27 novembro 18
Retalho

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Rendas comerciais em queda livre nos Estados Unidos

Nova Iorque, Los Angeles, Chicago ou Miami. O cenário repete-se: lojas vazias e lojas pop up compõem o cenário atual das principais artérias comerciais das grandes cidades norte-americanas, onde até há pouco tempo estavam acantonadas em rigorosa concorrência todas as principais marcas do mundo, a começar pelas da moda e confeção.

As principais artérias comerciais não escaparam à reorganização do setor do retalho nos Estados Unidos, que até agora tinha apenas feito desaparecer uma série de lojas instaladas em centros comerciais. Chegada à rua, essa reorganização determinou uma redução significativa nos preços das rendas. Quedas que já chegaram aos dois dígitos, num movimento que já adotou uma designação dramática: Apocalipsis Retail.

Até a sumptuosa Quinta Avenida perdeu este ano a liderança do ranking das ruas comerciais mais caras do mundo, de acordo com o estudo ‘Main Streets Across the World 2018’, publicado pela consultora imobiliária Cushman & Wakefield. A líder do ranking é agora a Causeway Bay, de Hong Kong, apesar de o preço médio das rendas comerciais também ter baixado 4,1% no ano passado.

Segundo o relatório da C&W, o preço médio por metro quadrado da Quinta Avenida derrapou 26,6% em 2018, passando de 28.262 euros em 2017 para 20.733 euros. O mesmo se passa um pouco por todo o lado: a chamada ‘milha de ouro’ de São Francisco, a Union Square, desvalorizou no último ano 17,3%; em Chicago, a North Michigan Avenue, reduziu os preços em 20%; em Miami, na Lincoln Road, os preços caíram 18,5%; em Washinghton DC, na área comercial de Penn Quarter, o tombo foi de 15,5%; e só em Rodeo Drive, Los Angeles, a queda foi mais moderada: apenas 2,2%.

O relatório enfatiza que as conglomerados norte-americanos como a Amazon ou a Nike estão a liderar a transformação das lojas físicas em novos conceitos, como o Amazon Go ou o Nike Live, alterando profundamente os padrões do comércio já nos próximos anos.

Os novos conceitos de loja são apenas a ponta do iceberg de uma transformação muito mais profunda, que tem a ver com a mudança de hábitos de consumo. Nos Estados Unidos, essa mudança evidenciou uma supersaturação da superfície comercial por habitante, numa época em que o tráfego nas áreas comerciais do país diminuiu.

A tendência começou em alguns shopping centres, para agora afetar as principais artérias comerciais das capitais do país. No entanto, existem dois outros fatores que influenciam esse resultado, segundo Sever García, fundador do Grupo SGN, com sede em Nova Iorque: a queda do turismo devido ao impacto do aumento do dólar e os interesses dos proprietários dos estabelecimentos comerciais.

Por outro lado, e segundo aquele responsável, os proprietários das instalações comerciais preferem ter espaços vazios a ocupá-los abaixo de certos níveis de rendimento, para evitarem entrar em uma espiral de erosão dos preços. No mesmo sentido, preferem alugar os espaços a lojas pop up, em vez de assumirem um aluguer mais demorado mas a preço de saldo.

Como conclui o relatório da C&W, é todo um conceito que, aparentemente, está a ser profundamente alterado, e a que proprietários e comerciantes terão que dar uma resposta diferente da que era natural até agora.

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