16 setembro 19
Indústria

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Maloka: a filha da love story de Trindade e Robert

No princípio foi a história de amor entre dois adolescentes, que eram vizinhos e moravam no Rhône, entre Lyon e St Etienne. Depois de um pequeno tropeção com pranchas de windsurf, o jovem casal debutou nos trapos, com uma loja no sul de França e uma marca própria: Maloka. Até que, já no século XXI, Trindade Braga e Robert Gimenez decidiram-se a seguir para montante e tornarem-se também industriais – fundando a Faroma, uma fábrica na Zona Industrial de S. Veríssimo, em Barcelos.

“A vida dá-nos um caminho”, sintetiza, com um filosofia aprendida ao longo de mais de meio século, Robert Gimenez, um francês de 55 anos que tinha 14 quando se apaixonou por Trindade (que também é Maria, o nome por que ele a trata na intimidade) e está emigrado em Barcelos desde o ano da Expo de Lisboa.

A decisão de acrescentarem uma componente  industrial a um negócio de distribuição tem-se revelado acertada. Em 2018, a Faroma, que emprega 60 pessoas, facturou 4,6 milhões de euros (99% exportados), um crescimento de 30% face ao ano anterior.

“O mercado interno é muito complicado, com um poder de compra reduzido e milhares de empresas de confecções”, explica Robert, num português perfeitamente compreensível, que começou a aprender há 20 anos, quando Trindade se recusou a continuar a fazer o papel de tradutora – obrigando-o a aprender a língua da família da mulher, que tinha 15 meses quando emigrou para França.

A França, que absorve cerca de 50% das vendas da Faroma, é o principal destino das exportações da Faroma, que também exporta para Espanha (“um bom mercado”), UK, Austrália, Canadá, etc.

A esmagadora maioria da produção da fábrica (mais de 90%) é para as marcas do casal Trindade/Robert – Maloka, Paul Brial (adquirida há três anos, num processo de falência, tem como target um segmento mais alto) e Goze (tamanhos grandes).

“Prefiro ter dez clientes de mil euros a um cliente de dez mil”,  afirma Robert, acrescentando que a presença da sua empresa no online se restringe ao canal B2B. “Os clientes não gostam que nós vendamos na Internet directamente ao consumidor. Não se pode ter tudo”, confessa.

O primeiro negócio de Trindade e Robert foi uma loja de aluguer de pranchas de windsurf em Cap D’Adge, uma estância turística no sul de França que tem 300 mil habitantes no verão – e 30 mil durante o resto do ano.

As coisas não correram bem. Ao fim de seis meses tiveram de fechar as portas. Perderam dinheiro mas aprenderam uma lição. “Para se ganhar dinheiro é preciso perceber o negócio em que nos metemos”, enuncia Robert.

Mudaram de agulha,  reconvertendo a loja de aluguer de pranchas num estabelecimento de prêt a porter, com uma marca própria, Maloka, que eles inventaram a partir da palavra portuguesa maluca. À segunda acertaram. Tinham descoberto o seu caminho.

Começaram por fazer o sourcing em França. Após algumas visitas a Barcelos, a terra da família de Trindade, concluíram que era boa ideia mudar para Portugal a geografia do abastecimento. Em 1998 mudaram o seu centro de gravidade  para o Minho e em 2010 abalançaram-se a porem um pé na indústria.

“Começámos a aprender a sermos industriais com duas costureiras, três máquinas, e no entretanto temos vindo por aí adiante”, resume Robert, um fã da nossa ITV. “Quando comprámos a Paul Brial, a marca colocava parte da produção na China. Acabamos logo com isso. Toda a roupa da marca é feita em Portugal. Não precisamos dos chineses para nada”, garante.   

Voltar a apostar no retalho está nos planos do casal Trindade/Robert, mas apenas a médio prazo, nunca antes de 2022. Para já estão a amadurecer a ideia e têm apenas uma certeza – será com lojas multimarca.

“Não acredito nas lojas monomarca. São muito perigosas. Mas estar no retalho é muito importante, não só em termos de imagem mas também porque nos ajuda a perceber mais rapidamente o que pensa o mercado”, explica Robert. Por alguma razão, durante o último verão, Trindade passou três horas por dia a observar o comportamento e reacção dos clientes na loja que a família mantêm em Cap d’Adge, no Mediterrâneo.

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