01 abril 19
Moda

Cláudia Azevedo Lopes

Maria Reverberada: a capa três em um de Katty Xiomara

Chama-se Maria Reverberada e é a mais recente ideia luminosa de Katty Xiomara: uma capa que pode ser usada de três formas diferentes – ou mais, dependendo da criatividade do utilizador – e que pretende ser um dos primeiros passos de um paradigma de slow fashion que a estilista está a abraçar. Um projeto tão inovador que, revela a estilista, pode até ser patenteado.

Inserida na coleção Maria Mimosa, que desfilou na mais recente edição do Portugal Fashion, a ideia para a criação desta capa chegou a Katty na consequência do tema que serviu de mote à coleção – as memórias da infância e juventude e, sobretudo, do papel que a roupa tinha nessa altura.

“Ao olhar para o passado desta forma mais pessoal percebi que muitas das coisas que me faziam vibrar na moda foram desparecendo. Já não se “namoram” as peças meses a fio antes de decidir comprar, já não duram 20 anos intactas… No meu passado, a roupa era algo precioso. Pensava muito bem antes de investir e tinha de ter em conta as roupas que herdava das minhas irmãs”, conta Katty Xiomara ao T.

Era preciso criatividade para usar as mesmas peças – que duravam anos – de forma diferente ou para adaptar o que se herdava. Foi esse o mote para a criação da Maria Reverberada, uma capa de pode ser usada de três formas diferentes e que desafia o utilizador a encontrar ainda mais formas de utilização, um exercício criativo que pretende pôr o cliente a olhar para a moda de forma diferente e, consequentemente, evitar a compra desmesurada desnecessárias.

Para ser ainda mais sustentável, o processo de corte desta capa permite aproveitar todo o tecido, sendo a única sobra utilizada para fazer o cinto. “Ficamos com um desperdício zero”, revela orgulhosa a designer.

Feita para durar, a capa irá estar disponível para compra em três tecidos e cores diferentes e não se irá esgotar dentro desta mais recente coleção: a ideia é ser uma peça âncora em coleções futuras ou, quem sabe, em edições especiais e limitadas, usando até tecidos que se vão acumulando no stock da criadora e evitando assim o seu desperdício.

Neste processo, também o designer tem que mudar, segundo a estilista, a forma como lida com o seu público e como faz negócio: é essencial ver as pessoas não como consumidores mas como clientes e seduzi-los com a ideia de uma peça duradoura – e provavelmente mais cara – é uma melhor opção.

“Hoje tudo é descartável e consumimos muito acima das suas necessidades. Numa altura em que está mais do que claro que desgastamos desmedidamente o nosso planeta e que uma das indústrias que mais contribui para esse desgaste é a nossa. Sinto uma autêntica necessidade de fazer algo, por mais pequeno que seja, para reeducar o meu método de trabalho e contribuir para a inverter esta forma desligada com que o consumidor compra e usa…”, explica.

De momento, a inovação da Maria Reverberada está com patente estudada, num processo que já está em andamento. “Falamos com os advogados para perceber a metodologia e os passos seguir, percebemos que o mais importante seria preparar a patente para o método de construção da peça e para o fato de ela nos oferecer versatilidade, mais do que nos focarmos no resultado final. A diferença que vale a pena preservar e autenticar é a ideia por trás da peça e não a peça propriamente dita”, completa a estilista.

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