7 novembro 18
Covilhã

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Como o VW Carocha Têxtil encantou Costa e Marcelo

O fantástico Carocha Têxtil – cujo making of é documentado neste video –  foi a estrela do stand da Covilhã na última BTL  e uma ajuda decisiva para ele ter sido eleito o melhor de toda a feira de turismo de Lisboa. Mas é também o cartão de visita do New Hand Lab, um projeto liderado por Francisco Afonso, que transformou os 10 mil m2 daquela que era a mais antiga fábrica de lanifícios da Covilhã numa colmeia de criadores e num palco mutifacetado das mais variadas manifestações artísticas.

CarochaTextil

Na BTL, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa não resistiram à tentação de espreitarem pela janela para o interior do VW carocha revestido a lã, onde estavam instalados ecrãs de computador que passavam filmes que documentavam os tempos áureos da industria de lanifícios na Covilhã, uma cidade que acertava a hora pelas sirenes de 140 fábricas laneiras, que empregavam mais de seis mil trabalhadores e funcionava ao ritmo dos seus cerca de mil teares mecânicos.    

Nascida em 1853 e baptizada com o nome do seu fundador, a velha António Nunes de Sousa atravessou todo o século XX espalhando prosperidade à sua volta, mas logo após a viragem do milénio não aguentou as ondas de choque da terrível crise que dizimou grande parte da fileira dos lanifícios e viu-se obrigada a fechar as portas.

“As insolvências em série de clientes nossos abalaram a estrutura financeira da empresa e levaram o meu pai a decidir parar enquanto era tempo. Pagamos as indemnizações a todos os 66 trabalhadores, bem como os ordenados até eles começarem a receber o subsidio de desemprego. E ainda conseguimos arranjamos colocação para alguns”, recorda Francisco Afonso, filho de Júlio Afonso, o último dono desta empresa centenária.

As máquinas, stocks e edificio da mais antiga fábrica de lanifícios da Covilhã mantiveram-se adormecidos, como que entre parêntesis, até que há cinco anos, Francisco Afonso resolveu reconverter num templo à criatividade e cultura aqueles 10 mil m2 no vale da Ribeira da Carpinteira, onde durante mais de um século se produziram fios e tecidos.

“Decidimos dar vida a este espaço, onde promovemos tudo o que de bom se faz na nossa terra, animados pela ideia de manter o património vivo e de pé”, sintetiza Francisco, 60 anos, que durante toda a sua vida profissional se encarregou da manutenção técnica da fábrica que agora dá pelo nome de New Hand Lab.

Com uma programação cultural própria, o New Hand Lab alberga oficiais de artes diversas e é palco de espetáculos de música, teatro, ou dança, que sempre tiram partido do local – os tecidos em armazém podem ser usadas como cortinas, stocks arrumados em caixas servem como paredes para construir espaços à medida  e a música mínima e repetitiva dos teares a trabalharem foi já a banda sonora de um bailado.

Foi por um daqueles acasos em que a vida é fértil que o VW carocha de 1954, revestido a lã em 2013, acabou por ser o involuntário manifesto deste segundo fôlego de uma das mais emblemáticas fábricas da lanifícios da Covilhã.

Os alunos do curso de Design de Moda da UBI perguntaram a Francisco Afonso se ele não queria apresentar um stand deste seu projeto num evento que estavam a organizar.

Ora sucede que naquele preciso momento ele se preparava para restaurar um dos carochas que herdara do pai (que ao longo da sua vida teve 11 veículos deste modelo, desde o primeiro, com motor Porsche) e numa sinas que juntou as duas coisas teve a ideia de o transformar o carro num stand, com a ajuda dos autores que à época já estavam a bordo deste projeto  – Ana Almeida (professora de Química na UBI e autora do Petrus que está no lugar do condutor), MEG-Maria Eugénia Gomes (a criadora do Observador, uma espécie de periscópio que olha para todos os lados, atento e vigilante, a partir do tejadilho), o fotógrafo João Pedro Silva, o designer Miguel Gigante, o sketcher João Rui Frade, e o próprio Francisco Afonso, a alma pater do New Hand Lab.   

 

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