11 janeiro 19
Heimtextil

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Têxteis lar verdes e inovadores num ambiente de incerteza

Quando a meio da tarde de hoje começarem a arrumar os seus stands, os 82 expositores presentes na Heimtextil farão balanços diferentes dos quatro dias passados na mais importante feira mundial de têxteis lar. Há boas notícias para toda a gente, como o ter sido uma vez mais feita a prova dos nove de que a etiqueta  Made in Portugal é um fator de competitividade suplementar e de que a nossa indústria está a ser capaz de corresponder à sede de clientes e consumidores por produtos inovadores e amigos do ambiente.

Mas também há razões de queixa da nova distribuição de espaço feita pela Messe Frankfurt, que misturou  no Pavilhão 12.1 a nata no nosso setor com expositores turcos e egípcios.

São cada vez mais os consumidores a perceberam que só há um planeta e temos de por o pé no travão da voracidade com que estamos a destruir recursos naturais finitos. Os têxteis lar portugueses entenderam a mensagem e apresentaram na Heimtextil os resultados das suas apostas atempadas em produtos sustentáveis e amigos da Natureza.

Em grande destaque no stand da Home Flavours (foto) está uma cama cor de rosa, vestida com tecidos fornecidos pela Somelos e produzidos com viscose de caule de rosa.

Earth Colors é a designação dada pela Lameirinho ao novo processo de tingimento, que usa apenas corantes naturais, produzidos a partir de cascas de noz, laranja ou beterraba, e que garante também, através da leitura do QR Code,  a transparência e rastreabilidade de toda a supply chain.

E a JFA orgulha-se das toalhas produzidas com fios reciclados a partir do desperdício da sua fiação e tingidos pela Washedcolors com recurso ao processo Wetamarble que garante um poupança certificada de 80,6% no consumo de água relativamente aos métodos tradicionais.  

Estes são apenas três exemplos luminosos, escolhidos entre dezenas, que demonstram as credenciais verdes dos nossos têxteis lar e ajudam a perceber porque é que estão a ser o subsector mais dinâmico de toda têxtil, com um crescimento de 4,9% nas exportações, nos onze primeiros meses de 2018.

Estas são as boas notícias que os portugueses trazem na bagagem de mais uma presença numa Heimtextil marcada pela inauguração de um novo pavilhão na Messe Frankfurt – o 12 – e a polémica que provocou junto dos expositores portugueses, habituados a terem os seus stands no pavilhão 11, aka Wonderland, onde  expunham apenas os melhores dos melhores.

O primeiro impacto da relocalização no novo pavilhão 12, a conviver com produtores turcos e egípcios de baixa gama, foi terrível para os pesos pesados da nossa têxtil lar. “Horrível”, adjectivou Ana Vaz Pinheiro (Mundotêxtil). “Dramático”, qualificou Artur Soutinho (Moretextile). ”Uma vergonha”, classificou Joaquim Almeida (JFA).

“Perdeu-se muito em termos de imagem. O que temos aqui, tudo misturado, com os stands em cima uns dos outros, não tem nada a ver com o glamour que havia no 11”, reconhece Tânia Lima, da Lameirinho.

Mas há sempre a hipótese de uma visão otimista, tipo copo meio, desta convivência forçada. “Ontem entrou aqui um jornalista americano que depois de dar uma volta pelo nosso stand veio ter comigo espantado pela enorme diferença de qualidade entre os nossos produtos e os dos turcos e egípcios”, contou Carlos Carvalho, da Cotton Couleur  – que não escondeu ter ficado chocado com a nova arrumação decidida pelo Messe Frankfurt.

“Depois da feira, vamos reunir com os expositores e ouvir o que eles têm a dizer sobre esta experiência. Temos ouvido queixas, mas nunca dá bom resultado tomar decisões a quente. Só se pode analisar no fim. Vamos dormir sobre o assunto”, explicou, com ponderação, Maria Alberta Canizes, da associação Home From Portugal, que apoiou a presença de 40 empresas portuguesas.

Até pode ser que depois da estranheza inicial, o novo lay out se entranhe nos expositores portugueses. Mas não é muito provável empresas que investem valores da ordem dos 100 mil euros para estarem na Heimtextil se acomodem a este estado das coisas. 

A 49ª edição da Heimtextil que encerra hoje em Frankfurt bateu o recorde de expositores (3.025) mas apesar de ainda de ser cedo para ter estatísticas oficiais é já claro que o número de visitantes ficará aquém do esperado.

“O movimento tem sido muito inferior ao costume”, reconhece Maria Alberta Canizes. E as primeiras impressões sobre como correram os negócios na feira variam entre o otimismo de empresas como a Adalberto ou a Lasa e uma maior reserva de outras, como a Carvalho (“Tenho reuniões marcadas com 80% das minhas vendas, mas a principal razão que me trás aqui é a procura de novos clientes”, diz Francisco Xavier) ou a Lumatex (“O ambiente tem estado normal. Clientes novos não têm aparecido, mas isso parece ser um mal geral”, graceja António Leite). O nevoeiro de incerteza que paira sobre o negócio têxtil está cada vez mais denso. 

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