Roupas divertidas
"Percebi que a generalidade da roupa de criança não era nada divertida"
Sandra Barradas
T27 Dezembro 2017
Emergente

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Foram as birras
Pode dizer-se que Sandra se tornou empresária por causa das birras da filha.

E estava Sandra assim, aparentemente posta em sossego, no duplo papel de mãe e ajudante do marido, quando as birras matinais da filha Sofia lhe deram o pretexto para voltar aos trapos, criando a Cherrypapaya.

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implificando a história, pode dizer-se que a Cherrypapaya nasceu e a Sandra Barradas, 46 anos, tornou-se empresária apenas porque Sofia (a sua filha mais velha) , quando tinha dois anos, passou por uma fase de birras – e só queria vestir roupas da Minnie ou da Hello Kitty.

Simplificando a História, diz-se que a I Guerra Mundial deflagrou na sequência do assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo, pelo nacionalista Gravilo Princip.

Sendo verdade que o homicídio do herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro e as birras matinais de Sofia foram, respetivamente, o gatilho do terrível morticínio de 19 milhões de pessoas e da criação de uma marca portuguesa de vestuário infantil, não é menos verdade que estes acontecimentos – um trágico, outro feliz, separados por um exato século – foram apenas a gota que transbordou um copo já cheio.

Sandra é uma engenheira têxtil que à época das birras da filha (algures em 2013) estava desejosa de voltar a um setor onde durante 15 anos vivera uma experiência rica variada. As birras de Sofia (que no entretanto se tornou uma das mais fotogénicas modelos da marca que involuntariamente ajudou a criar) foram apenas o pretexto.

“Percebi que a generalidade da roupa de criança não era nada divertida, e havia aqui uma oportunidade de negócio – a de criar uma marca de vestuário infantil à prova de birras matinais”, conta Sandra, que lançou a primeira coleção da Cherrypapaya (intitulada Sweet & Fresh) em janeiro de 2014, quando soube que estava grávida de Simone.

Mas para compreendermos melhor a história da Cherrypapaya temos de viajar no tempo até ao ano de 1971, quando o país se deixava iludir pela primavera marcelista e Sandra nasceu em Portalegre, filha de um casal de funcionários públicos.

A vocação pelos trapos começou a revelar-se logo nos primeiros anos da adolescência – acompanhava o trabalho de Ana Salazar e dos Maneis e apaixonou-se pelas coisas da Comme des Garçons – e foi confirmada quando no final do 9o ano, feito na ES Mouzinho da Silveira, os testes psicotécnicos apontavam para que ela seguisse Engenharia Têxtil.

O percurso estava traçado e ela percorreu-o com apenas um desvio. Aproveitando o atraso no início do ano letivo 89/90, provocado pela introdução da PGA, experimentou um trimestre a estudar Design, no IADE, disciplina que a encantou mas não ao ponto de a desviar da rota. “Primeiro, tinha de aprender a fazer as coisas”, que se licenciou em Engenharia Têxtil na UBI, e adorou não só o curso mas também os anos vividos an Covilhã.

Braga foi a nova escala do périplo. A especialização em Confeção do curso garantiu-lhe um estágio na Camilo Pinto, que trabalhava muito para a Levi’s. No final, foi surpreendida por um convite para ficar como diretora de produção. Aceitou e demorou-se quatro anos nesta empresa, que equivaleram a um doutoramento na indústria têxtil.

Seguiu-se o pós-doc, já no Porto, na Organtex, a maior agência têxtil do país, onde foi parar respondendo a um anúncio no jornal. Foram dez anos fantásticos. Os primeiros oito a trabalhar com a Adidas e a Nike (“Aprendi muito a trabalhar com a exigência e o rigor da Nike”, recorda Sandra). Os dois seguintes com clientes italianos, como a Armani Exchange.

Mas o sonho Organtex transformou-se num pesadelo quando os donos resolveram fechar a agência e lançar cerca de 200 pessoas para o desemprego. “Foi um grande choque”, reconhece Sandra, que passou a ajudar o marido na leiloeira que ele criara quando deixou o lugar de diretor financeiro de uma empresa do grupo Organtex.

E estava Sandra assim, aparentemente posta em sossego, no duplo papel de mãe e ajudante do marido, quando as birras matinais da filha Sofia lhe deram o pretexto para voltar aos trapos, criando a Cherrypapaya.
Apesar da criação de uma marca nunca ser um caminho fácil, as coisas começaram logo a correr bem. E Sandra, que acaba de abrir no Aviz (Porto) a primeira loja Cherrypapaya, continua com o entusiasmo em alta: “A nível de qualidade, não se encontra no mundo ninguém que faça melhor do que em Portugal”.

Cartão Do cidadão

Família Casada com Sérgio Marques do Santos (dono de uma leiloeira), têm duas filhas, Sofia, seis anos, e Simone, três anos  Formação Licenciada em Engenharia Têxtil (UBI), fez um MBA em Marketing na Católica Casa Andar em Leça da Palmeira (“para uma alentejana de Portalegre, viver em frente ao mar é um luxo”)  Carro Opel Moka Portátil Mac Telemóvel iPhone Hóbis Cozinhar, “tudo quanto tenha a ver com as miúdas” e viajar (on hold por falta de tempo) Férias ”Este ano estivemos em Lagos, instalados num sítio maravilhoso, chamado Casa Mãe” Regra de ouro “Detesto fazer qualquer coisa contra a minha vontade interior. Seguir o instinto é a minha regra”

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