O verde, ecológico, sustentável e amigo do ambiente é levado a sério logo desde a entrada da Funkhaus, a antiga estação central de Berlim Oriental que é a nova casa do Ethical Fashion Show, a Meca da green fashion e uma das rising stars da Fashion Week da capital alemã, onde decorre até esta 5ª feira com a presença de cinco marcas portuguesas. Para poupar o planeta Terra, o papel identificativo que toda a gente – expositores, compradores e jornalistas – trazem ao pescoço não está envolvido numa capa de plástico. Facilitar aos retalhistas o acesso a produtos garantidamente sustentáveis é um dos objetivos confessos da Messe Frankfurt, que faz um rigoroso escrutínio prévio dos candidatos a expositores, inquirindo-os sobre assuntos tão diversos como a sua eficiência energética, transparência na cadeia de abastecimentos, certificações dos fornecedores, pegada ecológica, etc, etc, etc. Apesar destes rigores, o número de empresas a passar no crivo não pára de aumentar. Em três anos a feira viu o número de expositores multiplicar por três, saltando de 60 para os atuais 180 – entre os quais cinco empresas portuguesas, que indubitavelmente sabem trabalhar a insustentável leveza da moda sustentável. Convidamo-lo a conhecer, a seguir, as roupas multifuncionais de Daniel Pais, os sacos de linho e lona de algodão de Sofia Mazurca, os sapatos feitos de airbags e pneus reciclados do casal Perez, as cestas de palha Toino Abel e o calçado feito a partir de bancos de comboio pela Lucília, Vieira e Lima.
Quatro em um: o ovo de Colombo de Daniela Pais Ao escrever que Daniela Pais adivinhou o futuro, sei que para não correr o risco de parecer um exagerado – tal como os publicitários -, tenho de lhe contar que há 12 anos esta licenciada em Moda pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa resolveu completar a sua formação com um mestrado na Academia de Eindhoven, escolhida por ser das raríssimas escolas europeias que leccionavam cursos em Design Sustentável e Social. Na Holanda, procurou a resposta a dois porquês – por que é que se consome tanta moda e por que é que há tanto desperdício – e encontrou uma solução para estes dois fenómenos no conceito Elementum, a sua marca de moda verde Elementum. De então para cá desenha peças multifuncionais, que se podem adequar a quatro funções. “As pessoas consomem menos e as roupas duram mais. É como se tivessem comprado quatro peças“, explica.
Sara Mazurca, a bióloga que se apaixonou pela têxtil Sara Mazurca tinha 29 anos, dois filhos, e estava no Instituto Gulbenkian de Ciência a concluir um doutoramento em Biologia, em que estudava a evolução de desenvolvimento genético da mosca da fruta, quando percebeu que não era aquilo que queria. Parou para pensar. Concluiu que gostava muito de fazer tricot e era fascinada por fibras têxteis. Podia ser por aí. Como precisava de um ordenado ao fim do mês foi oferecer-se à retrosaria onde se abastecia. Passou do laboratório para o balcão, de investigadora a vendedora. Seis meses volvidos, o marido, um biólogo reconvertido em mestre de cerveja artesanal, perguntou-lhe se ela não podia fazer-lhe um saco de pano com o logo da marca (à época Aroeira, agora está na Musa) dele estampada, para não ter de entregar as cervejas aos clientes em sacos do supermercado. Foi o ponto de viragem. Começou a produzir sacos, estampados com escaravelhos, em linho e lona de algodão, o mais possível sustentáveis e amigos do ambiente. Nascia a Mazurca.
Os sapatos feitos de airbags e pneus reciclados do casal Perez Como é que Paula e Alex Perez, um casal luso-espanhol com formação em Matemáticas Aplicadas, acabaram a vender em Berlim sapatos feitos a partir de fibra de ananás? A resposta está na Paula que é vegan militante e não queria usar sapatos de pele de animal. A NAE Vegan Shoes, que este ano já vai faturar mais de 850 mil euros, nasceu para resolver este problema desta matemática, que também trabalha na área de Gestão de Informação da PT. A coqueluche, que atrai hordas de compradores ao stand na empresa dos Perez no Ethical Fashion Show, é o modelo Etna, produzido a partir de airbags e pneus reciclados (na foto). Mas os sapatos feitos a partir de oito garrafas PET recicladas também estão a fazer sucesso. “O mundo está a mudar. No princípio, há uns oito anos, quando chegávamos com pequenas encomendas às fábricas de S. João de Madeira, diziam: lá vêm os maluquinhos. Agora já nos levam a sério, apesar de terem de mudar os processos de produção para satisfazer as nossas necessidades”, conta Paula, acrescentando que abrir uma loja própria em Lisboa está nos seus planos.
