T50 - Janeiro/Fevereiro 20
Empresa

“Não podemos nunca parar de inovar”

“No início tivemos de nos esforçar para explicar, até mesmo às pessoas que contratamos, que já vinham com experiência em fiações, que o projecto precisava de ser diferente para ser sustentável”, explica o administrador da Inovafil, Rui Martins

António Moreira Gonçalves

Quando o grupo Mundifios arrancou com a Inovafil, em finais de 2014, tudo apontava que seria um projecto em contraciclo. O mercado da fiação parecia afastar-se definitivamente de Portugal rumo a Oriente e a prova-maior disso era o espaço que a empresa veio a habitar, no centro industrial da TMG, exactamente onde a gigante têxtil tinha fechado anos antes a sua própria fiação. Mas o foco estava num mercado diferente: os fios diferenciados, feitos à medida, que as marcas cada vez mais exigem com rapidez e flexibilidade.

“No início tivemos de nos esforçar para explicar, até mesmo às pessoas que contratamos, que já vinham com experiência em fiações, que o projecto precisava de ser diferente para ser sustentável. A era das fiações 100% algodão já tinha terminado. O mercado dos fios de maior simplicidade tinha saído de Portugal e nós sabíamos que não ia voltar”, lembra Rui Martins, engenheiro têxtil de formação e administrador da Inovafil. É assim, com a ambição sustentada por uma boa dose de realismo, que as bobines começam a operar e a colocar no mercado um conjunto de fios diferenciados.

Com a afirmação do athleisure e da moda desportiva, bem como as frentes mais técnicas da indústria, a procura por fios com características especificas foi crescendo. As marcas fazem experiências com novos e diferentes materiais, e para isso privilegiam lotes mais pequenos e fornecedores capazes de mostrar iniciativa e resposta rápida. “É o espelho de nós como consumidores, cada vez mais procuramos produtos personalizados e adaptados às nossas necessidades”, explica o responsável pela Inovafil.

Ao fim de cinco anos, a empresa tem já um volume de negócios a rondar os 21 milhões de euros e, mesmo perante alguma instabilidade no mercado, a estratégia continua a dar frutos. “Temos duas áreas: uma área produtiva e outra de venda de outros fios. Ainda não temos os números fechados para 2019, mas talvez tenhamos uma ligeira quebra por causa da área das venda. Mas o negócio core, que é a nossa produção, continuou a crescer”, clarifica Rui Martins.

Trabalhar para responder às necessidades emergentes do mercado obriga a Inovafil a manter-se constantemente no pelotão da frente da inovação. Mesmo com um catálogo que já conta com mais de quatro mil referências, a fiação continua a lançar mais de mil fios e misturas por ano que depois chegam a todos os ramos da fileira têxtil, desde a moda aos têxteis-lar, passando pelos setores mais tecnológicos.

Nesta procura por aquilo a que chama de “fios inteligentes, funcionais, técnicos e de performance”, a Inovafil mantém uma relação estreita com a Universidade do Minho, materializada no NIDYARN, um núcleo de I&D para fios inovadores, que ao longo dos últimos anos tem levado à troca de conhecimentos entre os técnicos da Inovafil e os investigadores universitários.

Fios termorreguladores, gestores de humidade ou fibras com zinco são alguns exemplos de artigos em que a procura tem crescido de forma constante. Mas também na área da sustentabilidade vão abundando as novidades, não só nas fibras orgânicas e recicladas, mas em matérias-primas com menor impacto ambiental, como o fio de urtiga, com o qual a Inovafil já venceu um iTechStyle Award, em 2018. “A sustentabilidade é provavelmente a maior janela de oportunidade que a indústria portuguesa tem na actualidade, mas é preciso fazer um trabalho de base e Portugal só se pode destacar se for capaz de responder com garantias e certificações às exigências das marcas e do público”, sentencia Rui Martins.

A aposta em produtos inovadores valeu à fiação o prémio PME Inovação 2019, atribuído pelo Cotec. “Foi até surpreendente, porque éramos a única têxtil e concorríamos com empresas de indústrias tecnológicas”, relembra Rui Martins. Mas apesar dos prémios, o administrador continua a ver o futuro com os pés bem assentes no chão: “Sabemos que vamos perder todas estas fibras quando começarem a ter escala, porque vão sendo replicadas por países com menores custos de produção. Vamos na frente, mas temos de conduzir com os olhos no retrovisor e não podemos nunca parar de inovar”.

A Empresa

Inovafil
Rua Comendador Manuel Gonçalves – Vale São Cosme
4770-578 VN Famalicão

O que é? Fiação focada para fios diferenciados Fundação 2014 Trabalhadores 120 Capacidade produtiva 160 toneladas por mês Principais mercados Portugal é o principal mercado, seguindo-se a exportação direta (40%), sobretudo para a Europa – França à cabeça -, mas também EUA Volume de Negócios 21 milhões de euros

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