Regresso às origens
Aos 19 anos, Clara trocou Bordéus por Ourondo, na Covilhã, a terra Natal da sua família paterna.
Clara Fernandes
T38 Dezembro 18
Emergente

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Decidida a contribuir
"Sinto que o meu lugar é aqui e adoro ajudar os outros a criarem as suas marcas"

Aos 29 anos, Clara Fernandes é a primeira doutorada em Design de Moda por uma universidade portuguesa, um título que lhe abriu as portas para a carreira académica. Como Professora auxiliar na UBI, a jovem luso-francesa está decidida a criar novas soluções e novas formas de pensar para a indústria da moda.

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os tempos em que, adolescente, praticou ténis e disputou campeonatos nacionais de França, em Roland Garros, Clara guardou a resiliência, o foco, a crença e a disciplina – mas, acima de tudo, a capacidade de ser rápida na tomada da decisão, qualidade rara e valiosa, pois nada é tão fútil e fatigante como a indecisão.

Clara Eloise Fernandes, que em julho deu nas vistas ao tornar-se, aos 29 anos, a primeira doutorada em Design de Moda por uma universidade portuguesa (UBI), é uma francesa nascida em Dijon, onde cresceu e viveu até aos 15 anos, quando se mudou para Bordéus, onde o pai é diretor de um colégio.

A costela e apelido portugueses vem-lhe do lado paterno – em 1965, o avô João Domingos, natural de Ourondo, uma aldeia beirã que dista uns 30 km da Covilhã, emigrou para terras de França (onde trabalhou no bâtiment), na companhia da mulher Deolinda e do filho de ambos, João Carlos (o pai de Clara) então com seis anos.

Os primeiros indícios de uma óbvia queda para o design e a moda revelaram-se quando ela ainda muito miúda e já se entretinha sozinha a construir coisas e a fazer roupas para as suas bonecas. “Era uma criança muito calma. Bastava darem-me para a mão um bocado de cartão, uma tesoura e fita-cola e eu ficava ali sossegada, na minha vida”, recorda.

Com apenas dez anos já estampava t-shirts que tentava vender às amigas, sem grande sucesso (“não resultava, pois elas não queriam pagar …”), um fracasso precoce que pode muito bem ser a pré-história remota do tema que viria escolher para a tese de doutoramento – The fashion design entreprenneur: skills & solutions to create a fashion related business.

Quando obteve o Bac (diploma final do liceu), sabia já perfeitamente o que queria: estudar Design. Meteu-se no carro com o pai e percorreram a França a visitar escolas, num périplo pouco conclusivo. “O meu pai não estava muito inclinado em pagar propinas superiores a dez mil euros anuais…”, explica. Deixou-se ficar pela Universidade de Bordéus Montaigne, demorando-se um ano no curso de Langues Étrangères Appliqués, um raro momento de indecisão a que não tardou a por um ponto final. Aquilo que estava a fazer não era a sua paixão.

“O que é que eu estou aqui a fazer?”, interrogou-se Clara. E como não foram satisfatórias as respostas que encontrou, decidiu vir estudar para Portugal. O curso de Design de Moda da UBI foi a primeira escolha, até porque precisava de estar ao pé dos avós paternos – um forte cordão umbilical que a ligava ao nosso país.

Tinha 19 anos, quando se meteu ao volante de um velho Peugeot 206, que passara pelas mãos da mãe e da irmã, e atravessou a Espanha, trocando Bordéus por Ourondo, a aldeia dos arredores da Covilhã com uma praia fluvial onde costumava passar três semanas divertidas das férias de verão.

Devido à sua grande ligação à indústria têxtil, em particular aos lanifícios, o curso correspondeu amplamente às suas expectativas. “Tinha tudo o que eu procurei e ainda mais”, garante Clara, acrescentando que a Covilhã também lhe agradou logo: “É uma cidade pequena mas tem vida e é muito acolhedora. Estamos sempre a cruzar-nos com caras amigas. Quando sais à noite sabes que vais sempre encontrar alguém conhecido”.

Enquanto fez o curso e o mestrado, ia ganhando alguns dinheiros com biscates diversos, como a servir à mesa. Depois, fez trabalhos de design, gráficos e de vestuário, em regime de free lance, e teve o seu primeiro emprego na Follow Inspiration, uma start up tecnológica nascida na Covilhã (no entretanto mudou-se para o Porto) que se celebrizou com o wiiGO, um robot/carrinho de compras concebido para ajudar pessoas com mobilidade reduzida.

No entretanto, há três anos, ganhou o concurso para dar aulas no curso de Design de Moda e decidiu optar pela carreira académica, inscrevendo-se no doutoramento que UBI e UMinho abriram nessa área. “A ideia da minha tese foi a de criar novas soluções e novas formas de pensar e trabalhar para uma indústria que precisa de um novo fôlego”, explica Clara, uma jovem decidida, feliz com o que está a fazer (“Adoro ajudar os outros a criarem as suas marcas e conviver com gente que tem ideias fantásticas”) e sem mal entendidos com a vida: “Sinto que o meu lugar é aqui”.

Cartão Do cidadão

Família Vive com o namorado Ricardo, professor de Jornalismo na UBI, e o golden retriever Blue Formação Doutorada em Design de Moda  Casa Apartamento na Covilhã  Carro Mini Cooper de 2010  Portátil MacBook Pro Telemóvel iPhone 10 (a irmã Julie trabalha na Apple)  Hóbis ”Não tempo muito tempo livre, mas gosto muito de sair com os amigos, que agora estão todos no Porto, e de jogar ténis” Férias A rotina é visitar a família – os avós vivem em Cannes, os pais em Bordéus e a irmã em Paris. “Só pago as portagens e a gasolina…” Projetos Retomar estudos de mandarim e fazer um curso de informática Regra de ouro “Manter-se sempre humilde e com a mente aberta para aprender com os outros”

 

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