T12 setembro 2016

Os Fashion Films estão a mudar o processo de construção de marcas?

São o perfeito substituto (ou complemento) de uma campanha publicitária tradicional. Casas como a Dior, Chanel, Dolce & Gabanna e Prada já não vivem sem eles. Os fashion film não só estão na moda como, ainda por cima, são a moda em movimento. Portugal não demorou a embarcar nesta nova tendência, potenciada pela explosão do consumo de redes sociais como o YouTube e o Vimeo. O 3º Porto Film Festival é já este mês, dia 24, no Terminal de Cruzeiros de Leixões

Isabel Cristina Costa

É no Porto que se realiza o único festival de filmes de moda português. Chama-se Porto Fashion Film Festival e integra a Porto Fashion Week (17 a 24 de Setembro). Chegar mais longe, a mais gente, de forma rápida e sem investir muito dinheiro justificam o sucesso deste conceito, que é explorado nas várias capitais mundiais da moda.

Há quem diga que os fashion films são a moda em movimento. Juntam-se recursos audiovisuais, técnicas de cinema e de fotografia, e graças à Internet e às plataformas de vídeo (Youtube e Vimeo) chega-se facilmente a novos consumidores (e velhos), de forma rápida e a qualquer momento. Outra vantagem: é uma estratégia barata de marketing. O perfeito substituto de uma campanha publicitária tradicional.

Criatividade, inovação e orçamentos baixos são, na ótica de Manuel Serrão, um dos promotores do Porto Fashion Film Festival, através da associação Selectiva Moda, a melhor receita para a afirmação de marcas, sobretudo de novas. “Os fashion films não estão a mudar o processo de construção de marcas. São é mais uma forma nesse processo e em alguns casos a única de levar uma marca mais longe, de uma forma muito rápida e quase sem custos. Para mim, os fashion films são um caminho novo. Temos a publicidade, as feiras e os fashion films”, sustenta.

Manuel Serrão diz que o conceito está a evoluir, com o Porto Fashion Film Festival a chegar à terceira edição e cada vez com mais participantes – receberam inscrições de filmes de moda dos cinco continentes. “Não sei se há muitos especialistas em fashion films. O que sei é que tem havido uma crescente cooperação entre gente da moda, do cinema e produtores no sentido de arranjar boas propostas para as empresas”, adianta.

Na 3ª edição, o Porto Fashion Film Festival estabeleceu uma parceria com o Madrid Fashion Film Festival e José Murciano, fundador e diretor do Madrid FFF, é um dos elementos do júri (juntam-se-lhe Braz Costa, José Pedro Sousa, Kathryn Ferguson, Luís Buchinho e Patrícia Barnabé).

José Murciano, que conta com mais de 10 anos dedicados à fotografia de moda e publicidade trabalhando com diversas agências e marcas internacionais, vê os fashion films como uma nova ferramenta cada vez mais importante na geração da imagem de marca. “Há casos em que o fashion film é o elemento central de uma campanha de comunicação de uma marca. Recentemente fomos testemunhas da loucura nas redes sociais por causa de um filme de três minutos que Spike Jonze realizou para o lançamento de um novo perfume da Kenzo”, sublinha.

O diretor do Madrid FFF diz ainda que se trata de “uma forma de chegar a mais público, de muitas maneiras, com uma mensagem mais próxima do mundo da arte e do cinema e menos do publicitário”.

José Murciano
“Há casos em que o fashion film é o elemento central de uma campanha de comunicação de uma marca”
Mas para se conseguir um bom filme, é necessário “encontrar verdadeiros profissionais, que dominem a linguagem audiovisual e saibam misturar o conceito estético com uma narrativa impactante, inquietante, divertida ou intrigante”. E acrescenta: “Os diretores e cineastas controlam na perfeição a linguagem audiovisual, mas nem todos têm o código da moda no ADN”.

Aliás, foi precisamente por esta razão que no princípio, quando começaram a surgir os primeiros fashion films, foram os fotógrafos de moda que se lançaram na criação destas peças audiovisuais. Um desses visionários foi o fotógrafo internacional Nick Knight, que no final do ano 2000 criou a SHOWstudio, uma plataforma onde são apresentadas coleções em movimento através de fashion films. As casas Dior, Chanel, Dolce & Gabbana, Prada e Miu Miu já não vivem sem os fashion films para divulgar as suas novidades. Impressionar o consumidor ao ponto de deixar a marca gravada na memória continua a ser extremamente apelativo.

