12 Julho 2018
Comércio

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Centros comerciais portugueses estão para ficar

Os centro comerciais portugueses estão bem e recomendam-se (por enquanto), segundo um estudo da consultora CBRE sobre o “Fim dos centros comerciais ou início de uma nova geração?”. Esta análise ao futuro dos centros comerciais em Portugal foi feita na sequência do encerramento em massa de centros comerciais nos EUA, uma conjuntura que tem levantado questões sobre a possibilidade de esta tendência vir a afetar o mercado europeu.

De acordo com a consultora, o caso norte-americano não se deverá repetir, nos próximos anos, em Portugal, uma vez que, como revela o relatório, “o comércio norte-americano é muito distinto do europeu”. Factores que divergem entre as duas realidades são, por exemplo, explica a CBRE, a densidade comercial (que na Europa é, em média, de 1,2 m2/habitante, e nos Estados Unidos é quatro vezes superior), a obsolescência da oferta (os primeiros centros comerciais norte-americanos desenvolveram-se nos anos 50 e em Portugal mais de 60% da área foi inaugurada após o ano 2000), o tenant mix (nos Estados Unidos, grandes armazéns e hipermercados representam 46% da Área Bruta Locável (ABL) dos centros comerciais, não excedendo os 30% em países como Portugal, Reino Unido e Espanha) e a oferta de áreas de restauração e lazer (que ocupam 12% destes espaços nos EUA e cerca de 20% no Reino Unido e Espanha).

Assim, o mercado nacional mostra mesmo, diz a CEBRE, uma tendência oposta: “Em 2017, as vendas nos centros comerciais registaram um acréscimo de 8,4% e o número de visitantes (“footfall”) aumentou 0,5%, após três anos de queda”. Além disso, o mercado de investimento em centros comerciais vive um dinamismo sem precedentes, tendo sido transacionados, só no primeiro trimestre de 2018, quatro centros comerciais, num valor acumulado de 673 milhões de euros. Atualmente, encontram-se em comercialização outros 10 centros comerciais, pelo que a consultora estima que “ano de 2018 irá certamente registar o maior volume de investimento no formato de centros comerciais alguma vez observado em Portugal”.

Ainda que o momento seja de otimismo para o mercado nacional, a CBRE acredita não existirem “quaisquer dúvidas de que o setor vive uma fase de grande transformação”, que se deve não só à proliferação do comércio eletrónico, mas também a uma profunda mudança de mentalidade. Neste contexto, “é inevitável a adaptação dos centros comerciais”, adianta a consultora no relatório, no qual se pode ler que “os centros comerciais, tal como os conhecemos nos últimos 30 anos em Portugal, vão acabar, dando lugar a uma nova geração de centros”. E fica o alerta: “os centros comerciais que não acompanharem rapidamente esta mudança, estão condenados ao encerramento”.

O comércio eletrónico é um elemento-chave neste momento de mudança e tem tido um impacto maior em países como os Estados Unidos, onde de acordo com a Euromonitor este tipo de comércio representou 23% das vendas de comércio em 2017 (apenas ultrapassado no ranking pelo Reino Unido). Já em Portugal, o comércio eletrónico tem vindo a desenvolver-se mais lentamente, representando apenas 5% das vendas do comércio a retalho, o que se traduz num menor impacto nas lojas físicas.

“Não há dúvida de que o comércio eletrónico é uma força disruptiva que obriga a mudar o chip para manter a competitividade”, nota Cristina Arouca, diretora de research da CBRE Portugal, acrescentando que “vai ser cada vez mais difícil convencer os consumidores a deslocarem-se aos centros comerciais”. Neste contexto, Cristina Arouca acredita que “a digitalização, a experiência de compra no centro e os serviços de conveniência são chaves para o futuro do setor”.

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