T33 Junho 18

O que ganha a Moda por Portugal estar na moda?

É uma mais-valia, sim senhor, mas não é só pela visibilidade que o turismo proporciona que o sector da Moda tem garantida a sua afirmação à escala global. Era preciso também aproveitar a onda e investir nas marcas, cuidar da identidade e promover mais fortemente o design português enquanto o país anda nas bocas do mundo. Mas é claro que todos podem ganhar com o facto de Portugal estar na moda.

Raposo Antunes

À partida quando um país está na moda todos ganham com isso. É uma espécie de sistema dos vasos comunicantes da mecânica de fluidos transposto, como é o caso, para a própria Moda. Todos os criadores e marcas contactados pelo T Jornal não deixaram de sublinhar essa mais-valia que representa o facto de o nosso país andar nas bocas do mundo pelas mais variadíssimas razões.

“De facto, temos um país incrível, designadamente no sector do turismo, com excelente gastronomia, praias, lazer, geografia, múltiplas paisagens, cidades muito diferentes umas das outras”, descreve o designer de moda Luís Buchinho, enquadrando assim a questão de Portugal estar na moda e de alguma forma a própria moda poder ganhar com isso.

“Ganha alguma coisa, mas não alavanca a moda portuguesa para o mundo. Nem é isso que vai colocar os designers portugueses na escala global. A moda portuguesa não pode ser vista como um todo. Cada caso é um caso”, considera, valorizando antes a importância que teria para a moda o hipotético investimento de um grupo financeiro nas marcas portuguesas.

Sandra Barradas, fundadora da marca de vestuário infantil CherryPapaya, cruza as duas realidades numa só, dizendo que “a marca Portugal ganhou força e os criadores ganharam visibilidade, o que tem sido excelente para que Portugal deixe de ser visto apenas como produtor de excelência, mas também como um criador de moda”.

Com mais dúvidas sobre esse alegado efeito de alavancagem da moda pelo facto de o país estar em alta, a criadora Katty Xiomara admite que “a moda portuguesa  ganha algum espaço para ser vista e assim perceberem que existe”.

Contudo, diz, isto não é suficiente para que a moda portuguesa passe também a estar ela própria na moda. “A nossa moda necessita ser potenciada de forma consistente para alcançar estrutura e peso na mentalidade de quem nos visita, que, por conseguinte, também leva uma mensagem do que vê e do que compra”.

Katty Xiomra não se refere a uma grande campanha de marketing, “isso seria sem dúvida uma grande jogada”, mas, sugere, “porque não criar um bairro criativo”.

Sandra Barradas
"Ajuda a que além de produtor de excelência o país seja visto também como criador de moda"
E dá o exemplo da cidade do Porto que tem uma grande concentração de artistas, designers, ilustradores, etc., “mas não existe um conceito urbano que os reúna”.

E fala da sua experiência pessoal, dando-a como exemplo: “Eu quando viajo procuro produtos locais que deixem uma marca, algo que possa ir além da lembrança e da fotografia, algo que injecte rapidamente na minha memória sensações e que me ajude a reviver momentos. Penso que, como eu, existem muitas pessoas que procuram produtos autênticos e únicos acometidos pela magia de nos fazer sentir bem!”

Maria Gambina, directora da Escola Superior de Arte e Design (ESAD), em Matosinhos, confessa que sempre se sentiu desconfortável com a questão “O que é que está na moda?”. “Como designer de moda acredito que uma boa coleção é aquela que prevalece no tempo, que tem identidade e design. Talvez por isso sempre tenha sido apaixonada pelos clássicos, um trench coat, um duffle coat, um bomber… já os criei mais de 1500 vezes mas sempre com um respeito enorme pela sua identidade. Mas o que é que isto tem a ver com a questão que me colocam, tudo. Sempre me assustei com o ‘estar na moda’, associo logo a massificação, efémero, banalização. Se o design de moda português tem mais visibilidade por Portugal estar na moda, sim talvez mas espero que isso não afecte, em ambos, a identidade pois é o que vai prevalecer quando deixar de ‘estar na moda’”.

De uma forma pragmática, Rui Maia, International Business Manager da Têxtil Cães de Pedra, entende que “é sempre positivo que Portugal seja falado por boas razões, e colateralmente também para a ITV – infelizmente já se falou muito no passado pelo lado negativo”.

Aponta mesmo o caso dos turistas que nos visitam. “Penso que as marcas nacionais ganham alguma visibilidade com este fluxo e talvez sejam as que melhor proveito podem ter, pois acabam com o diferenciador de exclusividade em relação às grandes marcas internacionais”.

Anabela Baldaque
“Há grupos que fazem o percurso das lojas de criadores e questionam sobre o nosso processo criativo”
Neste caso, diz, o turista praticamente encontra o mesmo produto no seu país de origem e em Portugal. “Então se lhe aparecer pela frente uma marca que não seja tão conhecida e se ela tiver qualidade pode ser uma vantagem para a compra de impulso”, afirma.

“Depois a curiosidade dessa experiência pode levar a querer conhecer melhor essa marca através da web e ter acesso a outros produtos”, acrescenta.

Na opinião de Rui Maia, o passo seguinte em que os agentes da ITV se deveriam concentrar é em promover mais fortemente as marcas portuguesas já implantadas e com alguma escala para associar essas mesmas marcas a Portugal, ou seja: “Temos os exemplos de países europeus, como Itália, França, mais recentemente Espanha, que o consumidor por saber que são marcas desses países fica satisfeito, pois esse produto está associado à alta moda e qualidade e é nisso que deveremos todos trabalhar”.

Aliás, acrescenta, “temos excelentes exemplos com marcas no têxteis-lar onde Portugal é desde logo uma mais valia, e também o calçado com marcas em muito bom nível a equiparar-se a Itália e melhor que França ou Espanha por exemplo”.

A estilista Anabela Baldaque não tem dúvidas sobre a pergunta do T Jornal: “Sim, esse factor impulsiona, faz crescer, divulga, e mexe com a economia local”. Até porque, existem mais pessoas (turistas) em Portugal, nomeadamente no Porto, e isso por si só estimula a possibilidade de venda. “Tenho assistido a grupos de pessoas que fazem o itinerário das lojas de criadores nacionais e nos questionam sobre a área e o nosso processo criativo”, conta.

Em jeito de manifesto, conclui: “Sim, Portugal está na Moda, e isso só nos beneficia a todos. Ficamos com mais vaidade ainda do nosso país”.

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