mudança de rumo
Foi bailarina durante dez anos, mas a disciplina da dança tornou-se incompatível com o desejo de viver o mundo
Tânia Nicole
T39 - Janeiro 19
Emergente

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Conhecer o mundo
“O importante é estar informada. Ir a um uma exposição. Viajar para ouvir um DJ. Saber em que mundo as pessoas estão”

Tânia Nicole, 27 anos, é uma designer tipo mata-borrão, que faz questão de estar sempre com os todos os seus sentidos bem abertos, a absorver e metabolizar tudo quanto se passa à sua volta, que mais tarde traduz nas roupas que desenha

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o tempo em que se escrevia com uma caneta de tinta permanente era indispensável o uso de um mata-borrão que absorvia a tinta fresca, impedindo que a escrita ficasse borratada – e por isso ilegível. A invenção e popularização das esferográficas, simbolizada pela Bic, passou a certidão de óbito ao objeto mata-borrão — mas não à atitude mata-borrão.

“O mais importante é manter-me sempre informada. Ir a uma exposição ou a um concerto. Viajar para ouvir um DJ. Saber o mundo em que as pessoas estão”, resume Tânia Nicole Fonseca, 27 anos, que há dois anos se despediu da empresa onde trabalhava para embarcar na aventura de construir a sua própria marca (Nycole).

Tânia é uma designer tipo mata-borrão, que faz questão de estar sempre com os todos os seus sentidos bem abertos, a absorver e metabolizar tudo quanto se passa à sua volta, que mais tarde traduz nas roupas que desenha.

Nasceu em Leiria, em 1991, filha mais nova de um casal que tem uma empresa de distribuição de bacalhau. A queda para as artes adivinhava-se, pois aprendeu a ler, escrever e dançar ao mesmo tempo. Foi bailarina durante dez anos, até que, a meio da adolescência, a disciplina e exigência da dança se tornaram incompatíveis com o seu desejo de conhecer e viver o mundo.

Aos 15 anos, insatisfeita com o curso de Artes que frequentava, emigrou para Lisboa, instalando-se em casa da irmã Elsa, na Costa da Caparica, para estudar Design de Moda numa escola profissional (Magestil), uma opção que a mãe, que tinha sido costureira em solteira, desaconselhou vivamente.

“Ela tinha razão numa coisa. A moda dá muito trabalho. Mas é como tudo. Ou se gosta do que se faz e não custa, ou não se gosta e então é uma grande seca”, reconhece Tânia, que tirou ainda um curso de Produção de Moda na ETIC, enquanto fazia o inventário de figurinos e adereços no Dona Maria II. “Já dava para pagar as contas. Nunca fui de estar muito tempo parada”, explica.

Até aos 20 anos, fez uma formação transversal na moda, petiscando desde a fotografia até à preparação de desfiles, passando pelo styling, edição de revistas etc, etc. Até que em 2011, resolveu fazer Design de Moda da ESAD.

“Já sabia o que queria. Vinha super-focada, não andava a ver o que ia acontecer. Queria ser designer de moda”, conta Tânia. O tempo não demorou a dar-lhe razão, sob a forma de uma chuva de distinções –  3ª classificada no Nespresso Designers Contest (outubro 2013),  Melhor Coordenado Feminino no Acrobactic (junho 2014) e 1º prémio no ACTE (julho 2015) -,  que lhe deram força (e dinheiro) para prosseguir mostrando as suas coleções no Sangue Novo e no Bloom.

Completou a formação já a trabalhar como designer de moda na Extent, que lhe abriu portas e conhecimentos a montante e jusante – nas fábricas de malhas, tecidos e confeccionadores, nas marcas como a Ralph Lauren, Barbour e Jigsaw, e também em feiras, como a Premiére Vision Paris, a Milano Unica ou Pitti Uomo, onde vai estar este mês pela primeira vez como expositora.

Há dois anos exatos tomou a decisão mais difícil da sua ainda curta vida, a de se despedir da Extent para apostar na construção da sua marca. Um passo arriscado (“na moda o retorno é muito complicado”), dado com uma rede (os pais prometeram dar-lhe apoio financeiro) que acabou por não ser necessária pois no entretanto ela foi convidada para dar aulas na ESAD e no IPCA.

A vida tem-lhe corrido bem. Vendeu para o Japão logo no seu primeiro showroom em Paris. Promoveram-na à passarela principal do Portugal Fashion. Uma presença pop up na Wrong Weather foi o passaporte para vender na Farfetch. E aposta na moda masculina revelou-se acertada (“há mais espaço no mercado, mais caminho para explorar”).

“Homem é mais clássico. Gosto de trabalhar pequenos detalhes, de misturar muitas coisas, como de fazer um blazer com riscas desportivas de lado”, diz Tânia, uma designer tipo mata-borrão e com estilo próprio (o de acrescentar pormenores desportivos e de streetwear a peças clássicas) que odeia rotinas (“Não consigo estar muito tempo estagnada. Quando sinto que não estou a aprender nada de novo começa a ficar aborrecida”) e sonha apresentar a sua colecção na Semana de Moda de Paris.

Cartão Do cidadão

Família Os pais estão em Leiria, a irmã Elsa trabalha na Remax em Lisboa, ela vive no Porto, com Ariel, uma gata persa de pelo branco Formação Curso de Design de Moda, na ESAD, onde também fez o mestrado Casa Apartamento na Baixa do Porto  Carro Carrinha BMW  Portátil Mac Telemóvel iPhone 7  Hóbis Música (Antena 3) e quando tem tempo livre (o que é raro), ir e vir, de casa à Ribeira, a correr Férias No verão gosta de ficar por cá e ir aos festivais, no resto do ano viaja para fora, misturando prazer e trabalho Regra de ouro  “Estar sempre em cima dos acontecimentos, para saber em que mundo as pessoas estão”

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