08 janeiro 20
Têxteis lar

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Será que o termóstato da Heimtextil está avariado?

Primeira grande feira do ano, a Heimtextil é habitualmente olhada como um indicador avançado da conjuntura que permite antecipar como vão decorrer os negócios no resto do ano –  uma espécie de weather forecast do clima que se vai fazer sentir nos meses seguintes fornecido pelos têxteis lar. Atendendo ao que se passou no primeiro dia (ontem), se a Heimtextil é mesmo um termómetro então é provável que esteja com o termóstato avariado.

Os largos corredores da enorme Messe Frankfurt estiveram ontem particularmente desguarnecidos de gente, comparativamente com a afluência das edições anteriores. Se este despovoamento dos pavilhões não se inverter de hoje até 6ª feira, o dia em que a Heimtextil 2020 fechará as portas, a organização deverá falhar a previsão de receber 67 mil visitantes na edição 50 da mais importante feira mundial de têxteis lar.

Abundam as explicações para este fenómeno. Fátima Antunes, da Lasa, fala dos compradores norte-americanos e canadianos que cancelaram a vinda à Europa devido à instabilidade gerada pelo assassinato pelos EUA do general iraniano Qasem Soleimani – que levou seguradoras a não fazerem seguros de viagem.

Paulo Coelho Lima, da Lameirinho, chama a atenção para o facto da abertura da Heimtexil ter sido demasiado em cima das festas dos Reis, em Espanha. João Almeida, da J.F. Almeida, acrescenta outra pista: a coincidência de calendário com o festejos de Natal dos ortodoxos.

Os dias de hoje, amanhã e depois dirão se os corredores despovoados no dia de abertura da Heimtextil foram uma estranha anomalia, ou um alarmante indicador de tendência, ou um sinal de cansaço e envelhecimento de uma feira quinquagenária – ou tão só a andorinha que não faz a Primavera.

Uma sondagem junto de uma amostra dos 78 expositores From Portugal presentes em Frankfurt, revela que alguns dos mais importantes players dos nossos têxteis lar encaram  o ano novo de 2020 com um misto de apreensão e otimismo.

MoreTextile focada e estruturada

“O petróleo já começou a subir, o que deverá induzir um aumento do custo das matérias primas. E a conjuntura internacional é muito volátil, afetando os nossos principais mercados – os Estados Unidos a braços com a crise no Médio Oriente, a agitação social em França e  as interrogações sobre o que vai acontecer no Reino Unido no pós-Brexit”, explica Artur Soutinho, CEO da MoreTextile.

Mudando para a maneira como olha 2020, da perspectiva do copo meio vazio para a de copo meio cheio, Artur Soutinho refere que após um 2019 instável, em que vendeu a Tearfil (que fabrica fios para vestuário e malhas e não para têxteis lar) o grupo aborda 2020 mais focado e mais estruturado.

“Temos uma estratégia clara, equipas bem organizadas. Os clientes vão reconhecer a qualidade, criatividade e inovação dos nossos produtos”, acrescenta o líder de um dos maiores grupos nacionais de têxteis lar que fechou 2019 com um volume de negócios de 64 milhões de euros e 700 trabalhadores espalhados por três fábricas.

Lasa tem de crescer em 2020

“Os Estados Unidos são uma grande incógnita e não podemos deixar de estar preocupados com a concorrência da Turquia. Mas estou bastante positiva relativamente a 2020. É um ano em que temos de crescer”, garante Fátima Antunes, administradora do grupo Lasa.

Depois de um 2019 em que o grupo Lasa fez um volume de negócios próximo dos 70 milhões de euros, em linha com as vendas de 2018 – ou seja falhando o objetivo de crescer 10%  que se tinha fixado -, a Lasa espera voltar a aumentar as vendas este ano com as suas apostas na sustentabilidade, em produtos diferenciados e na subida na cadeia de valor.

JF Almeida com dois projetos ambiciosos

“2019 foi um ano difícil, mas em que acabamos por conseguir cumprir as nossas previsões. 2020 não deverá ser muito diferente”, explica João Almeida, administrador do grupo JF Almeida, que fechou o ano passado com vendas de 42,5 milhões e tem em curso para este ano dois projetos ambiciosos – abrir uma fábrica no Paraguai para atacar os mercados do Mercosul (em particular o Brasil) e concluir o projeto de i&d iHeatex (tem exposto em Frankfurt, a titulo de protótipo, no seu stand um roupão que aquece a temperatura do corpo de quem o usa, que está a desenvolver em parceria com o CITEVE e o CeNTI.

Lameirinho com ofensiva no Médio Oriente 

“Temos pela frente um ano complicado, marcado pela incerteza e uma grande insegurança a nível internacional, o que é sempre problemático para quem, como nós, vive das exportações”, diz Paulo Coelho Lima, administrador da Lameirinho, que fechou 2019 com vendas de 53,8 milhões – um descida ligeira face às vendas de 2018, compensada por um aumento da rentabilidade.

A Lameirinho tinha em curso uma ofensiva nos mercados do Médio Oriente – muito sexys  para quem fabrica produtos de luxo e hiper-luxo – que poderá ter de ser colocada entre parêntesis se se verificar uma agravamento das tensões naquela região do globo.

Em novembro, Paulo Coelho Lima esteve no Kuwait, Omã e Emirados Árabes Unidos. E para fevereiro tinha agendadas viagens à Arábia Saudita, Bahrein e Qatar que ainda não sabe se vai ou não concretizar.

A incerteza global não afeta o otimismo da Lameirinho, que espera manter este ano o volume de negócios do ano passado. “A nossa aposta não é vender mais, mas sim aumentar a rentabilidade”, conclui Paulo Coelho Lima.

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