18 Setembro 18
Moda

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Ayres Gonçalo: o português que quer vestir o 007

É em 2010 que decide abrir em Portugal a sua primeira loja em nome próprio mas a verdade é que nos seis anos que se sucederam a essa data, Ayres Gonçalo andou a saltitar entre vários pontos do globo, sempre a acumular conhecimento para se tornar no melhor alfaiate possível, e foi num desses percursos que se encontrou frente a frente com o príncipe Carlos de Inglaterra, a quem tirou as medidas e fez um fato.

Mas no que diz respeito aos ícones britânicos, confessou numa entrevista à Sapo Lifestyle, ainda não está satisfeito: falta-lhe realizar o sonho de vestir o James Bond.

Na Ayres Bespoke Tailor, localizada no nº 22 da Praça Dona Filipa de Lencastre, no Porto, e da qual é proprietário, um blazer pode custar 1500 euros e as camisas 150, preços que podem disparar quanto mais selecionados forem os tecidos.

Pode parecer exagerado mas a verdade é que, mas nas palavras de Ayres Gonçalo, as suas peças são os Rolls Royce dos fatos.

Feitas à medida e de forma totalmente artesanal – daí o nome, que deriva da técnica bespoke tailoring, onde tudo é feito de forma manual –, com uma arte que poucos possuem, são peças de luxo que primam pela excelência, elegância, sofisticação e qualidade e que por isso têm como público-alvo o público masculino, por norma o executivo e o noivo, entre os 25 e os 80 anos, de classe alta e média-alta.

Actualmente, para além de Ayres, trabalham na loja duas costureiras e mais um pessoa, que se dedica a fazer as camisas e os sapatos.

A paixão de Ayres Gonçalo começa desde cedo, numa vida sempre ligada à costura, não fosse o seu avô, Ayres da Silva Carneiro, um grande alfaiate da Invicta e dono da Ayres Alta Costura, localizada em plena baixa da cidade.

Do avô herdou o nome mas, mais importante, o gosto pela arte dos fatos por medida.

“Apreciava o meu avô a trabalhar e sentava-me ao lado dele a ver. Fui fazendo experiências e fui ganhando a paixão pela alfaiataria.”

Aos 16 anos começa a trabalhar em part-time ao lado do avô e pouco tempo depois, em 2004,  viaja até Madrid para ingressar na Sociedad de Sastres de España.

Já com o certificado de Cortador na mão muda-se para Londres, para a prestigiada Savile Row, a famosa rua londrina onde estão instaladas alfaiatarias com séculos de tradição e savoir-faire, e arranjou trabalho na Gieves & Hawkes, uma marca de luxo inglesa que, ao longo dos anos, vestiu figuras de renome como Winston Churchill, Charlie Chaplin, Ian Fleming, Michael Jackson, David Beckham, Mikael Gorbachev ou Bill Clinton e que já recebeu três Royal Warrants, um selo de aprovação atribuído pela realeza a determinadas empresas que forneçam, há pelo menos cinco anos, bens ou serviços à Casa Real.

Foi aí, com o mestre Andrés Gomez que, em tempos, teve como aprendiz o designer de moda Alexander McQueen, que aprendeu a disciplina e a técnica do corte, da forma e da proporção,  e que teve a oportunidade de, com 29 anos – agora tem 36 –, fazer um fato para  o príncipe Carlos de Inglaterra, aquele que considera ser um dos momentos mais importantes da sua carreira.

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“O príncipe Carlos foi convidado para ir comemorar os 200 anos dos Royal Warrants. Na altura decidiu fazer um fato e quem estava ao lado dele era eu. Tive essa sorte. Fui eu que lhe tirei as medidas e fui eu que arranquei. Nesse momento as mãos tremiam, suavam e toda a equipa estava tensa. Sem dúvida que foi uma experiência inacreditável. Estamos a falar do futuro rei de Inglaterra”, recorda.

Em 2010 é convidado para ir para trabalhar para a Michael Andrews Bespoke, em Nova Iorque, e divide o seu tempo entre a big apple e Hong Kong.

E aí que toma uma das decisões mais importantes: regressar a casa e começar o seu negócio, que teve sucesso instantâneo e que hoje o faz sonhar com voos cada vez mais altos.

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