31 Julho 19
Indústria

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Desafios que o futuro coloca exigem soluções novas

O grande desígnio do próximo mandato será a regeneração do tecido empresarial, promovendo a sua modernidade e preparando-o para os desafios da próxima década. Numa conjuntura marcada por novos fenómenos – como, por exemplo, a digitalização, automação e economia circular  – não se pode confiar nas soluções do presente e menos ainda do passado para responder eficazmente aos problemas que o futuro nos está a colocar.

Esta é uma das ideias fortes do manifesto programático dos novos órgãos sociais, que contempla a elaboração de um novo Plano Estratégico para o setor com os olhos postos em 2030 – e que passamos a reproduzir na integra:

Uma Indústria Integrada, inovadora e global 

Regenerar o sector, ganhar o futuro

 

  1. Introdução

Depois de um ciclo de 10 anos de contínuo crescimento a Indústria Têxtil Portuguesa parece estar a chegar ao fim de um ciclo. Interna e externamente, a mudança está em curso e um novo paradigma para o negócio do têxtil e da moda está a formar-se com grande rapidez, exigindo uma atenção redobrada de modo que as ameaças possam ser transformadas em oportunidades e estas encontrem condições na generalidade – ou pelo menos na maioria – das empresas do nosso sector para serem plenamente aproveitadas.

O fenómeno da globalização, que aparentemente parecia estar a sofrer uma travagem sob a égide das novas políticas protecionistas norte-americanas, continua em enchimento, multiplicando-se a realização de acordos de livre comércio de iniciativa europeia – Canadá, Japão e Mercosur, entre outros, espaço político e comercial onde estamos integrados, promovendo-se assim uma crescente abertura das trocas comerciais, o exponencial aumento da concorrência internacional e a multiplicação de possibilidades de desenvolver novos mercados e encontrar novas clientelas, como nunca antes na história do nosso sector.

Por outro lado, novas e poderosas tendências estão a definir o que será a indústria têxtil e de moda nos próximos anos. À inovação – tecnologia e criatividade, essencialmente expressa no design -, junta-se a digitalização, impondo novos canais de comunicação e de realização de trocas, e a sustentabilidade, numa aceção lata que tocas as vertentes do económico, do ambiental e da responsabilidade social.

O consumidor contemporâneo é informado e tem uma consciência mais ativista, recusando os velhos paradigmas que fizeram o sucesso da “fast fashion” mas com elevados custos em muitas geografias menos desenvolvidos, cada vez menos tolerados, cada vez mais inaceitáveis. Se combinarmos valores, tecnologia e economia circular, estaremos certamente perante um mundo diverso, radicalmente distinto ao que sempre conhecemos e altamente exigente. É esse também um desafio que está colocado à nossa ITV, que não pode confiar nas soluções do presente e menos ainda do passado para responder aos problemas que o futuro já nos está a colocar.

Importa, contudo, sublinhar que o Sector Têxtil e Vestuário português continua a evidenciar uma extraordinária resistência e capacidade de adaptação face aos desafios mais extremos a que vem sendo submetido, mantendo-se como um “cluster” estruturado, integrado e dinâmico.

Embora hoje com menos peso no contexto da economia nacional, ainda assim ocupa um lugar preponderante nas exportações, no VAB e no emprego, no conjunto das atividades transformadoras, continuando a subir na cadeia de valor e apresentando um constante crescimento na sua produtividade, em especial naquelas empresas que conservam uma forte competitividade e capacidade concorrencial à escala global, hoje diferenciadas mais pela engenharia do produto, pela qualidade, pelo “design”, pela criatividade, pela inovação, pela atenção aos temas da sustentabilidade, pela resposta rápida, pela execução em prazos curtos, pela intensidade do serviço e pela logística avançada, e menos pelo simples posicionamento do preço.

É este contexto particularmente difícil e desafiante que o próximo mandato vai encontrar. Não deve haver ilusões quanto às dificuldades que o sector e o país poderão ainda enfrentar, numa lógica de transformação e incerteza da realidade que hoje vivemos, sendo que, mais do que nunca, se impõe juntar esforços, procurar consensos e convergência nas estratégias coletivas a seguir, e usar sempre do indispensável bom senso para garantir a sobrevivência e consolidar a regeneração e a preparação do sector, que não deve ser interrompida.

 

  1. Política associativa

O movimento associativo têxtil nacional não se encontra ainda unificado. Embora a ATP seja indiscutivelmente a maior associação do sector, com mais associados e com as empresas mais relevantes, sob todos os pontos de vista, não se encontra ainda atingido o objetivo estratégico de reunir numa só organização a representação de toda a fileira, de modo a conferir-lhe mais força, mais peso, mais coerência no discurso e na ação, do que adviria certamente maior vantagem para todo o tecido empresarial e para cada uma das organizações que o compõe.

