Que futuro?
T59 - Dezembro 2020

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP
E

stamos a entrar numa nova década e os próximos 10 anos já têm certezas e oportunidades anunciadas, ainda que estas só se tornarão realidade se as construirmos.

Uma das certezas, será o contínuo crescimento da população mundial durante esta década dos atuais 7.8 para 8.5 mil milhões, dos quais 85% viverão em países em via de desenvolvimento. Os residentes em Portugal serão menos e mais envelhecidos ficando a população abaixo de 10 milhões e em decrescimento.

A outra certeza anunciada terá a ver com a contínua ultrapassagem, em termos de PIB, dos países de leste que aderiram à União Europeia neste século, relegando Portugal para a cauda do ranking do PIB per capita.

Perante estas certezas o que devemos fazer para tornar este país mais atrativo para investir e promover o crescimento da economia e população contrariando o futuro previsto.

Esta pergunta parecendo particularmente difícil de responder, não o é. As respostas são razoavelmente simples, se olharmos para os países com melhor desempenho que Portugal, facilmente identificamos as causas do seu sucesso.

Falamos de fiscalidade que estimula o investimento, educação adequada às necessidades da economia (ensino profissional robusto), legislação laboral flexível que permite valorizar quem é competente, sistema judicial eficaz e célere, grandes incentivos à inovação e colaboração entre empresas e centros tecnológicos e universidades, sistema financeiro que suporta projetos e não somente crédito ao consumo.

No caso do têxtil e vestuário, as respostas para o crescimento são igualmente simples?

Seriam muito mais simples se as condições anteriores se verificassem, mas continuarão a existir oportunidades apesar do pesadelo que a maioria das empresas está a viver no atual contexto da pandemia.

A partir do próximo janeiro e do ano 2021, muito do nosso futuro estará em jogo, porque vai iniciar-se o processo de consulta da Comissão Europeia sobre a nova estratégia para o setor têxtil e vestuário.

A EURATEX, ATP, as restantes associações europeias, bem como as empresas, terão um papel crucial neste período de consulta que deverá durar 6 meses (durante a presidência Portuguesa). Até final do ano deverá ser apresentada pela Comissão esta nova estratégia que vai ter fortes implicações nos incentivos à inovação, digitalização, formação e competências, sustentabilidade e economia circular, bem como no posicionamento da UE em termos de acordos comerciais e nivelamento do acesso ao mercado Europeu.

As exigências que somos obrigados a cumprir no acesso a outros mercados têm de ter a mesma reciprocidade para os produtos desses países poderem aceder ao nosso mercado. Bem como as exigências feitas aos produtores europeus em sustentabilidade deverão ter a mesma reciprocidade no fabrico dos produtos externos à UE, para desta forma nivelarmos o campo de jogo.

As nossas oportunidades estarão ligadas à criação de uma economia mais sustentável ao logo desta década.

Teremos todos nós como consumidores de avaliar os produtos que compramos e verificar se merecem a nossa opção de compra levando em conta a sustentabilidade social e tecnológica da sua produção.

A economia circular e sustentável veio para ficar, a população do planeta vai continuar a crescer e colocar uma pressão gigantesca na questão climática e na nossa sobrevivência a longo prazo; quem for capaz de produzir de forma sustentável aos custos da produção habitual terá um mercado enorme e em contínuo crescimento para os seus produtos.

As dificuldades a ultrapassar e as inovações a desenvolver serão muitas, juntando as fracas leis que o país tem de suporte às empresas que investem, ainda tornará esta dificuldade maior, mas se uma vantagem temos é estarmos habituados a não ter facilidades.
Bom ano 2021 e boa década 2030.

Partilhar