T48 - Novembro 19
Dois cafés & a conta

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o que é bom é bom
"Na Who’s Next tive um cliente desabafou: ‘Ainda bem que estão cá, pois eu não quero mais nada
da China”
Um empresa tailor-made
"Temos 115 pessoas em duas grandes linhas de produção, mas as restantes trabalham em pequenas células"
Nuno Sousa

"Temos vindo a conquistar clientes a um bom ritmo. Todos os dias chegam propostas de novos clientes, que estão a voltar da Ásia", afirma Nuno Sousa, o responsável pela área de Produção do grupo Flor da Moda

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á coisa de dois anos tivemos a consciência de que andávamos a cometer alguns erros e resolvemos parar, para repensar o nosso futuro. Envolvemos toda a família nesta reflexão e concluímos que para evitar a contaminação nas decisões só teríamos a ganhar se separássemos a indústria do retalho e adotássemos de uma gestão profissional autónoma para cada uma destas duas áreas”, explica Nuno Sousa, que escolheu almoçarmos no Pedra Furada, o restaurante que usa no dia a dia como cantina, até porque fica a umas centenas de metros da Flor da Moda.

Nuno ficou à frente da indústria, é o homem da ferrugem, enquanto a sua prima Rute assumiu o comando do retalho, uma área fervilhante de novidades – o refrescamento da marca Ana Sousa, o lançamento da nova insígnia Temperatura, que tem as mulheres mais jovens como target, bem como uma operação de lifting em todas as lojas da cadeia.

A temperatura na área industrial é excelente. “Temos vindo a conquistar clientes a um bom ritmo. Todos os dias chegam propostas de novos clientes, que estão a voltar da Ásia. Na última Who’s Next tivemos um contacto que desabafou: ‘Ainda bem que estão aqui, pois eu não quero mais nada da China”, conta Nuno, enquanto comíamos o galo do Pedra Furada (premiado em 12 dos 13 concursos Galo de Ouro promovido pela Câmara de Barcelos) regado por um vinho da quinta da família Sousa.

A Ana Sousa ainda é o principal cliente da Flor da Moda. O ano passado valeu 55% do seu volume de negócios, que rondou os 16 milhões de euros. “Ainda há bem pouco tempo eram 80%…”, nota Nuno, que fixou como objetivo reduzir esse peso para 40% no prazo de dois anos no quadro do esforço para atenuar a dependência da marca que leva o nome da sua mãe, libertando capacidade industrial para acomodar a nova clientela.

A Flor da Moda está a crescer nos States (à boleia de guerra comercial EUA/China) e a perder ligeiramente na Alemanha, mas os mercados nórdicos têm um peso cada vez mais importante. E em Itália as coisas estão a correr muito bem.

“Crescemos porque somos bons. Sabemos fazer tudo de Senhora. É claro que a imagem externa do país ajuda muito. Portugal está na moda porque sabemos fazer muito bem”, declara, satisfeito, o gestor da Flor da Moda, que trabalha em regime de private label (“Eles vêm cá, analisam a nossa coleção, alteram o estampado, mudam os botões e já está”) com marcas como a Cacharel, Zadig & Voltaire, Terre Bleue ou Victoria Beckham.

A flexibilidade é um dos grandes trunfos da Flor da Moda. “Somos muito versáteis. Fazemos o fato à medida do cliente. Temos 115 pessoas em duas grandes linhas de produção, mas as restantes trabalham em pequenos células, de cinco a sete trabalhadores, o que nos permite estar a produzir oito modelos diferentes ao mesmo tempo”, garante Nuno Sousa, um gestor empenhado, que para chegar para as encomendas tem dez fábricas nas redondezas, num raio de 10 a 15 quilómetros, a trabalhar em exclusivo para a Flor da Moda – e não pára de investir em equipamentos, para ser capaz de produzir mais e mais rapidamente com as mesmas pessoas.

Perfil

Nasceu em Pereira, Barcelos, em casa dos pais, Ana e João, que cinco anos mais tarde iriam criar a Flor da Moda, nos baixos da casa de uma tia. Desde pequeno habitou-se a olhar para a fábrica como uma segunda casa, pois a primeira era só para dormir. No tempo de aulas fazia os trabalhos de casa na fábrica. Nas férias grandes, os primeiros 15 dias estavam a 100% reservados para a brincadeira, mas nos restantes dava uma mão no chão de fábrica - tanto ajudava na limpeza do armazém como ia para as máquinas. “Só não passei pelo escritório”. Chegado ao 12º ano escolheu Economia (na Lusíada) por achar que era a formação mais adequada para ser útil na empresa. Não chegou a mudar-se para o Porto - ia e vinha todos os dias, num jipe Patrol dado pelos pais. Em 1999, no final do curso, a mãe preferia que ele começasse a carreira fora, mas prevaleceu a vontade do pai, que o queria logo ao seu lado. Casado com Isabel (que conheceu em trabalho, quando ela era supervisora de loja na Charles), têm um filho, Nuno, de sete anos e moram em Pereira

RESTAURANTE
Pedra Furada
Rua de Santa Leocádia 1415
Pedra Furada
4755-392 Barcelos

Entradas Tripas enfarinhadas, pataniscas e bolinhos de bacalhau Prato Galo assado no forno recheado à moda de Barcelos Bebidas Quinta do Barco Grande Escolha Loureiro, e dois cafés

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