“No início tivemos de nos esforçar para explicar, até mesmo às pessoas que contratamos, que já vinham com experiência em fiações, que o projecto precisava de ser diferente para ser sustentável”, explica o administrador da Inovafil, Rui Martins
António Moreira Gonçalves
Quando o grupo Mundifios arrancou com a Inovafil, em finais de 2014, tudo apontava que seria um projecto em contraciclo. O mercado da fiação parecia afastar-se definitivamente de Portugal rumo a Oriente e a prova-maior disso era o espaço que a empresa veio a habitar, no centro industrial da TMG, exactamente onde a gigante têxtil tinha fechado anos antes a sua própria fiação. Mas o foco estava num mercado diferente: os fios diferenciados, feitos à medida, que as marcas cada vez mais exigem com rapidez e flexibilidade.
“No início tivemos de nos esforçar para explicar, até mesmo às pessoas que contratamos, que já vinham com experiência em fiações, que o projecto precisava de ser diferente para ser sustentável. A era das fiações 100% algodão já tinha terminado. O mercado dos fios de maior simplicidade tinha saído de Portugal e nós sabíamos que não ia voltar”, lembra Rui Martins, engenheiro têxtil de formação e administrador da Inovafil. É assim, com a ambição sustentada por uma boa dose de realismo, que as bobines começam a operar e a colocar no mercado um conjunto de fios diferenciados.
Com a afirmação do athleisure e da moda desportiva, bem como as frentes mais técnicas da indústria, a procura por fios com características especificas foi crescendo. As marcas fazem experiências com novos e diferentes materiais, e para isso privilegiam lotes mais pequenos e fornecedores capazes de mostrar iniciativa e resposta rápida. “É o espelho de nós como consumidores, cada vez mais procuramos produtos personalizados e adaptados às nossas necessidades”, explica o responsável pela Inovafil.
Ao fim de cinco anos, a empresa tem já um volume de negócios a rondar os 21 milhões de euros e, mesmo perante alguma instabilidade no mercado, a estratégia continua a dar frutos. “Temos duas áreas: uma área produtiva e outra de venda de outros fios. Ainda não temos os números fechados para 2019, mas talvez tenhamos uma ligeira quebra por causa da área das venda. Mas o negócio core, que é a nossa produção, continuou a crescer”, clarifica Rui Martins.
Trabalhar para responder às necessidades emergentes do mercado obriga a Inovafil a manter-se constantemente no pelotão da frente da inovação. Mesmo com um catálogo que já conta com mais de quatro mil referências, a fiação continua a lançar mais de mil fios e misturas por ano que depois chegam a todos os ramos da fileira têxtil, desde a moda aos têxteis-lar, passando pelos setores mais tecnológicos.
Nesta procura por aquilo a que chama de “fios inteligentes, funcionais, técnicos e de performance”, a Inovafil mantém uma relação estreita com a Universidade do Minho, materializada no NIDYARN, um núcleo de I&D para fios inovadores, que ao longo dos últimos anos tem levado à troca de conhecimentos entre os técnicos da Inovafil e os investigadores universitários.
Fios termorreguladores, gestores de humidade ou fibras com zinco são alguns exemplos de artigos em que a procura tem crescido de forma constante. Mas também na área da sustentabilidade vão abundando as novidades, não só nas fibras orgânicas e recicladas, mas em matérias-primas com menor impacto ambiental, como o fio de urtiga, com o qual a Inovafil já venceu um iTechStyle Award, em 2018. “A sustentabilidade é provavelmente a maior janela de oportunidade que a indústria portuguesa tem na actualidade, mas é preciso fazer um trabalho de base e Portugal só se pode destacar se for capaz de responder com garantias e certificações às exigências das marcas e do público”, sentencia Rui Martins.
A aposta em produtos inovadores valeu à fiação o prémio PME Inovação 2019, atribuído pelo Cotec. “Foi até surpreendente, porque éramos a única têxtil e concorríamos com empresas de indústrias tecnológicas”, relembra Rui Martins. Mas apesar dos prémios, o administrador continua a ver o futuro com os pés bem assentes no chão: “Sabemos que vamos perder todas estas fibras quando começarem a ter escala, porque vão sendo replicadas por países com menores custos de produção. Vamos na frente, mas temos de conduzir com os olhos no retrovisor e não podemos nunca parar de inovar”.
Inovafil
Rua Comendador Manuel Gonçalves – Vale São Cosme
4770-578 VN Famalicão
O que é? Fiação focada para fios diferenciados Fundação 2014 Trabalhadores 120 Capacidade produtiva 160 toneladas por mês Principais mercados Portugal é o principal mercado, seguindo-se a exportação direta (40%), sobretudo para a Europa – França à cabeça -, mas também EUA Volume de Negócios 21 milhões de euros