19 março 19
Sustentabilidade

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O futuro da têxtil estará nas bananas?

Numa altura em que a palavra de ordem da indústria da moda e do vestuário (mas não só) é a defesa da sustentabilidade do planeta e a supressão do desperdício – o que será conseguido à custa de investigação e inovação – as alternativas surgem das proveniências mais inesperadas e as… bananas são disso uma prova.

A banana propriamente dita tem as finalidades tradicionais que lhe são reconhecidas, mas os caules – onde abundam a fibras – não servem para nada, senão eventualmente como adubo nas regiões de produção.

Investigadores suíços estão a apostar nessa nova vertente potencial do fruto – numa investigação em paralelo à análise de outros materiais, como sejam a urtiga (que várias empresas nacionais já usam), a madeira ou o linho. A intenção é a mesma para todos estes novos materiais: poupar água, matéria-prima que o algodão, por exemplo, gasta em doses substanciais.

A Índia é ao mesmo tempo um dos maiores produtores de algodão e de banana. A água consumida para cultivar algodão é suficiente para suprir 85% das necessidades de um país com mais de mil milhões de habitantes e onde pelo menos 10% não tem acesso a água potável.

Ao mesmo tempo, uma parte da planta que produz bananas, o chamado pseudocaule, tem de ser removida a cada colheita, sendo um custo não despiciendo para os agricultores e um desperdício.

Agora, um projeto conduzido pela Universidade de Ciências Aplicadas de Lucerna, Suíça, investiga formas de converter o pseudocaule das bananas em fios que poderiam ser utilizados na indústria têxtil, resultando num material mais sustentável. “O principal argumento é que, ao contrário do algodão, a fibra da banana é um produto residual”, explica a coordenadora do projeto, Tina Moor, citado pelo jornal The Guardian. “O nosso objetivo é fazer alguns protótipos de produtos têxteis para mostrarmos às empresas“.

Depois de muitas tentativas e erros, Moor conseguiu desenvolver um processo de fiação a partir do núcleo do caule da banana que resultou num fio fino e bonito. A investigadora produziu algumas amostras, que espera poder mostrar aos fabricantes a curto prazo. “O interesse existe, mas a procura é por grandes quantidades de fio”, o que leva a investigadora a argumentar que o ideal é que o processo de produção ocorra inteiramente na Índia, onde existe a matéria-prima em abundância.

As fibras à base de urtigas – já usada pelas portuguesas Filasa e Inovafil – já são uma das matérias-primas usadas pela empresa Swicofil, que usa ainda outras proveniências inesperadas (para além do tradicional cânhamo), como o bambu e o quitosano (conchas de caranguejo e marisco).

Já o fabricante suíço de roupas Calida passou a utilizar o tencel – um material muito sustentável proveniente da madeira. A empresa precisou de quase um ano para desenvolver o produto, depois de gastar oito anos em invenção.

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