04 Dezembro 19
XXI Fórum Têxtil

Cláudia Azevedo Lopes

Portugal como “destino ideal para a produção sustentável”

Para prosperar no futuro, a indústria têxtil portuguesa terá de se transformar no destino ideal para a produção sustentável. Quem o diz é Mike Mikkelborg, co-fundador da Pilot Digital e consultor especializado em “buying and sourcing strategy”, na intervenção Fashion Business and Sustainability do XXI Forum da Indústria Têxtil.

“Existe um grande gap na área da produção sustentável que tem de ser preenchido e Portugal é o país ideal para cumprir essa tarefa. Cada vez mais há uma pressão mais sobre as marcas por parte do consumidor, que quer produtos sustentáveis. Logo, eles terão de encontrar fornecedores capazes de satisfazer essas exigências, e não os vão encontrar na China nem no Bangladesh…”, afirmou Mike Mikkelborg.

Para o consultor, a desmistificação do preço de produção em Portugal pode ajudar muito neste processo, até porque esses custos estão gradualmente a aumentar nos países até agora competitivos a esse nível.

“Na verdade, os produtos sustentáveis têm mais 30% de concretizar uma venda quando comprados com um produto normal. Se produzir em Portugal ficar três ou quatro euros mais caro do que, por exemplo, na China, no fim vai acabar por compensar porque se vai vender a peça mais cara sem necessidade de recorrer a promoções, como acontece com os produtos de fast-fashion tradicionais. Isto não são teorias, são factos”, explicou o consultor.

O uso de materiais reciclados – como os retirados do oceano ou resgatados de aterros – e o recurso a opinion makers online e a influencer, agora com mais exposição do que os media tradicionais, são também ferramentas que não podem ser ignoradas pelas empresas, assim como a utilização de big data tools, que ajudam a perceber o que o mercado quer num determinado momento e podem ajudar a têxtil portuguesa a afirmar-se como um parceiro geográfico indispensável.

“Se uma marca vir que está a vender bem um determinado produto e quiser encomendar mais, esse pedido só mais ser atendido na China ou no Bangladesh dois ou três meses depois. Por estar mais perto geograficamente, Portugal pode encurtar esses prazos e torna-se um parceiro mais viável”, justifica Mike Mikkelborg, recorrendo a uma frase de Amancio Ortega para validar o seu raciocínio: “Tem de se dar aos clientes o que eles querem, e fazê-lo mais depressa do que todos os outros”.

“O futuro traz crescimento para a moda, mas não para as empresas de retalho tradicionais. Nunca se viu o mercado a mudar tão depressa. Marcas de milhões de euros podem de um momento para o outro desaparecer. Mas com isto surgem também outras oportunidades para aqueles que ousarem arriscar e perspetivarem novas coisas, e a indústria têxtil Portuguesa tem todas as condições para isso”, completa.

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