T38 Dezembro 18
Dois cafés & a conta

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Experiência no sector
Antes de ingressar na UBI, Rui Miguel passou pela Penteadora, Paulo Oliveira e Manuel Lopes Henriques
Especialistas em Design
AUBI apostou no Design de Moda, onde lecciona os três graus académicos - licenciatura, mestrado e doutoramento
Rui Miguel

Rui Miguel é um professor com uma visão muito pragmática e racional do sector têxtil. Como presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis (DCTT) da UBI, quer construir pontes entre a parte criativa e a componente tecnológica. "Os nossos alunos têm a criatividade mas também metem a mão na massa, trabalhando nas oficinas", explica.

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ão há empresário que não se queixe amargamente da falta de engenheiros têxteis, uma espécie cada vez mais escassa – e por isso mais valiosa. Apesar disso, a UBI hesita em ressuscitar o curso de Engenharia Têxtil, descontinuado na viragem do século, quando no horizonte da ITV se perfilava um céu plúmbeo, pejado de nuvens ameaçadores.

Rui Miguel, presidente do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis (DCTT) da UBI não esconde algum cepticismo quanto à viabilidade do relançamento do curso e justifica as reticências com a evolução recente da procura.

No ano letivo 17/18, aparecerem 60 candidatos para as 20 vagas abertas pela UMinho para o único curso de Engenharia Têxtil do nosso país. Mas este ano a procura voltou a cair. As 30 vagas acabaram preenchidas, mas na primeira fase houve apenas 22 candidaturas.

“Estou em crer que não há espaço para a UBI”, resume Rui Miguel, um engenheiro têxtil que conhece o setor por dentro por e por fora – estagiou na Penteadora, trabalhou na Paulo Oliveira, foi diretor de produção na laneira Manuel Lopes Henriques, em Lisboa, onde se demorou três anos (“como experiência valeram por dez anos”), antes de regressar à Covilhã, onde passou pelo laboratório do Instituto dos Têxteis antes de se sedentarizar como professor na UBI.

De quem será a culpa por este estranho desencontro entre a oferta (de empregos de engenheiros têxteis e de vagas no curso da UMinho) e a procura por parte dos pré-universitários? O presidente da DCTT absolve os alunos da responsabilidade por este desajustamento.

“Nas Engenharias os alunos são muito racionais. Mal a construção civil entrou em crise, as vagas para os cursos de Engenharia Civil ficaram desertas. No nosso caso o fenómeno é diferente, pois a têxtil está a atravessar uma fase muito boa. A questão é que em vez de uma formação em banda estreita, como a Engenharia Têxtil, os alunos preferem outras de banda larga, com um leque de saídas mais abrangente, como a EPGI-Engenharia de Produção e Industrial”, explica Rui Miguel.

Os empresários estão a perceber isso e pragmaticamente colmatam a escassez de engenheiros têxteis através da reconversão de engenheiros de químicos, mecânicos, eletrotécnicos ou EPGI.

Também pragmática, a UBI apostou no Design de Moda, onde lecciona os três graus académicos – a licenciatura, dois mestrados (Design de Moda e Branding e Design de Moda, em parceria com o IADE) e um doutoramento, (com a UMinho) – em que estão envolvidos cerca de 200 alunos.

“Apostamos em ser a escola que melhor consegue fazer a ponte entre a parte criativa e a componente tecnológica. É por isso que somos procurados. Os nossos alunos têm a criatividade mas também metem a mão na massa, trabalhando nas oficinas. Não levam os trabalhos para casa, para serem executados por uma costureira ou pela mãe que trabalha numa fábrica. Fazem-nos aqui, na faculdade”, conclui Rui Miguel, um professor pragmático e racional que se fosse hoje muito provavelmente não voltaria a fazer Engenharia Têxtil – mas talvez EPGI ou Design de Moda.

Perfil

Nasceu na Covilhã, sendo o mais velho dos três filhos que foram o fruto do casamento de um trabalhador dos serviços municipalizados com uma doméstica. Mas tinha um tio debuxador, que emigrou para o Norte e trabalhou na Têxtil do Mindelo, pelo que não fugiu à regra de que toda a gente na Covilhã tinha sempre alguém da família na têxtil. Quando acabou o liceu, no ano do 25 de abril, planeava ir estudar Engenharia Mecânica na FEUP, mas mudou de ideias em face da abertura de Engenharia Têxtil no então Instituto Politécnico da Covilhã. “Bem vistas as coisas na têxtil também havia máquinas…”, explica, com um toque de ironia, o aluno nº 7 do primeiro curso de Engenharia Têxtil da UBI - universidade onde viria a deitar âncora como professor após dez anos de nomadismo, em que passou pela capital, três fábricas, o Instituto dos Têxteis e ainda deu aulas de Matemática no secundário. Casado com uma empresária, têm duas filhas: a Raquel, 35 anos, que já lhes deu um casal de netos e ajuda a mãe a gerir uma cadeia de salões de cabeleireiro, e a Beatriz, 26 anos, que está no mestrado de Economia da FEP

RESTAURANTE
Puralã

 Entradas: Tomate com mozarela, salmão fumado e polvo com molho verde Prato: Javali com molho de frutos vermelhos Bebidas: Água, Quinta dos Termos Riesling e um café

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