A ATP mantém este desiderato, mandato atrás de mandato, pois está certa da justeza da intenção e, quanto mais não seja, ele será alcançado pela paciência, perseverança e tenacidade, quando a racionalidade ou as circunstâncias se impuserem à falta de voluntarismo dos agentes.

Seja como for, a ATP é já “a” associação do sector, eventualmente mais considerada no exterior, onde é a única filiada nas grandes organizações profissionais, como a Euratex, o IAF ou o ITMF, do que internamente, onde infelizmente as idiossincrasias da política doméstica, muitas vezes de forma incompreensível, permitem conservar entropias.

Neste contexto, a ATP continuará sempre aberta a entendimentos que pressuponham a integração do movimento associativo e o reforço da representação sectorial até à unificação total, dando mais força, mais voz e mais intervenção pública e política à atividade do Sector Têxtil e Vestuário português, em linha e coerência com a sua expressão económica e social no contexto da economia do país, sem, contudo, pelas razões apontadas, tornar esta manifestação de vontade como um objetivo primacial, já que outras prioridades se impõem pela vontade e interesse das empresas, e são essas que têm de merecer maior atenção.

 

  1. Representatividade e lobby” Institucional

Tal como atrás se afirmou, a ATP é a maior, a mais representativa e mais dinâmica das associações da cadeia têxtil e vestuário português, podendo vir a ser, de forma natural e a prazo, a única a congregar a generalidade das empresas da fileira. Mais do que um objetivo estratégico, trata-se de uma realidade em curso, conquistada por adequado trabalho ao longo dos mandatos que se sucederam desde 2003, e que a Associação deverá aproveitar para defender da melhor forma os interesses e anseios das empresas e do sector, e, por extensão, da economia nacional.

Além disso, importa sublinhar que a ATP representa a globalidade da fileira do Sector Têxtil e Vestuário e da Moda, numa acepção lata de indústria, que agrupa, desde a concepção e criatividade, com os designers de moda, passando por todos os subsectores produtivos – incluindo os têxteis técnicos destinados ao STV e a outros sectores de atividade, como a indústria automóvel, aeronáutica, mobiliário, etc. -, que interagem numa lógica de “cluster”, até à distribuição e atividades de suporte, que valorizam a eficiência da cadeia, tornando-a mais competitiva e concorrencial à escala global.

A realidade é hoje distinta daquela que existia há dez ou vinte anos, pelo que a capacidade de a ATP saber acolher a mudança, e responder-lhe positivamente, constitui a razão da sua longevidade e, sobretudo, da sua afirmação e vitalidade, crescendo historicamente sempre quando o resto definha.

A relação com o Poder deverá ser necessariamente isenta, independente e não comprometida, firme e inflexível na defesa dos interesses do Sector e do seu tecido empresarial, o que não é obviamente incompatível com uma atitude de diálogo, crítica construtiva e de negociação, numa lógica de conexão e influência entre as empresas e as instâncias públicas, postura necessariamente inteligente e sensata para alcançar os propósitos de cada vez maior e melhor intervenção, e para fortalecer o prestígio e o peso da Associação e do Sector.

Tudo isto compreende não apenas o relacionamento com o Governo e outros órgãos de poder ao nível interno, mas também com instâncias supranacionais, onde muitas decisões que afectam o nosso Sector são tomadas, seja de forma autónoma, seja por via de organizações,  nacionais e internacionais, onde a Associação está representada, como a CIP, a Euratex, a IAF e a ITMF, onde a ATP tem assumido cargos ao nível do seu “Board”, influindo de forma direta nas orientações estratégicas globais da fileira.

O mesmo se diga em relação à Comunicação Social, uma vez que a construção de uma imagem pública, cada vez melhor, do Sector passa pelo intensificar da comunicação, pelo rigor da informação prestada e publicada, e por uma presença afirmativa e constante nos Media, aliás em linha com o que tem vindo a suceder, em crescendo, nos últimos mandatos, aproveitando todas as oportunidades para que a visibilidade da ITV seja ampliada, valorizada e prestigiada.

Este objetivo, que teve forma de desígnio no anterior mandato, permitiu construir uma imagem claramente valorizada do sector, interna e externamente, amplificar a boa reputação do “made in Portugal” e tornar a ITV nacional num “case study” de sucesso global, de que os projetos “Fashion From Portugal” foram instrumentais, mas indispensáveis, para essa radical mudança de reconhecimento e que, neste mandato, não deve ser descontinuada e até reforçada.

