15 Setembro 2017
Heimtextil

Carolina Guimarães

As soluções e oportunidades de um futuro urbano, segundo a Heimtextil

O pequeno auditório do Centro Cultural de Vila Flor foi mesmo quase pequeno para albergar os designers, empresários e jornalistas que foram assistir à apresentação de tendências da Heimtextil do próximo ano. “The future is urban” (“O futuro é urbano”) é o tema da feira que, com esta apresentação, pretende ajudar os empresários portugueses a perceber o que vai estar a dar relativamente aos têxteis-lar e decoração.

O painel de apresentação foi constituído por Ricardo Costa, vereador da divisão de desenvolvimento económico da Câmara Municipal de Guimarães, Cristina Terra da Motta, representante da Messe Frankfurt em Portugal, Meike Kern, directora dos têxteis-lar da Heimtextil e Anne Marie Commandeur, designer de tendências do certame.

Ricardo Costa salientou que, no ano passado, da comitiva de 87 empresas portuguesas na Heimtextil, 51 eram de Guimarães, reforçando que a câmara quer criar o futuro e trabalhar em proximidade com as empresas para continuar o crescimento do sector têxtil no município, lançando até um desafio: “Eu quero que Guimarães seja o centro nacional de design. Temos tudo o que é preciso – a cultura, o tecido empresarial, o centro de conhecimento. É o próximo passo”, referiu.

A representante da Messe Frankfurt em Portugal mostrou-se muito contente com a adesão que esta apresentação teve – a maior desde que, em 2014, começaram a realizar o evento – demonstrando cada vez mais interesse das empresas portuguesas neste segmento de mercado e da importância deste tipo de acontecimentos, que ajudam os criativos a perceber as tendências dos próximos anos.

Meike Kern mostrou os números esperançosos relativamente ao crescimento da indústria têxtil não só em Portugal como na Europa, assim como a participação crescente de empresas na Heimtextil desde 2010. A directora deu também a conhecer alguns das novas áreas do certame, tais como o EXPO, um espaço para quem procura contratos por segmento, por exemplo para unidades hoteleiras, ou o “All about pets” (“Tudo sobre animais”), onde se encontram têxteis e acessórios para animais, uma tendência crescente nos dias de hoje.

Anne Marie Commandeur ficou responsável pela apresentação das tendências de lifestyle e de design, todas baseadas no tema da feira “The future is urban”. As propostas são todas centradas na perspectiva de que, até ao final do século, a grande maioria da população vai viver em grandes centros urbanos, o que traz desafios e oportunidades a todos os níveis.

A apresentação de tendências de lifestyle foi feita com base em quatro grandes tópicos: o espaço flexível, o espaço saudável, o espaço refeito e o espaço construído.

O espaço flexível advém do facto de existir cada vez menos espaço para se morar nas cidades que, ao contrário do número de pessoas, não crescem. Os apartamentos passam por isso a ser flexíveis, onde se cria a tendência “micro” e “modular”: espaços e peças mutantes, com várias funcionalidades, que se fecham, abrem e alteram de forma a criar conforto e espaço em áreas pequenas. O conceito “nómada” também se acentua, para todos aqueles que preferem não assentar e de onde advém a necessidade de ter todos os bens necessários num espaço confinado e facilmente transportável. Por fim, dentro deste conceito, foi também destacado o “co-working” e o “co-living” – espaços partilhados, tanto para viver como para trabalhar, que precisam de ser, ao mesmo tempo, de todos e de um só.

A necessidade de um “espaço saudável” advém de cada vez as pessoas viverem mais em espaços interiores e fechados, não tendo grande contacto com a natureza e com o exterior. Daí surge a “cromoterapia” que, através da cor, pretende relaxar ou despertar os indivíduos e ter efeitos na sua saúde. A “biofilia” trata-se precisamente de trazer a natureza para dentro dos espaços, através de pequeno jardins interiores ou verticais e janelas com flores. A “purificação” conclui o trio dentro deste capítulo – mais gente nas cidades significa mais poluição, o que vai levar a uma crescente necessidade de purificar o ar dentro das nossas casas e espaços comuns.

A reciclagem é o principal mote do conceito “espaço refeito”. A “reutilização do lixo”, numa aplicação quase literal do provérbio “one man’s garbage is another man’s gold” (“O lixo de um, é o ouro de outro”), é um dos princípios aplicados e onde se alia aos conceitos de ecossistemas auto-sustentáveis e casas waste-free (“sem lixo”). A “colheita” de materiais naturais é também uma alterativa às soluções não sustentáveis, onde também se procuram alternativas para as matérias-primas normalmente cultivadas, como o algodão e a caxemira. A “reparação” é a última palavra de ordem deste capítulo, numa máxima antiga que tem caído em desuso: recuperar aquilo que está estragado, ao invés de deitar fora.

O último conceito apresentado este ano foi “o espaço construído”, onde “o movimento de criação” teve especial destaque: com as novas tecnologias, quase todos podem criar os seus próprios produtos, tendo consciência dos materiais que usam e seguindo a filosofia “do it yourself” (“faça você mesmo”), para que ninguém tenha produtos iguais. Daí parte também “o sentimento de comunidade” que se cria à volta deste processo, uma vez que existe uma partilha constante de métodos, softwares, conhecimentos e materiais. O “crescimento dos artesões” é o último aspeto referidos neste capítulo, que volta a pegar num conceito antigo e traze-lo para a actualidade: numa luta contra as produções massivas e o consumismo, os produtos feitos por artesãos, únicos e trabalhosos voltam a ter valor de mercado em todos os sectores – quer seja na moda, na decoração ou até na comida.

As paletas de cores mais usadas na próxima época também foram analisadas: “relaxar / recarregar”, com tons avermelhados e azulados; “perfeição imperfeita”, com cores facilmente relacionadas com a natureza; “soft minimal”, em tons pastel; e “adaptar e reunir”, com cores primárias e fortes.

Todas estas tendências – coordenadas pelo estúdio de design FranklinTill – podem ser consultadas no site da Heimtextil, na secção “Theme Park”. Poderão também ser vistas in loco, no espaço com o mesmo nome, aquando do certame que se vai realizar de 9 a 12 de Janeiro do próximo ano, em Frankfurt.

Partilhar