Energia – ao sabor do vento
T67 - Novembro 2021

João Costa

Membro da direção da ATP e presidence da ASM
A

crise energética, coincidente com o alívio da pandemia, que se tem materializado em acentuadas subidas dos preços do gás natural e da eletricidade no mercado grossista, está a criar dificuldades às empresas com maior intensidade na utilização de energia, especialmente Fiações, Tecelagens, Tinturarias e Acabamentos. A partir do início do verão, os preços do GN no mercado grossista – que em 2019/20 andavam na média dos 15€/MWh, e de janeiro até abril de 2021 entre os 15-20€/MWhn- iniciaram uma escalada que culminou nos 116€/MWh no início de outubro (mais de sete vezes superior ao preço médio de 2019/20), tendo, a partir daí, invertido a trajetória até valores da ordem dos 65-75€/MWh no início de novembro. 

A tendência é, porém, no sentido descendente para o resto do ano e para 2022 e seguintes. E o preço da eletricidade evidenciou idêntico comportamento. De um preço médio na ordem dos 40-50€/MWh até abril de 2021, atingiu um máximo de 297€/MWh no dia 7 de outubro. Tem igualmente vindo a declinar desde essa data, mas ainda se encontra, no início de novembro, em mercado diário, na ordem dos 170€/MWh, embora também com tendência descendente para o resto do ano e para 2022 e seguintes. 

A transição energética que tem vindo a operar-se na Europa – e na qual Portugal, por opção política do Governo, pretende ser campeão -, com orientações no sentido do abandono das centrais a carvão e com aplicação de taxas elevadas por emissões de CO2 (em que a produção a carvão, por ser a que mais emite, é a mais penalizada), deixou a produção de eletricidade muito dependente das renováveis, e em especial da eólica, e tornou as produções não renováveis demasiado caras. 

Portugal tem bastante potência instalada de produção eólica, na ordem de 5.500 MW, o que é bom quando há vento, porque os custos variáveis de produção são nulos, mas, pela sua volatilidade e intermitência, torna necessária a existência de centrais de “backup” que garantam a produção quando o vento falha. Como houve pouco vento nos últimos meses, a produção eólica foi bastante reduzida (por vezes menos de 20% da produção em meses normais), o que obrigou a intensificar a produção com GN, aumentando o consumo deste. 

A central a carvão de Sines, com 1.256 MW de potência, foi encerrada a 15/01/2021, e a do Pego, com 628 MW, estava para encerrar a 30/11/2021. A partir de 1/11/2021, a Argélia encerrou o Gasoduto Magrebe/Europa, que passa por Marrocos, e que estava em funcionamento desde 1/11/96, e pelo qual exportava cerca de 10.000 milhões de m3 de GN por ano para Espanha e Portugal. Pretende compensar este fornecimento através do outro gasoduto (que não passa em Marrocos) existente desde 2011, mas este já opera na sua capacidade máxima de 8.000 milhões de m3 por ano, e por aumento das exportações, por via marítima, de GN liquefeito, o que pode determinar o aumento do preço. 

Entretanto, o sobrecusto das produções de eletricidade em regime especial converteu-se em ganho, o que, juntamente com outros fatores, vai permitir uma redução das elevadas tarifas de acesso às redes. A redução apresentada pela ERSE ao Governo, é de 94% para MAT, AT e MT, e entrará em vigor a partir de 1/01/2022. Como as tarifas de acesso às redes representam, em MT, cerca de 40% da fatura (com preços da eletricidade normais), esta terá uma redução de cerca de 37% do seu valor, o que permitirá atenuar os custos das empresas.

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