T46 Setembro 19
Empresa

Um novo fôlego com marca própria

Quando aos 33 anos, a crise internacional pregou uma rasteira a Fátima Silva, esta empresária e mãe de dois filhos não se deixou atrapalhar. Comprou o parque de máquinas de uma empresa que tinha fechado e arrancou com a Traços Singelos. Com a ajuda sobretudo de amigos, que lhe foram mais úteis que o financiamento bancário, Fátima começou a produzir roupa de cama para a grande distribuição. Agora, com o barco já em velocidade cruzeiro, a sua aposta principal vai para a marca própria.

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Em 2011, com a troika a desembarcar em Lisboa, Fátima Silva estava numa encruzilhada. Tinha dois filhos a estudar, um já na faculdade e outro a entrar. Tinha também uma experiência profissional larga e polifacetada, acumulada num percurso com escalas na Coelima e Penedo, bem como e passagens pela criação e marketing que lhe revelaram todos os segredos do negócios do têxteis lar.

Fátima cresceu ao balcão (os pais tinham uma loja de tecidos e retrosaria na rua Pedro Hispano, no Porto) e aos 33 anos já dirigia uma fábrica, a Têxteis Cunha Abreu. Não era pessoa para se atrapalhar quando a vida lhe passou uma rasteira. Por isso, naquele terrível ano de 2011, quando se tratou de fazer escolhas, não hesitou e seguiu em frente. Comprou o parque de máquinas de uma empresa que tinha fechado e arrancou com a Traços Singelos.

“Há momentos na vida em que não temos outra hipótese senão reunir toda a nossa força e vontade para seguir em frente. E eu sabia que o meu projeto tinha quase tudo para dar certo. Só faltava mesmo o quase …”, graceja, quando invoca o nascimento da sua fábrica, que começou por morar na Maia (só quatro anos depois se mudou para Sande).

O arranque não foi fácil. Quase nunca é. “Tive mais amigos do que bancos no financiamento do projeto”, recorda. Além da coisa mais preciosa que há no mundo (os amigos), Fátima tinha ideias claras sobre o que fazer. Focou-se na produção de roupa de cama – em particular nos acolchoados – e na grande distribuição, fornecendo todas as cadeias de hipermercados que operam no nosso país, clientes que asseguram grandes volumes, mas com margens apertadas. “Fazemos produtos de gama média. Não é o primeiro preço”, esclarece.

“Crescemos 15% em 2018. Foi um ano bastante bom a nível de vendas para os clientes existentes, mas não de angariação de novos clientes”, afirma a fundadora da Traços Singelos.

Agora que o barco já navega em velocidade cruzeiro, Fátima achou chegada a hora de fazer uma ligeira correção na rota da Traços Singelos, com o objetivo de conquistar novos clientes (também no segmento hoteleiro, onde forneceu toda a roupa de cama do Sana de Luanda) e novos mercados, como a França, Reino Unido (o Brexit não a assusta), a Suécia, Finlândia e Noruega (onde já tem um pé).

No âmbito deste novo fôlego, a Traços Singelos mostrou-se ao mundo em janeiro, estreando-se na Heimtextil (“uma surpresa, correu muito melhor do que estava à espera”), está a lançar uma marca própria (Inspiring) e a desenvolver novos produtos, como uma espécie de saco cama acolchoado, com pelo por dentro, para se estar quentinho no sofá nas noites frias de inverno – uma peça que se pode abrir e transformar em manta.

“Estamos a preparar novos produtos que vão demonstrar a nossa capacidade para fazer produto de alta qualidade com materiais nobres, bordados, linhos lavados e novas técnicas de tingimento. Não teria qualquer sentido estar a fazer coisas que os outros já fazem”, conclui Fátima Silva.

A Empresa

Traços Singelos
Rua Comendador Alberto Magalhães e Sousa 80, Fração B
4805-668 Vila Nova Sande

O que faz? Produz e distribui edredões e restante roupa de cama Volume de negócios 2018 3 milhões de euros, mais 15% que em 2017 Principais clientes Continente, Pingo Doce, Auchan (em Portugal), Alcampo (Espanha), Carrefour (Marrocos), Candando (Angola) Marca própria  Inspiring  Aposta estratégica Chegar a outros mercados, fazendo meio milhão de euros/ano na exportação, e desenvolver novos produtos Trabalhadores Entre 32, no inverno, e 21, no verão

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