21 Março 2018
Indústria 4.0

Raposo Antunes

Inovação e tradição são razões do sucesso da ITV

Somar a inovação à tradição traduz-se na simbiose perfeita que permite à indústria têxtil e do vestuário (ITV) ser competitiva. Foi desta forma que Ana Lehmann, secretária de Estado da Indústria, enquadrou a adopção pelas empresas portuguesas da chamada Indústria 4.0, um projecto co-financiado pelo Governo em 4 mil milhões de euros e que foi apresentado há um ano. Esta terça-feira teve o seu Open Day, numa iniciativa do IAPMEI e Riopele em parceria com o Citeve e o CENti, precisamente nas instalações da empresa liderada por José Alexandre Oliveira, em Pousada de Saramagos.

A responsável governamental explicou, aliás, que não era por acaso que esse Open Day (sessão de demonstração) ocorria numa empresa que correspondia a essa ideia de somar a inovação à tradição, já que desde os anos 50 que a Riopele aposta na inovação e “teve sempre os olhos postos no futuro”.

Lembrou também que a empresa sempre desafiou as universidades e instituições de investigação como o Citeve e o CENti a serem parceiros nos desafios da inovação. E com bons resultados, acrescentando valor naquilo que produz e criando marcas distintivas, como a Tenowa, que estão já no futuro ao utilizar materiais sustentáveis (reciclando fibras e aproveitando resíduos agro-alimentares) nos artigos confeccionados (na foto, desfile de uma colecção desenhada pelo estilista Nuno Baltazar, precisamente da Tenowa).

“É a inovação e essa tradição da ITV portuguesa que vai permitir à nossa indústria ser competitiva”, afirmou, acrescentando que “é uma simbiose que representa um acréscimo de valor superior há soma das duas partes”.

Começando por elogiar o desfile da Tenowa e os projectos em que a Riopele participa em parceria com o Citeve e o CENti, Ana Lehmann apontou-os mesmo como exemplo de que a têxtil portuguesa está já na vanguarda da inovação. “Para aqueles que há uns anos previam o pior para a ITV portuguesa, cito Mark Twain: parece-me que as notícias sobre a minha morte são manifestamente exageradas”, observou.

E o mérito, reconheceu, “é dos empresários do sector, mas também de instituições como o Citeve”, de tal forma que hoje se pode dizer que “a ITV está bem e recomenda-se, é um indústria de futuro e devemos estar orgulhosos na tradição da indústria têxtil”.

Lehman não deixou também de abordar o apoio das políticas públicas à Indústria 4.0, dizendo que “era importante que as empresas soubessem capitalizar o que representa” essa quarta revolução industrial que está em curso. E que “cada vez mais houvesse um maior número de empresas a beneficiar dos avanços tecnólogicos” resultantes da Indústria 4.0. O Governo, de resto, já terá canalizado neste último ano 700 milhões de euros para as empresas (não só do têxtil) entrarem na Indústria 4.0.

A concluir, a responsável governamental enfatizou a importância do ensino profissional, mas também a necessidade de cativar jovens para trabalhar na indústria.

A abrir este Open Day, José Alexandre Oliveira recordou a história de 90 anos da Riopele que hoje tem 1071 colaboradores, exporta directamente 96% da sua produção, investiu 23 milhões nos últimos cinco anos e vai investir mais 10 nos próximos cinco. Explicou a filosofia da empresa assente na máxima 5 mais 5 – cinco anos para ver quem é quem e cinco anos depois de responsabilização dessas pessoas. E não deixou de assinalar uma diferença no tratamento dos poderes públicos entre as empresas portuguesas e as estrangeiras a quem “são estendidos tapetes vermelhos”.

Frisou também a necessidade dos poderes continuarem a apoiar as PME (“e não é uma questão de dinheiro”), tanto mais que a ITV tem futuro, o sector está na moda, mas “precisamos que as pessoas nos respeitem”.

Braz Costa, director-geral do Citeve, elogiou a empresa de José Alexandre Oliveira e outras por terem percebido a vantagem de estabelecer parcerias regulares com o Citeve na área da I&D. “O sector está vivo e mais bem preparado do que há 15 anos, isto porque soube reinventar-se, sendo a ITV uma das áreas que mais está a trabalhar ideias como a economia circular ou a Indústria 4.0, que é a digitalização e automatização dos processos produtivos”.

Já Albertina Reis, responsável pela Inovação da Riopele, e José Morgado, do Citeve, apresentariam depois os projectos desenvolvidos em parceria que estão já concluídos (o Nano.Smart e o R4 Textiles), mas que continuam a ser desenvolvidos pela empresa, ambos bons exemplos da economia circular e da sustentabilidade. E desvendaram um pouco o véu do projecto que está em curso (o Texboost), em que um dos pilares é precisamente a Indústria 4.0.

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