Outra entendida no assunto é Arminda Deusdado. A diretora-geral da produtora Farol de Ideias – outra promotora do PFFF, a par da Associação Selectiva Moda, no âmbito do Programa Compete e do Portugal 2020 -, sustenta que esta “é uma enorme oportunidade para as empresas portuguesas acrescentarem valor às suas marcas e presença no mundo digital”. No entanto, “é preciso conhecer bem” o conceito para se poder tirar o máximo de partido do mesmo.

Por outras palavras, não basta ser criativo, é preciso dominar também a componente técnica. E é fácil para as marcas encontrar no mercado esta ajuda profissional? “Há muitas empresas e realizadores com provas dadas sobre a capacidade de utilizarem a linguagem audiovisual para deslumbrarem, interessarem ou intrigarem o espectador. Seguindo de perto os produtores de curtas-metragens, documentários, filmes ou mesmo escolas de comunicação multimédia acabam por encontrar equipas capazes para a realização de FF”, responde Arminda Deusdado.

BONNIE E O CÃO

Os prémios da 3ª edição do Porto Fashion Film Festival, que terá por palco o Terminal do Porto de Leixões, dividem-se por quatro categorias: Competição Internacional para Filmes de Moda, Competição Nacional para Filmes de Moda de Autor, Competição Nacional para Filmes de Moda de Marca e Competição Nacional para Filmes de Moda Têxteis Técnicos. Há ainda o Prémio “FFF Vogue” atribuído de acordo com a votação do público.

Na 1ª edição, em 2004, “Bonnie”, de Márcio Simões, foi o vencedor absoluto, e ninguém diria que este este filme com a duração de três minutos foi feito praticamente sem orçamento.

Arminda Deusdado
“Há muitas empresas e realizadores que sabem usar a linguagem audiovisual para deslumbrarem...”
Na altura, o realizador José Pedro Sousa, que fazia parte do júri, apelidou o filme de moda inspirado no casal americano de criminosos Bonnie Parker e Clyde Barrow de “absolutamente maravilhoso”. Além de Melhor Filme, recebeu ainda os prémios Melhor Realização e Melhor Fotografia. Na 2ª edição, os melhores fashion films portugueses de 2015 foram: “El Corte Inglés Spring Summer 2015”, “#esetivessemosumcao”, “Goldmud” e “Reflexus”.

Estela Rebelo, diretora do Porto FFF conta que no ano passado tiveram perto de uma centena de filmes a concurso e “a qualidade dos candidatos cresceu muito em comparação com 2014, o ano de estreia do FFF em Portugal. Tivemos mais jovens realizadores a participar e um interesse muito maior da parte das marcas, o que nos faz acreditar que o FFF irá continuar por muitos e bons anos”.

Para Luís Pereira, um dos vencedores da última edição, “o Porto FFF pode ser mais divulgado, está ainda muito fechado no seu círculo e uma iniciativa destas merece mais expressão porque tem imenso potencial enquanto motor para a criação de ideias novas. Portugal precisa de se libertar e de deixar de ter medo de criar”.

“E de tivéssemos um cão?”, Melhor Filme (ex aequo), de Luís Pereira (Showpress) e Pedro Bravo (Kinéma), assenta num dia diferenciador, o press day – dia usual a cada seis meses em todas a agências de comunicação da área de moda, de apresentação em showroom das novas coleções de moda das marcas que comunicam.

“Mantendo a visibilidade necessária e obrigatória das nossas marcas, criámos um ambiente de divulgação de cada uma das marcas sem negligenciar as expectativas do público face ao objetivo final deste dia. Assim, concebemos um filme com conceito criativo da Showpress e produzido pela Kinéma, transformando o press day FW15 numa exibição cinematográfica na tela do Cinema São Jorge, em Lisboa”, conta Luís Pereira.

Por isso, não tem dúvidas de que os fashion films são um ótimo incentivo à produção de conteúdos inovadores. “As marcas devem pensar fora da caixa para se conseguirem reinventar e acompanhar a evolução do mercado, que cada vez é mais imprevisível”, frisa. E deixa o incentivo, seguido de conselho: “Hoje em dia o mercado já disponibiliza tantas ferramentas que o investimento na realização de um filme é muito mais reduzido do que antigamente. Penso que o segredo está na construção de um bom conceito, e que este seja bem pensado e trabalhado”.

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