabalhávamos como engenheiros alimentares quando fiquei desempregada. Aí que surgiu a ideia de abrir algo meu”, revela Juliana ao T.

A paixão pelo vintage e pelas peças em segunda mão já vinha de trás, quando corriam as feirinhas de usados nas viagens a Barcelona e Madrid, e nas suas passagens pelo Porto. Havia paixão e vontade mas faltava o modelo de negócio, nos meses que se seguiram delineado com a ajuda do Famalicão Made In, que contribuiu com apoio e aconselhamento.

Em 2015 abre portas a Another Life, cujo sucesso faz Nuno deixar o trabalho e dedicar-se também a tempo inteiro à loja. Para além do vestuário, a loja vende acessórios, como óculos de sol e bijuterias, e até mobiliário. O estilo: um pouco de tudo. “Quando abrimos tínhamos um estilo orientado para o vintage, até porque pensámos que o nosso cliente-alvo seriam os jovens. No entanto, começámos a perceber que tínhamos clientes muito distintos, alguns com um estilo mais clássico e que requerem peças mais atuais. Começámos então a diversificar o estilo da oferta”, explica Juliana.

A grande parte das pelas são compradas a fornecedores de artigos em segunda mão, a quem compram por atacado. No entanto, também conseguem adquirir excedentes de fábricas ou peças que sobram de encomendas feitas para exportações, e restos de stocks de lojas que encerraram, o que torna possível terem na loja artigos novos a preços de segunda mão.

As redes sociais e o passa-palavra têm sido, garante Juliana, os melhores relações-públicas da loja, que recebe visitantes de todo o lado: para além dos clientes de Famalicão, os vizinhos da Trofa, Barcelos, Santo Tirso, Braga, e até do Porto são presença assídua.

Com o negócio a correr às mil maravilhas, para Juliana esta foi uma mudança de vida que lhe soube pela vida. “Em termos de dinheiro, não posso mentir: ganho menos do que quando trabalhava em engenharia alimentar. Mas agora tenho uma coisa que o dinheiro não compra: a liberdade de fazer uma coisa de que gosto.” E a certeza de estar a trabalhar para um mundo melhor. “Famalicão é um meio pequeno, ainda há preconceito. Temos clientes que escolhem os produtos e quando se apercebem que é em segunda mão torcem o nariz e saem. Mas alguns depois voltam e isso é um sinal de que algo está a mudar. Pensam: “afinal tenho coisas aqui que estão novas e que posso comprar a bom preço. Porque não?”, completa Juliana. E o planeta agradece.