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É em 2010 que decide abrir em Portugal a sua primeira loja em nome próprio mas a verdade é que nos seis anos que se sucederam a essa data, Ayres Gonçalo andou a saltitar entre vários pontos do globo, sempre a acumular conhecimento para se tornar no melhor alfaiate possível, e foi num desses percursos que se encontrou frente a frente com o príncipe Carlos de Inglaterra, a quem tirou as medidas e fez um fato.
Mas no que diz respeito aos ícones britânicos, confessou numa entrevista à Sapo Lifestyle, ainda não está satisfeito: falta-lhe realizar o sonho de vestir o James Bond.
Na Ayres Bespoke Tailor, localizada no nº 22 da Praça Dona Filipa de Lencastre, no Porto, e da qual é proprietário, um blazer pode custar 1500 euros e as camisas 150, preços que podem disparar quanto mais selecionados forem os tecidos.
Pode parecer exagerado mas a verdade é que, mas nas palavras de Ayres Gonçalo, as suas peças são os Rolls Royce dos fatos.
Feitas à medida e de forma totalmente artesanal – daí o nome, que deriva da técnica bespoke tailoring, onde tudo é feito de forma manual –, com uma arte que poucos possuem, são peças de luxo que primam pela excelência, elegância, sofisticação e qualidade e que por isso têm como público-alvo o público masculino, por norma o executivo e o noivo, entre os 25 e os 80 anos, de classe alta e média-alta.
Actualmente, para além de Ayres, trabalham na loja duas costureiras e mais um pessoa, que se dedica a fazer as camisas e os sapatos.
A paixão de Ayres Gonçalo começa desde cedo, numa vida sempre ligada à costura, não fosse o seu avô, Ayres da Silva Carneiro, um grande alfaiate da Invicta e dono da Ayres Alta Costura, localizada em plena baixa da cidade.
Do avô herdou o nome mas, mais importante, o gosto pela arte dos fatos por medida.
“Apreciava o meu avô a trabalhar e sentava-me ao lado dele a ver. Fui fazendo experiências e fui ganhando a paixão pela alfaiataria.”
Aos 16 anos começa a trabalhar em part-time ao lado do avô e pouco tempo depois, em 2004, viaja até Madrid para ingressar na Sociedad de Sastres de España.
Já com o certificado de Cortador na mão muda-se para Londres, para a prestigiada Savile Row, a famosa rua londrina onde estão instaladas alfaiatarias com séculos de tradição e savoir-faire, e arranjou trabalho na Gieves & Hawkes, uma marca de luxo inglesa que, ao longo dos anos, vestiu figuras de renome como Winston Churchill, Charlie Chaplin, Ian Fleming, Michael Jackson, David Beckham, Mikael Gorbachev ou Bill Clinton e que já recebeu três Royal Warrants, um selo de aprovação atribuído pela realeza a determinadas empresas que forneçam, há pelo menos cinco anos, bens ou serviços à Casa Real.
Foi aí, com o mestre Andrés Gomez que, em tempos, teve como aprendiz o designer de moda Alexander McQueen, que aprendeu a disciplina e a técnica do corte, da forma e da proporção, e que teve a oportunidade de, com 29 anos – agora tem 36 –, fazer um fato para o príncipe Carlos de Inglaterra, aquele que considera ser um dos momentos mais importantes da sua carreira.
“O príncipe Carlos foi convidado para ir comemorar os 200 anos dos Royal Warrants. Na altura decidiu fazer um fato e quem estava ao lado dele era eu. Tive essa sorte. Fui eu que lhe tirei as medidas e fui eu que arranquei. Nesse momento as mãos tremiam, suavam e toda a equipa estava tensa. Sem dúvida que foi uma experiência inacreditável. Estamos a falar do futuro rei de Inglaterra”, recorda.
Em 2010 é convidado para ir para trabalhar para a Michael Andrews Bespoke, em Nova Iorque, e divide o seu tempo entre a big apple e Hong Kong.
E aí que toma uma das decisões mais importantes: regressar a casa e começar o seu negócio, que teve sucesso instantâneo e que hoje o faz sonhar com voos cada vez mais altos.