T10 Junho 2016
Dois cafés & a conta

Jorge Fiel

Mudança
Há pessoas que têm medo da mudança. Eu tenho medo que as coisas não mudem
Private label
Mudámos de estratégia porque no private label os preços são mais baixos e as margens mais estreitas
Sofia Ferreira

Administradora da Longratex tem 55 anos e é licenciada em Matemáticas Aplicadas. Foi professora antes de decidir apostar no mundo dos negócios e lançar a marca de roupa para criança Patachou

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s apelidos mudam. Madalena, a mãe e matriarca, é Silva. Sofia é Ferreira e a sua filha Marta é Teixeira de Sousa. Os apelidos vão mudando mas se há coisa que se mantém inalterada nestas três gerações de mulheres de Felgueiras é a paixão assolapada pela indústria e a irrequietude empreendedora que lhes ferve nas veias. Está-lhes nos sangue.

Nascida numa família com raízes industriais no calçado e mobiliário de escritório, Madalena, mãe de Sofia, foi professora primária mas não descansou enquanto não cumpriu o seu destino e fundou a Longratex, uma fábrica de roupa para crianças.

Segunda nesta linhagem têxtil, Sofia, mãe de Marta – e também de Ana (vive em Londres, onde gere a sua marca de evening wear Sophie Kah) e Inês (20 anos, estuda Gestão na Católica) -, já leva 30 anos de experiência acumulada nos trapos  mas não descansou enquanto não chamou para o seu lado a filha do meio, para a ajudar preparar o grande salto em frente da Longratex.

Marta, 26 anos, que mal acabou Economia na Católica partiu para Londres para ganhar dinheiro e mundo, estava a trabalhar na Oracle (após um ano a aprender numa loja da Trotters, uma cadeia de roupa de criança), mas não hesitou quando, há coisa de dois anos, a mãe a desafiou a voltar a Felgueiras para juntas darem asas à Patachou.

A Longratex nasceu, cresceu e fez o seu caminho produzindo roupa de criança (0-12 anos) em regime de private label para grandes marcas internacionais. Mas quando, há uns bons quatro anos, achou chegada a hora de começarem a apostar numa marca própria, lembrou-se do nome fofo e carinhoso do cão de umas deliciosas aventuras que lia quando era jovem liceal – e registou o nome Patachou.

“Mudámos de estratégia porque no private label os preços são mais baixos e as margens mais estreitas. Há pessoas que têm medo da mudança. Eu tenho medo que as coisas não mudem”, graceja Sofia, que preferiu os filetes de pescada aos de polvo, na Casa da Inês, um dos restaurantes do Porto que mais frequenta.

Há dois anos, com a transfusão de sangue novo que a chegada da Marta significou, a Patachou começou a levantar voo – já vale 40% dos cinco milhões que a Longratex fatura (99% na exportação) e está presente nas melhores e maiores cadeias internacionais de Department Stores (Selfridge, Neiman Marcus, Fenwick, Harrods, El Corte Inglès, Barneys, Harvey Nichols, etc).

Uma pessoa menos exigente ficaria satisfeita com tão bons resultados em tão pouco tempo. Não é o caso de Sofia, que fixou a ambiciosa meta de até 2020 duplicar o volume de negócios da Longratex e de o peso da Patachou nesta faturação subir para 70%.

Cumprir este objetivo implica muitas horas de voo, inúmeras noites dormidas em hotéis por esse mundo fora, mas isso são “peanuts” para a Sofia (“Mal me sento no avião, adormeço logo”), que faz questão de levar a Marta consigo para todo o lado (“Eu e a Martinha andamos sempre juntas”).

“A têxtil é indústria difícil, pois estão sempre a aparecer novidades. É diferente todos os dias. O que acaba por ser bom, Não há monotonia :-)!  Dizem que é cansativa. Mas eu ando sempre feliz e contente. Na verdade o que é preciso é ter muita paixão pelo trabalho. Para mim é quase um brincadeira, um jogo”, remata Sofia.

Perfil

Muita e boa gente escolhe Letras (ou Direito) para fugir à Matemática. Com Sofia, passou-se exactamente ao contrário. Foi para Matemática para fugir às Letras, de que não gostava. Acabado o Secundário, em Felgueiras, rumou para o Porto, onde se licenciou em Matemáticas Aplicadas, na Universidade Livre. Depois, deu aulas de Iniciação à Informática, durante dois anos, tempo suficiente para fazer a prova dos nove e confirmar que a vida de professora não era para ela. “Ganhava pouco e não me entusiasmava., Não dava”, explica. Do que ela gostava mesmo não era de ensinar mas sim de aprender a ser excelente no mundo dos negócios e exímia na arte de comprar e vender. Por isso, com um quarto século de vida, um canudo no bolso e as ideias arrumadas na cabeça, voltou à casa de partida, deitando âncora em Felgueiras e no mundo da roupa para crianças

RESTAURANTE
Casa Inês

Rua de Miraflor 20

Campanhã 4300-332 Porto

Entradas: Bolinhos de bacalhau e croquetes Pratos: Filetes de polvo e de pescada, com o arroz de polvo Sobremesa: Rabanadas Bebidas:  Quinta de Castelares branco, água e dois cafés

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