 

  1. Serviços aos associados

Uma associação cumpre tanto melhor a sua missão quanto mais próxima está dos seus associados e, por consequência, dos problemas, das expectativas e necessidades do sector que representa. Isto tem particular acuidade quando o tecido empresarial é constituído por pequenas e médias organizações, com amplas carências em diversos domínios, as quais a associação tem obrigação de satisfazer, no âmbito das suas reais possibilidades e sem entrar em domínios reservados ao mercado, mas colmatando as suas falhas.

Neste contexto, a ATP possui três níveis de prestação de serviços, cujo modelo tem funcionado com sucesso e, portanto, se justifica manter:

  1. Os desenvolvidos internamente, como o apoio jurídico-laboral, a Contratação Coletiva, a informação económica, estatística, comunitária, fiscal e comercial (bolsa de subcontratação), assim como a “intelligence”, desenvolvida internamente pelos seus quadros técnicos e comunicada pelos seus meios de informação próprios, incluindo o T Jornal, físico e online;
  2. Os desenvolvidos por delegação, como a formação profissional (através do Modatex), o desenvolvimento do produto e processo, a consultoria técnica e tecnológica, “testing”, certificação ambiental e metrologia (através do CITEVE e CENTI), a certificação da qualidade (através da APCER), a internacionalização das empresas (através da Associação Selectiva Moda e dos robustos programas “From Portugal”), a promoção da imagem e da criação de moda no Sector (através do projeto “Portugal Fashion”;
  3. Os desenvolvidos por via protocolar, evitando concorrer com entidades e empresas estabelecidas no mercado, mas obtendo serviços, por este meio, para os associados com vantagens económicas e prioridade de acesso, como, por exemplo, com a Altice, o Novo Banco, a EDP Comercial, a Crédito y Caucion, entre muitos outros e variados casos.

Importa ainda referir aqui o Fórum da Indústria Têxtil, a maior e mais prestigiada conferência sectorial do país, e uma das mais reputadas da ITV na Europa, que conta já com 20 edições consecutivas, e que vem desempenhando um papel fortemente agregador, assumindo-se como a Assembleia Magna da fileira, onde anualmente se realiza o “discurso do estado do sector” com objetivo de influência política, sem olvidar qualquer outro, mais de natureza pedagógica, que se consubstancia num conjunto de intervenções de alcance prospetivo e de elevada valia técnica, orientadoras das estratégias individuais das empresas que nela massivamente participam.

 

  1. Desígnios do mandato e serviços da associação

Admitindo que a unificação associativa da fileira têxtil e vestuário, no pouco que resta agregar, se fará de modo natural, o grande desígnio do próximo mandato será a regeneração do tecido empresarial, promovendo a sua modernidade e a sua preparação para os desafios da década e que se elencaram na introdução deste manifesto, que deverá ser acompanhado também por uma reestruturação da Associação, de forma a que se encontre devidamente capacitada para prosseguir o seu papel de agência de desenvolvimento sectorial.

Será igualmente promovida a realização de um Plano Estratégico para o sector até 2030, que constitui normalmente uma referência para todas as empresas e instituições que o compõe, assim como para as instâncias do Poder, na definição de políticas públicas que lhe possam estar dedicadas. Neste plano de estruturação holística da atividade têxtil nacional serão consignados outros objetivos instrumentais ao que presidirá à ação do mandato.

E isso, pelas exigências que coloca, impulsiona e complementa a melhoria constante da ação e desempenho dos serviços da Associação.

Assim, propõe-se para o próximo mandato:

  1. Lutar pela competitividade do sector têxtil e vestuário, numa sua vertente industrial, numa acepção moderna, assente na geração de valor, em que a inovação, a criatividade, a sustentabilidade, a internacionalização e o serviço ao cliente se apresentam como os seus “drives” primordiais;
  2. Prosseguir o aumento da visibilidade da fileira Têxtil e Vestuário e Moda, com o objetivo de intensificar a sua valorização e a sua capacidade de influência, continuando a promover, de forma continuada, consistente e profissional, a imagem e reputação do sector têxtil e vestuário, no país e no exterior;
  3. Reforçar a proximidade da associação aos seus associados;
  4. Captar novos associados em toda a fileira;
  5. Promover a Contratação Coletiva, de forma sempre cuidadosa e responsável, o que exige a conjugação dos desafios da competitividade pelos custos operacionais, com o necessário aumento da produtividade das empresas, a manutenção da paz social e o envolvimento construtivo dos trabalhadores e dos sindicatos nas causas do sector;
  6. Melhorar constantemente os serviços internos aos associados, com especial atenção àqueles que apresentem maiores carências e fragilidades;
  7. Desenvolver projetos que realizem os grandes eixos e desígnios estratégicos do sector, no quadro do plano projetado até 2030, nomeadamente os que pressupõem o reforço dos elementos diferenciadores – inovação e serviço -, aumento da presença internacional das empresas e a promoção da imagem colectiva, no país e no estrangeiro.
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