05 setembro 19
Feiras

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From Portugal em Munique é um lugar com muita esperança

Como Dante e a teologia nos ensinaram, um lugar sem esperança é o Inferno. Ora a  embaixada de 42 expositores portugueses presentes na Munich Fabric Start está muito longe de ser um lugar sem esperança. A conjuntura muito instável, marcada pela incerteza, impede as nossas empresas de viverem na paz dos Céus. A nossa ITV não está no Paraíso, mas atravessa o Monte Purgatório com muita esperança e atitude.

“Está bom, muito movimentado. Somos três – a nossa agente na Alemanha está cá connosco – e não temos tido mãos a medir”, conta Nuno Lemos, responsável pela Sanmartin, que fechou 2018 com um volume de negócios de quatro milhões de euros, que espera manter em 2019, “um ano de muitos desafios” – “pelo menos estamos a fazer muito para que isso aconteça”.             

O manequim vestido com um trachten (o traje tradicional bábvaro, ainda muito usado no dia a dia e em ocasiões solenes, como casamentos) rendado, logo à entrada do stand da Sanmartin, dá logo uma ideia da importância da Alemanha para a empresa de rendas de Gondim (Maia). “O mercado alemão é o segundo mais importante para nós, logo a seguir ao italiano”, explica Nuno Lemos.

A Alemanha ser o melhor mercado refúgio, onde é avisado apostar quando soam os primeiros sinais de alarme, é a explicação para o número recorde de empresas portuguesas que vieram expor as suas novidades na Munich Fabric Start que encerra ao fim do dia de hoje.

“Isto é como no futebol. Não se marcam golos se não se rematar à baliza …”, compara Sandra Macedo, da equipa comercial de exportação da Adalberto Estampados, explicando a sua presença com um show room no 1º andar do recinto de uma feira, que “tem vindo a ganhar importância, pois atém dos alemães, já começa a ser muito frequente encontrarmos compradores de outras paragens, desde belgas a dinamarqueses, de holandeses a italianos”.

“Queremos estar na Alemanha com muito mais expressão. Não só através de um agente mas também com um show room permanente. Temos tido bons clientes a passar por aqui – marcas como a Marc O’ Polo. Vamos de Munique com bons contactos. Agora é trabalhá-los…”, diz Tiago Castro, comercial da Lurdes Sampaio.

Esta atitude “hands on” foi um dos segredos do milagre da ressurreição da nossa ITV, que foi o tema de uma apresentação intitulada “The Plortuguese textile and clothing industry” feita ao inicio da tarde de ontem por Manuel Serrão no edificio onde está a componente de sourcing da feira – e onde uma hora antes Elsa Parente tinha recebido, em nome da RDD, o 1º prémio Hightex Award da Munich Fabric Start (duas empresas italianas ocuparam os lugares mais baixos do pódio).

A constante a subida de valor e a aposta nos têxteis técnicos foram,  de acordo com o CEO da Associação Selectiva Moda, as principais razões para os dez anos de crescimento continuo do “melhor e mais completo cluster têxtil da Europa”.

“No seu essencial, a ITV portuguesa é constituída por empresas familiares. Há 20 anos, os filhos dos empresários preferiam a banca ou a informática a irem trabalhar para as fábricas fundadas pelos pais ou avós, pois não acreditavam que esta indústria tivesse futuro. Hoje isso já não acontece e assistimos a uma renovação geracional que nos deixa ainda com mais confiança no futuro”, conclui Manuel Serrão.

Esta fé e esperança no futuro é partilhada por duas empresas de paragens tão diversas como Santo Tirso (Irmãos Marques) e Seia (BW Fashion) que se estrearam em feiras nesta Munich Fabric Start. 

Após 40 anos a produzir malhas para têxteis lar, a Irmãos Marques resolveu aproveitar o facto de ter tricotagem própria para arriscar diversificar. “Os últimos anos não têm sido fáceis”, explica o responsável pela empresa de Burgães que emprega 20 pessoas e fez 850 mil euros de vendas em 2018.

Ao final de 2º dia de feira em Munique, a Irmãos Marques não tinha feito muito contactos –  mas sabe que em tudo na vida é preciso semear e esperar, antes de começar a colher. E a vida não lhe corre assim tão mal, pois no final do 1º semestre estava com um crescimento de 10% no volume de negócios comparativamente com o mesmo período de 2018.       

“É a nossa primeira feira. Quem nos entusiasmou foi um contacto com um cliente alemão de Colónia que conhecemos no último Modtissimo, Viemos ganhar experiência e com as expectativas muito baixas. Está a correr melhor do que esperamos. Fizemos alguns contactos. Vamos a ver no que é que vão dar… “, conclui Bruno Simões, o jovem CEO da BW Fashion.     

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