A ideia romântica das cestas de palha Toino Abel Está a ver uma ninhada de cachorros amorosos? Olha-se para eles e dá logo vontade de levar um para casa…. Pois passa-se exactamente o mesmo com as cestas Toino Abel, da dupla Sara Miller/Nuno Henrique. Toino era o avô do Nuno. Abel o bisavô. Durante pelo menos quatro gerações consecutivas, produziam as tradicionais cestas de palha portuguesas, na aldeia de Coz, na região de Leiria. Artista plástico, que durante cinco anos trabalhou e viveu em Berlim, Nuno teve a ideia romântica de homenagear o avô e o bisavô, não deixar morrer uma arte, transformando-a num negócio, com a ajuda da namorada, Sara, uma designer de moda com um curriculum de 15 anos em marcas como a Zara, Massimo Dutta, Salsa ou WSGN. O resultado são as cestas de palha Toino Abel, declinadas em quatro tamanhos e cerca de 80 modelos, com look tradicional e requintes como fivelas de pele de curtimento vegetal ou o bolso interior da minibag (a campeã de vendas) com o tamanho adequado ao iPhone – e a sofisticação de serem vendidas embaladas num saco que pode ser transformado em forro.
Bancos de comboio da CP transformados em sapatos Solas com 60% de plástico no fuel, ou seja que não foi produzido a partir de petróleo nem tão pouco de plantas que possam ser usadas na alimentação humana, são uma das novidades que a Ultrashoes trouxe para Berlim. A outra são os sapatos feitos a partir de bancos de comboio reciclados. Ultrashoes é o pseudónimo para o segmento de moda sustentável da Lucília, Vieira e Lima, a fábrica de calçado de Romariz que é a veterana portuguesa do Ethical Fashion Show de Berlim. Estreou-se há quatro anos, apresentando calçado biodegradável, mas percebeu à primeira que não era bem aquilo que aquela clientela queria – mas sim calçado vegan e reciclado. Corrigiu o tiro e a medida do sucesso é que não mais perdeu uma edição desta feira. “Vimos para dar a conhecer que fabricamos sapatos ecológicos. Fornecemos três expositores aqui presentes. Já fazemos uns 15% do nosso volume de negócios neste segmento. O que muito bom porque há três anos valia zero”, explica Paulo Lima, um engenheiro de telecomunicações reconvertido ao calçado.
A insustentável leveza da moda sustentável
O verde, ecológico, sustentável e amigo do ambiente é levado a sério logo desde a entrada da Funkhaus, a antiga estação central de Berlim Oriental que é a nova casa do Ethical Fashion Show, a Meca da green fashion e uma das rising stars da Fashion Week da capital alemã, onde decorre até esta 5ª feira com a presença de cinco marcas portuguesas. Para poupar o planeta Terra, o papel identificativo que toda a gente – expositores, compradores e jornalistas – trazem ao pescoço não está envolvido numa capa de plástico. Facilitar aos retalhistas o acesso a produtos garantidamente sustentáveis é um dos objetivos confessos da Messe Frankfurt, que faz um rigoroso escrutínio prévio dos candidatos a expositores, inquirindo-os sobre assuntos tão diversos como a sua eficiência energética, transparência na cadeia de abastecimentos, certificações dos fornecedores, pegada ecológica, etc, etc, etc. Apesar destes rigores, o número de empresas a passar no crivo não pára de aumentar. Em três anos a feira viu o número de expositores multiplicar por três, saltando de 60 para os atuais 180 – entre os quais cinco empresas portuguesas, que indubitavelmente sabem trabalhar a insustentável leveza da moda sustentável. Convidamo-lo a conhecer, a seguir, as roupas multifuncionais de Daniel Pais, os sacos de linho e lona de algodão de Sofia Mazurca, os sapatos feitos de airbags e pneus reciclados do casal Perez, as cestas de palha Toino Abel e o calçado feito a partir de bancos de comboio pela Lucília, Vieira e Lima.