Se sonharmos, ele virá
Após um minuto no micro-ondas, este fato de proteção reutilizável fica desinfetado e pronto para outra utilização
Para os que não podem ficar em casa
T51 - Março 2020
Acabamentos

Katty Xiomara

Neste momento difícil, Katty deixa-se de escárnios e zombarias e quer homenagear. Todos os que ficam em casa, mas sobretudo aqueles que não podem ficar em casa. Para os que cuidam da nossa saúde deixa a ideia de um fato de proteção reutilizável, simbólico e utópico, mas que é também um desafio à I &D e capacidade de inovação do nosso setor. E porque não?

Sendo a Covid-19 um tema inevitável, o alvo mais fácil para estampar nesta página seria a Ministra da Saúde, Marta Temido, que diariamente atualiza, em voz tremida, os números crescentes da conquista desta pandemia.

Ela seria de facto a vítima perfeita, mas penso que a nossa ministra já tem material suficiente para se elaborar um longo dossiê e, embora até possa concordar com algumas, acredito sinceramente que este não é o melhor momento para desmoralizar.

Necessitamos, pelo contrário, de encorajar, de dar força e de ajudar. E a ajuda que nos pedem é a mais fácil de sempre. Não fazer nada! Não mexer em nada e, essencialmente, não visitar nada e ficar em casa.

Nesta edição não vou pelos escárnios e zombarias, prefiro homenagear. E penso que o posso fazer em nome do T Jornal, em nome do setor têxtil, em nome da moda e, porque não, em nome de todos os portugueses. Porque sei que todos queremos agradecer, agradecer a todos aqueles que ficam em casa, mas ainda mais a todos aqueles que não ficam em casa, porque deles depende o funcionamento das nossas vidas.

Graças a eles ainda temos luz, água, gás, comunicações e principalmente medicamentos, bens essenciais e alimentos. Queremos também oferecer o maior dos agradecimentos, em tom de canto, de aplauso – e neste caso de desenho e palavras – aos nossos profissionais de saúde que se desdobram para nos acudir.

Hoje são eles o alvo desta crónica que num ato tão simples como simbólico lhes agradece, embora com imenso desgosto por não passar de uma ideia no papel, algo utópico e improvável… Talvez a génese desta ideia possa ser levada a sério e mobilize as capacidades do nosso setor têxtil e de investigação em prol de uma proposta real e autêntica.

Pensamos assim num fato de proteção reutilizável, que para se desinfetar deverá ser colocado um minuto no micro-ondas, ficando de imediato pronto para uma próxima utilização. Fazemo-lo acompanhar de um potente capacete com pequenos aspersores de solução hidro-alcoólica e um compacto pack de luvas de silicone ultrafino, sendo que cada par incorpora mais 11 pares, todos eles encaixados na primeira colocação, para evitar a exposição contínua do corpo às balas desta guerra vírica.

Esta fatiota é sem dúvida mais uma ideia futurista do que realista, mas nasceu em casa… nas máscaras que uso para ir ao supermercado, feitas com restos de tecidos e lavadas com água a ferver e sabão. Atenção, isto não é um conselho, pois não sei se de facto é fiável, mas assim evito consumir máscaras que são mais urgentes para outros, e no mínimo, tranquiliza-me.

Estamos a vivenciar um episódio sem precedentes na era moderna. A Covid-19 surpreendeu a nossa sociedade tão pouco habituada ao verdadeiro caos mundial. Acreditamos tão pouco nas calamidades, que mesmo após cenários tão drásticos, ainda tentamos desmistificar a velocidade do vírus e desvalorizar as medidas impostas pelos distintos países.

O que sugere, que esta dura lição nos deixará apenas um pequeno amargo de boca, pois a necessidade urgente de que tudo volte a ser o que era nos fará esquecer sem apreender. Obrigada a todos os portugueses que não podem ficar em casa!

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