31 Janeiro 20
Economia Circular

António Moreira Gonçalves

Zouri, a marca portuguesa sem pegada ecológica

Todos os tecidos são sustentáveis, desde o algodão orgânico ao cânhamo e ao linho e até a sola é produzida com plásticos recolhidos nas praias portuguesas. As sapatilhas Zouri são um exemplo de economia circular e em apenas um ano faturaram mais de 200 mil euros. Já chegaram a 32 países, foram muito bem recebidas na Neonyt, em Berlim, mas a fundadora, Adriana Mano, é clara: “o foco está em financiar as acções de impacto social”.

A ideia original, tal como depois a matéria-prima, surgiu na praia. “Estava numa recolha de praia, que é algo em já participava há algum tempo, e perguntava-me que utilizações podíamos dar a todo aquele plástico”, explica Adriana Mano, a fundadora e CEO da Zouri. A resposta surgiria-lhe no trabalho como directora de marketing da empresa de calçado AMF. Não tinha a certeza se o plástico podia ser transformado em solas de sapatos, mas tinha de experimentar.

Para colocar a ideia em prática contactou o município de Esposende – “sabíamos que já tinham uma acção massificada de recolha” – com o qual a Zouri viria a estabelecer um protocolo. Em abril de 2018, na primeira recolha selectiva, com a ajuda de 600 voluntários, conseguem uma tonelada e meia de plástico, que depois de triturada e compactada deu lugar a milhares de solas. Desde aí já fizeram outras acções de recolha, não só em Esposende, mas noutras praias, com a colaboração das organizações como a Brigada do Mar (de Lisboa) e a Foca (do Porto).

Depois da sola definida, todos os restantes materiais foram seleccionados de acordo com o impacto ambiental. As gáspeas são produzidas em diferentes fibras, como o algodão orgânico, o linho, o cânhamo ou o pinnatex, uma fibra produzida a partir de folhas de ananases.  “Todas as matérias-primas são certificadas, são made in Europe e produzidas de acordo com as regras do comércio justo”, explica a fundadora da empresa. “Não adianta respeitar o planeta enquanto se desrespeita as pessoas do outro lado do mundo”, acrescenta.

A iniciativa recebeu o apoio da comunidade, num crowndfunding de 10 mil euros, e em dezembro de 2018, a Zouri apresentou ao mundo a sua primeira colecção. No primeiro ano, a marca faturou mais de 200 mil euros, sobretudo através das vendas online, onde chega a 32 países, mas também em concept stores, sapatarias vegan e ecológicas, hotéis e até na loja do oceanário de Lisboa. Entretanto abriram também uma loja própria, no centro de Braga.

O ano de 2020 arranca agora com um bom augúrio. As primeiras grandes encomendas internacionais foram enviadas para grupos de lojas na Bélgica, Holanda e Luxemburgo e a estreia em feiras internacionais – na Neonyt, em Berlim, onde integraram a comitiva From Portugal – correu acima das melhores expectativas. “As pessoas mostraram-se muito interessadas, já nos falaram de diferentes utilizações para este produto”, relata a fundadora da marca, que agora espera vir a materializar esses primeiros contactos e levar as Zouri ao mercado alemão, francês e suíço.

No entanto, Adriana Mano explica que o objectivo do projecto vai muito além das vendas. “As sapatilhas são um símbolo e o objectivo é financiar as acções de impacto social, de forma que não dependamos de mecenas”, explica. A parceria com o município de Esposende levou a equipa da Zouri a realizar acções de sensibilização nas escolas, que entretanto começaram a ser pedidas em muitas outras regiões. Todos os meses vão a pelo menos uma escola ou agrupamento explicar a economia circular aos mais pequenos. “As crianças estão educadas para a reciclagem, conhecem os ecopontos, mas não estão habituadas a pensar na reutilização dos materiais e na própria redução do consumo”, afirma.

Atualmente com três pessoas a tempo inteiro e quatro a colaborar em part-time, o objectivo de Adriana Mano é agora alargar o projecto nesta área, indo a mais escolas e organizando ciclos de sensibilização e formação mais longos. “Quando vamos às escolas deixamos de trabalhar naquele dia, mas o mais importante é criar impacto social, esse é o nosso foco”.

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