T50 - Janeiro/Fevereiro 20

O que pode fazer mais o T para ajudar a ITV?

A primeira edição do T – que foi na verdade a número zero – chegou à caixa de correio dos nossos leitores a Agosto de 2015. Ao longo destes quase cinco anos mantivemos o olhar atento sobre o presente e o futuro do sistema têxtil e moda nacionais, sobretudo pela voz dos verdadeiros protagonistas: os empresários, gestores, designers e muitos outros profissionais que no dia-a-dia dão corpo e vida aos projetos do setor. Agora, nesta edição número 50, invertemos a perspectiva, e ao jeito de uma verdadeira caixa de sugestões, pedimos a personalidades do setor para nos dizerem o que o T pode e deve ainda melhorar

António Moreira Gonçalves

Um olhar mais atento para o panorama internacional, dar voz aos profissionais e quadro-médios das empresas e acentuar o foco nas grandes linhas-mestras que distinguem a indústria portuguesa além-fronteiras. São estas as principais sugestões que algumas figuras da têxtil nacional dirigem ao T, para que no futuro aperfeiçoe o seu papel de órgão informativo e de divulgação de todo o cluster.

Com 50 edições já publicadas – às quais se soma uma newsletter diária e um jornal online em constante atualização – o logo do T já se tornou familiar para a grande maioria dos profissionais do setor. Sinónimo de um noticiário alargado, que abrange não só a indústria, mas também a moda e as grandes tendências, o jornal tem cimentado a sua presença, tanto dentro das empresas portuguesas como nas feiras internacionais, onde se apresenta através do T International, a sua versão em língua inglesa.

“O T Jornal tem ajudado a promover e a divulgar, não só o que temos feito bem, através dos exemplos de sucesso da nossa indústria, mas também o que temos de melhorar e corrigir, com a análise dos grandes factores de mudança que o setor enfrenta”, afirma Mário Jorge Machado, administrador da Adalberto Estampados e atual presidente da ATP. Sustentabilidade, Indústria 4.0, Economia Digital e as constantes mudanças no comportamento dos consumidores são alguns dos assuntos charneira que por repetidas vezes têm ocupado posição destacada nas páginas do T.

“O jornal tem desempenhado bem o seu papel, tornou-se um elemento importante e estruturante do nosso setor. Deve manter a filosofia mas aprofundar o âmbito do seu projecto”, comenta João Costa, presidente da Associação Selectiva Moda. “Tem feito um bom trabalho a divulgar a têxtil, até porque esta é uma indústria que segue uma estrada com muitas irregularidades e nem sempre as empresas sabem o caminho a seguir”, acrescenta José Manuel Vilas Boas Ferreira, CEO do grupo Valérius.

“É a voz da vitalidade da ITV portuguesa e da admirável (re)evolução que a inevitável urgência das mudanças a isso a obrigou. Para isso o T já fez e faz muito”, afirma José Manuel Castro, diretor do Modatex. Já a olhar mais para o futuro, José Alexandre Oliveira, administrador da Riopele, quer que o jornal evite “apresentar notícias e declarações sensacionalistas, desprovidas de rigor e de qualquer interesse para o sector e para quem lê o jornal. Deve representar a indústria têxtil e vestuário portuguesa e, consequentemente, ter um alinhamento profissional”.

Um noticiário internacional mais profundo, completo e frequente é outra das sugestões. “O T tem cumprindo a sua missão, mas penso que devia procurar mais informações sobre empresas europeias e internacionais, de forma a permitir que os empresários portugueses acompanhem mais de perto a realidade de outros países, quer em termos grandes grupos, como em termos de gestão, ou de criação de marcas”, propõe Paulo Melo, administrador da Somelos.

Matilde Vasconcelos
“O jornal poderia fomentar a interacção entre empresas, ser um catalisar de parcerias e de networking”

Um desejo que é corroborado também por outros protagonistas, sobretudo tendo em vista a forte vocação exportadora do sector. As questões das variações na economia internacional e da geopolítica, temas como o Brexit ou a guerra comercial entre China e os Estados Unidos várias vezes abordados são fundamentais à informação dos nossos empresários. “Seria muito interessante ter um noticiário internacional, desde as oscilações cambiais ou do mercado das matérias-primas, aos factores de geopolítica que influenciam de alguma maneira a nossa indústria”, sugere João Costa, numa reflexão em que é acompanhado por Mário Jorge Machado: “Penso que é necessário ter mais informações sobre a têxtil europeia, sobre os grandes grupos internacionais e sobre as principais tendências que atravessam o setor além-fronteiras”, sugere.

