04 Abril 19
iTechStyle Summit

António Moreira Gonçalves

David Shah: “A Moda deve olhar para Joana Vasconcelos”

Proprietário de várias publicações de moda e vestuário, como a prestigiada revista View, e diretor da DRS Consultancy, especializada em design de marca própria para moda masculina e feminina, David Shah é visto como um dos gurus da indústria da moda. Esteve no iTechStyle Summit 19 para falar de macrotendências e recomenda aos designers portugueses que sigam o exemplo de Joana Vasconcelos.

A sua comunicação não deixou ninguém indiferente. Sob o título “como navegar a tempestade perfeita”, o consultor de tendências e marketing explicou à plateia como o novo mantra do consumo é mesmo o bem-estar. Seja por via da sustentabilidade/defesa do ambiente, do exercício físico, ou do contacto com a natureza.

Habituado a dar palestras um pouco por todo o mundo, o consultor holandês confessa um carinho especial por Portugal e pela indústria portuguesa. É que no seu currículo consta um período de 16 anos, de 1988 a 2004, em que prestou consultadoria de marketing para a extinta Maconde.

É com base nesta experiência local e no conhecimento globalizado de hoje, que em quatro questões o especialista em moda, marketing e comunicação explicou ao T Jornal a sua visão sobre a indústria portuguesa.

Como vê a indústria têxtil portuguesa no panorama internacional?

Felizmente tive o prazer de trabalhar em Portugal e guardo muito boas memórias desse tempo. Penso que as empresas portuguesas são muito bem organizadas e os trabalhadores em geral muito dedicados. Mas desde 2004 muita coisa mudou. Na altura a indústria ainda estava no auge, com empresas muito grandes a operar, isso acabou e agora Portugal tem uma produção muito mais especializada. Acho que o tempo das encomendas em volume não voltará mais. O bolo não vai ficar maior, mas Portugal pode mantê-lo cada vez mais rentável.

E qual é o caminho?

O que já foi feito até agora é só por si impressionante. Depois da indústria ter colapsado, muitas empresas conseguiram dar a volta e renasceram das cinzas. O futuro está na aposta na qualidade, no serviço e em pequenas produções, mas muito especializadas. É nisso que Portugal é bom e deve continuar a apostar. As empresas têm de interpretar os nichos de mercado, como fez a Tintex com a sustentabilidade, ou outras empresas com tecidos de alta tecnicidade.

E quanto à moda, vê futuro para marcas e designers portugueses?

Existem alguns designers portugueses de sucesso, mas ainda são excepções. O povo português é muito tímido, em Portugal toda a gente se veste de uma forma muito discreta e educada, e isso reflete-se na moda. Os portugueses não são capazes de “gritar”, e para vencer na indústria da moda é preciso fazer-se ouvir bem alto. Penso que atualmente uma marca internacional dificilmente investe na moda portuguesa.

Que fazer, então, para mudar essa percepção?

O sistema de formação é o primeiro passo. Depois é preciso que o Estado apoie as marcas mais jovens. E acima de tudo é necessária uma mudança de mentalidades. Aproveitei estes dias no Porto para ir a Serralves ver a exposição da Joana Vasconcelos. Não conhecia muito bem o trabalho dela, mas adorei, porque ela sabe tirar partido da cultura portuguesa, com o galo e o crochet, por exemplo, mas também sabe fazer-se ouvir, faz um statement muito claro e não passa despercebida. A moda devia seguir este exemplo.

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