T22-23 Julho-Agosto 2017

A ITV já está na 4ª revolução industrial?

Boas notícias. A ITV não foi apanhada a dormir na forma e está na vanguarda da digitalização da manufatura, da arte de por as máquinas a falar entre si, sem intermediação humana direta, que é, ao fim e ao cabo, a tal quarta Revolução Industrial, a que os alemães atribuíram a marca Indústria 4.0 para se apropriarem da autoria do conceito. Na têxtil portuguesa, o futuro começou a montante, na fiação e tecelagem, avançando a todo o vapor para a confeção. É uma revolução silenciosa e uma tendência natural, indispensável num setor que sabe que, além de tudo, tem de diminuir os custos laborais e ultrapassar a escassez de mão-de-obra especializada

Raposo Antunes

A Indústria 4.0 é apresentada oficialmente como a quarta revolução industrial. De uma forma prosaica poder-se-à traduzir numa espécie de salto para a “digitalização da manufatura” de muitos setores industriais, mas que a ITV já deu ou está a dar, havendo múltiplos exemplos de empresas que já caminham no futuro.

O Estado promete para a Indústria 4.0 apoios financeiros de 4,5 mil milhões de euros nos próximos quatro anos. Um conjunto de 60 medidas de iniciativa pública e privada que deverão ter impacto sobre mais de 50 mil empresas. E a requalificação e formação de mais de 20 mil trabalhadores em competências digitais.

Foi o próprio primeiro-ministro António Costa quem anunciou este programa de apoios no final de Março. Ao mesmo tempo, o secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, que entretanto abandonou o Governo, garantia que “esta é a estratégia para a competitividade do nosso país num mundo digital”. Assim, foram criados cinco grupos de trabalho (Moda e Retalho, que inclui o setor têxtil, Agroalimentar, Automóveis, Turismo e Audições) para apresentar propostas, nos quais participaram 81 empresas num total de 108 entidades.

Foi neste quadro que surgiu a pergunta: “A ITV já está na Indústria 4.0?”. Paulo Vaz, diretor-geral da ATP, não tem dúvidas: “Sim. Já está.” E explica que se há dúvidas sobre não haver ainda publicamente essa perceção é porque “as empresas da ITV mais avançadas nesse caminho são discretas a dar notícia dos seus avanços”. “Diria mesmo que a nossa indústria está mais avançada que outros setores que fazem essa propaganda”, acrescenta.

Sem avançar com nomes, o diretor-geral da ATP refere que “muitas empresas de quase todos os subsetores de atividade já fazem essa comunicação digital entre as próprias máquinas”, ou, por outras palavras, máquinas das diferentes etapas de produção já estão integradas em rede.

Em termos práticos essa “digitalização da manufatura” começa nas áreas industriais mais a montante (fiação, tecelagem, etc) e vai já até à confeção.

Rui Martins, Inovafil
“A telemanutenção é já uma realidade na Inovafil, bem com o setup informático dos equipamentos”
“É uma revolução silenciosa e uma tendência natural, que começa pela automação têxtil a montante e passa por uma menor intervenção humana em que os operadores já não são operadores de máquinas, mas sim de tecnologias de informação”, explica Paulo Vaz, dando o exemplo da estamparia digital, entre outros. É evidente que “em setores como a confeção ainda não é assim, por várias razões, nomeadamente por não se poder prescindir do elemento humano”.

Também Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, não tem dúvidas que a Indústria 4.0 já é uma realidade na ITV, desmontando mesmo a nomenclatura utilizada: “A Indústria 4.0 não é mais do que uma marca que os alemães construíram para se posicionarem como autores do conceito”.

“No fundo do que estamos a falar é da digitalização da manufatura”, observa, dando de seguida alguns exemplos: “Quando utilizamos um tear que é programado estamos a digitalizar a manufatura; quando se afina uma cor através de cozinhas automáticas, estamos a digitalizar a manufatura; quando o sistema manipula e corta o que se quer, estamos a digitalizar a manufatura”.

Na verdade, para este engenheiro têxtil, “este conceito está no nosso setor há décadas”. O novo, frisa, “é a criação da marca e os motivos comerciais que levam os alemães a apropriarem-se do conceito, estabelecendo que a Indústria 4.0 deve ser uma prioridade de todos os países europeus”.

Braz Costa considera mesmo que o têxtil em Portugal “tem estado sempre na vanguarda da digitalização da manufatura porque sabe que só pode ser competitivo se diminuir os custos laborais”. Elogia ainda a digitalização por esta permitir a “eliminação de muitos defeitos (na produção)”. E conclui que o país no seu todo “não pode deixar de adotar tecnologias que hoje dão pelo nome de Indústria 4.0”.

Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, recorda que a sua empresa “está ativamente envolvida” num dos grupos de trabalho (o do setor automóvel) criados pelo Governo no âmbito da Iniciativa Indústria 4.

Braz Costa, CITEVE
"O setor tem estado sempre na vanguarda da digitalização da manufatura"
0, colaborando nesse âmbito com a Secretaria de Estado da Indústria e a Cotec. “A TMG Automotive procura estar sempre na vanguarda em termos de produtos e processos e tem procurado avaliar o alinhamento da sua estrutura com as guidelines da Indústria 4.0”, frisa.

E dá exemplos: “A nossa filosofia em termos de investimento em tecnologia de topo leva a uma modularidade, flexibilidade, interoperabilidade dos sistemas, descentralização dos processos de decisão – auto-controlo e work-flows colaborativos – já nos permite um avanço considerável em relação aos desafios propostos”.

Adianta assim que “a automatização na TMG Automotive, fator crucial neste tipo de indústria, é já um percurso adotado ao longo dos últimos anos, e em alinhamento com os recentes investimentos”. E aponta com uma estratégia desta dinâmica, “a integração transversal de software, as tecnologias digitais e o desenvolvimento de core-business-módulos internos”.
Rui Martins, administrador da Inovafil, garante que a sua empresa “será uma Indústria 4.0, na certeza que agregará os seus sistemas de rastreabilidade, manutenção, gestão da produção e interface com os clientes”.

Diz também que “o sistema de gestão global, online, das diversas variáveis do negócio, otimizará, a resposta e o serviço aos clientes, fulcral no sucesso futuro”.

De resto, “a telemanutenção é já uma realidade na Inovafil, bem com o ‘setup’ informático de uma parte substancial dos equipamentos”. E estas apostas constituem já “fatores diferenciadores, que atualmente se traduzem numa vantagem competitiva, na produção por encomenda e na rapidez de resposta às solicitações de um mercado, cada vez mais, exigente.”

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