Mas também a informação mais técnica e especializada que possa ajudar a responder às crescentes exigências da atualidade. “Sugiro a introdução de alguns suplementos para prestar ajuda no que toca a gestão, fiscalidade e oportunidades de projetos no âmbito 2020/2030”, propõe Mário Jorge Silva, CEO da Tintex. “Sinto que existem em muitas empresas deficiências fortes na gestão e na formação correta do preço, arrastando a fileira para perdas desnecessárias, em virtude de terem que concorrer com preços indecentes”, clarifica o responsável pela empresa de Vila Nova de Cerveira.

Matilde Vasconcelos, fundadora e administradora da Trotinete vê a solução para este problema numa maior partilha dentro do próprio setor, que pode ter o jornal como impulsionador. “Seria interessante fomentar a interação entre diferentes empresas, ser um catalisar de ideias e ações conjuntas, de parcerias e de networking. Se estivermos juntos crescemos melhor”, apela a empresária, defendendo a organização de fóruns de debate e espaços de opinião e diálogo.

Dar também voz e protagonismo aos quadros intermédios da indústria, aos técnicos e especialistas é o que sugere também José Manuel Vilas Boas Ferreira. O CEO do grupo Valérius entende que são importantes, para além das dos empresários. “O jornal poderia dar mais voz às segundas fileiras, a um diretor comercial, um diretor criativo ou um designer, por exemplo, porque são profissionais com opiniões relevantes, que nem sempre são ouvidas. Muitas vezes são estes segundos quadros que fazem as coisas acontecerem”, propõe.

A ambição de um jornal como “elemento conciliador entre as diferentes associações”, perspectivando um futuro em que a fileira fale e atue a uma só voz é também expressa por Bruno Mineiro, administrador da Twintex.

Paulo Melo
“O T tem cumprido a sua missão, mas devia procurar mais informações sobre empresas europeias e internacionais”
O empresário do Fundão entende que  para isso, “o T Jornal deve continuar a inspirar e a ser inovador e competitivo”.

Tendo em vista uma maior troca de conhecimentos, capaz de orientar os centros de decisão das empresas, Miguel Pedrosa Rodrigues aponta também para uma perspectiva supra setorial: “O T poderia ter uma abordagem a outras indústrias. O conhecimento é algo transversal a todos os setores e recebermos exemplos da indústria automóvel, da aviação, ou de outras, pode ser um indutor de aprendizagem para qualquer empresa têxtil”. Representante da segunda geração da empresa, o administrador da Pedrosa & Rodrigues acredita que “o setor tem muito ganhar com o contacto interdisciplinar, não só na área da gestão, mas também em design, cultura empresarial, tecnologia e logística”, entre outras.

Das muitas sugestões há uma que destaca a questão central que o assume hoje em dia o tema da sustentabilidade. Mais do que uma tendência, é já um verdadeiro mantra da ITV portuguesa mas que definir e dar credibilidade. “Toda a gente fala em sustentabilidade, mas nem todos sabem o que significa verdadeiramente. Ainda falta muita informação especializada e este é um tema fundamental, que vai fazer toda a diferença já a curto-médio prazo”, avisa o presidente do CITEVE, António Amorim. “É importante traçar uma distinção clara entre o que é e não é sustentável, é preciso exigir a formação de quadros qualificados nesta área, porque pode significar um grande valor acrescentado para a nossa indústria”, reforça.

Também por isso Mário Jorge Silva avança que “seria interessante ter um folhetim sobre inovação responsável”. O administrador da Tintex – que nesta área tem celebrado várias parcerias com o CITEVE – fala também da necessidade de “informações sobre as vantagens em obter patentes”.

No mesmo sentido mas num âmbito mais alargado, José Manuel Castro vê até no jornal a oportunidade de acentuar a relevância da ITV como “um valioso impulsor do desenvolvimento local e de sustentabilidade credível para as atuais e futuras gerações”. O diretor do Modatex entende que a divulgação de matérias relacionadas com a sustentabilidade pode ter um papel relevante em “evidenciar o sentido ético da ITV, fomentando a atração e retenção de jovens qualificados”.

Também a administradora da Trotinete afina por idêntico diapasão: “O foco tem de estar nas boas práticas, quer na gestão como na sustentabilidade ou na responsabilidade social, e divulga-las até um ponto em que se tornem norma e não exceção. Temos de consciencializar as empresas que o dinheiro não é tudo, que há outras formas de crescimento e de enriquecimento”, conclui Matilde Vasconcelos.

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