T54 - Junho 2020

Que estratégia para setembro com a reabertura das feiras?

Depois de meses de interrupção no calendário de feiras, Setembro anuncia-se co o o mês da retoma, mas entre os expositores portugueses parece reinar ainda um clima de incerteza. Cada empresa desenha a sua estratégia e enquanto uns anseiam pelo regresso, outros preferem esperar pela próxima estação enquanto recorrem às plataformas digitais ou as visitas individualizadas. Em comum uma vontade clara de retomar os contactos e de regressar à normalidade

António Moreira Gonçalves

Depois de meses com a agenda por preencher, setembro promete o regresso das feiras à vida das empresas. Em Paris, a Who’s Next e Interfiliére estão confirmadas para os dias 4 a 7, enquanto a Première Vision mantém as datas de 15 a 17. Em Itália, a Milano Unica já comunicou aos seus parceiros que a próxima edição será efetivamente entre os dias 7 e 9, ao mesmo tempo que no mercado alemão a Munich Fabric Start adotava um formato, mais concentrado, mas também com data confirmada para 1 a 3 de setembro. No mês em que o MODtissimo regressa à Alfandega do Porto para a sua edição 56 (dias 23 e 24), também de Madrid vêm sinais de confiança, com Momad e da Intergift agendadas para os dias 16 a 20.

Do lado dos expositores sobram, no entanto, ainda muitas dúvidas. “A primeira pergunta é se vai haver feiras. Neste momento ainda há uma grande indefinição, não sabemos se serão efetivamente realizadas e se os clientes e designers vão lá estar, é tudo uma grande incógnita”, comenta Paulo Melo, administrador da Somelos, empresa que é presença assídua em feiras como a Première Vision ou a Milano Unica.

Dúvidas que são acompanhadas por Teresa Marques Pereira, global brand manager da Concreto. Especializada em moda feminina, a marca participa regularmente em quatro feiras por estação, mas por enquanto está ainda na espetativa. “Vamos regressar este ano a uma feira, mas ainda não sabemos a qual. Sentimos que as próprias organizações dos eventos não têm estratégias definidas. A comunicação não tem sido a melhor”, afirma.

Mais decidido, Paulo Melo já tem programa definido. “Vamos estar nas feiras que normalmente fazemos, ajustando em tudo ao momento atual em que vivemos. Temos de ter outro critério, com menos espaço, menos mesas e apenas a equipa essencial”, explica.

Com uma estratégia semelhante , João Carvalho, CEO da Fitecom, aplaude os sinais de  reabertura de desconfinamento e vai à luta. “Vamos estar em todas as feiras onde costumávamos estar. Com algumas adaptações e respeito pelas medidas de segurança claro, mas estamos preparados para andar por todo o mundo. Não podemos ficar confinados para sempre, se não em vez de morrer da doença, morremos da cura”, sentencia. Em termos de adaptações, a Fitecom prevê levar a cada evento uma equipa mais pequena, até porque algumas feiras indicam que, como medida de segurança, vão estipular um número máximo de pessoas por pavilhão e stand.

Nuno Mota Soares
"Estamos ávidos de voltar a fazer feiras. Continua a ser fundamental estar cara-a-cara"

Nuno Mota Soares, project & business manager da Barcelcom, partilha a mesma vontade de regressar às feiras e ao contacto olhos-nos-olhos. “Estamos ávidos de voltar a fazer feiras. Apesar de vivermos na era digital, continua a ser fundamental estar cara-a-cara com os clientes, é a melhor forma de mostrar o produto, de contar a história da marca, de perceber o que os clientes procuram”, explica o representante da empresa de Barcelos que aguarda indicações mais precisas da ISPO Munich e da Medica Trade Fair para organizar o seu calendário. Até lá, começa a planear um conjunto de visitas e reuniões para quando as viagens retomarem o ritmo.

Em sentido contrário, Carla Pimenta, CEO da Texser, e António Cunha, Sales Manager da Orfama, preferem esperar por 2021 para regressar às feiras profissionais. O aumento das medidas de segurança, os constrangimentos ao tráfego aéreo e a falta de confiança dos compradores estão entre as principais razões que os fazem aguardar pela próxima estação.

“Neste momento ainda estamos na expectativa. Algumas feiras estão a reatar, mas por enquanto vamos focar-nos em visitas individuais a clientes”, antecipa o responsável da Orfama. Em constante contacto com os seus clientes mais próximos, António Cunha sabe que alguns dos seus parceiros vão também esperar por 2021 para regressar às grandes feiras. “Temos um escritório em França que está a fazer os contactos diretamente com os clientes e neste momento parece-nos que as visitas e apresentações individuais são uma estratégia mais eficiente. As feiras vão continuar a ser importantes, mas nesta fase de indecisão o contacto direto será melhor”, explica.

“Ainda não nos parece prudente voltar às feiras. Até porque ninguém sabe como as medidas de segurança vão decorrer na prática. Não acredito que os clientes façam fila de pé para entrar num stand. E como é que as pessoas vão para a feira? De transportes públicos, numa multidão? Ainda há muitas perguntas por responder”, salienta Carla Pimenta, que para já afasta a presença da Texser nas feiras europeias. “Nós vamos esperar. A única que está em cima de mesa é a viagem a Tóquio, à JITAC. Mas temos de ser prudentes e ainda faltam muitas informações”, reitera a responsável da empresa.

João Carvalho
Vamos a todas onde costumávamos estar. Se não em vez de morrer da doença, morremos da cura"

A mesma estratégia é seguida pela Tintex. “Já tomamos a decisão há algum tempo e não vamos participar em nenhuma feira este ano”, esclarece o Head of Operations da empresa de Cerveira. Para justificar a sua decisão aponta razões de segurança e de mercado. “Ainda não sabemos como serão as normas de higiene e é previsível que o número de visitantes desça a menos de metade”, acrescenta.

Como alternativa – para além das visitas a clientes – as feiras digitais e marketplaces vão se afirmando como uma nova e útil ferramenta para alargar o raio de ação das empresas. “Estamos a aproveitar o marketplace da Première Vision, é uma boa plataforma e este ano podemos colocar 300 artigos em exposição, enquanto nos outros anos eram apenas seis ou sete”, comenta Carla Pimenta, que apesar da quebra nas encomendas já recebeu alguns contactos a partir das plataformas digitais.

O mesmo acontece com a Barcelcom e a Concreto, que registam procura crescente através das plataformas online. “Conseguimos nunca perder o link com os nossos clientes. Temos uma plataforma própria, que já estava implementada e revelou-se fundamental”, comenta Nuno Mota Soares. Do lado da Concreto, a abertura de uma nova loja online durante o primeiro mês da pandemia revelou-se também uma aposta acertada. “Estamos a ter muito feedback, tanto do público como de parceiros e influencers, a loja foi muito bem recebida”, avalia Teresa Marques Pereira.

Para substituir as feiras e o contacto presencial, também a Tintex tem apostado na tecnologia para apresentar os catálogos aos clientes. “Não utilizamos marketplaces porque já tínhamos o nosso próprio canal online. A nossa store já estava em vigor e temos desenvolvido catálogos digitais. Ao mesmo tempo que os nossos clientes estão a abrir o catálogo e a ver os materiais, nós estamos em contacto com eles de forma digital”, explica Ricardo Silva.

Independentemente da estratégia pu das diferentes percepções da realidade, para as empresas têxteis a palavra de ordem continua a ser adaptação. Aos novos tempos, às novas tecnologias, e também à nova dinâmica das feiras. O líder da Fitecom relembra até uma frase que soa a sentença: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.

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